O talento notável, o estilo de tocar inovador que foi obrigado a desenvolver após um evento trágico e a criação de vários standards jazz, tornaram Django Reinhardt num dos titãs na história do jazz e da guitarra.
Django Reinhardt é amplamente considerado um dos maiores guitarristas de todos os tempos. Descendente de uma família Manouche Romani, nasceu a 23 de Janeiro de 1910, em Liberchies, Bélgica, e o seu nome de baptismo é Jean Reinhardt. Cresceu numa caravana e foi introduzido à música desde muito cedo. O pai de Django era músico e Django aprendeu a tocar violino, banjo e guitarra quando era criança, acabando por tornar-se globalmente reconhecido pelas suas contribuições pioneiras no gypsy jazz, também conhecido como “jazz manouche” ou “gypsy swing”.
Aos 18 anos de idade, Django Reinhardt sofreu um acidente que alterou a sua vida, quando um incêndio deflagrou na sua caravana, queimando gravemente a sua mão esquerda. Apesar da mobilidade limitada do seu dedo anelar e mindinho, desenvolveu um estilo de tocar único, adaptando a sua técnica para acomodar a lesão. Isto envolveu a utilização de apenas dois dedos e o emprego de dedilhados e formas de acordes não convencionais. Uma espécie de Tony Iommi no jazz e mais um vibrante exemplo da resiliência do espírito humano.
Essa abordagem não convencial à guitarra está umbilicalmente ligada ao gypsy jazz, que combinava música tradicional cigana, swing e influências do jazz que, do outro lado do Atlântico, se entrincheirou em França na sequência do pós-guerra. As suas composições e improvisações demonstravam uma impressionante destreza técnica, inovação rítmica e engenho melódico. A forma como Reinhardt tocava guitarra incorporava arpejos rápidos como relâmpagos, corridas deslumbrantes no fretboard e fraseados imensamente expressivos. Na verdade, o seu som de assinatura permanece algo intocado até aos nossos dias.
Quintette du Hot Club de France
Django Reinhardt ganhou amplo reconhecimento e sucesso como membro da Quintette du Hot Club de France. Este conjunto de jazz, formado na década de 1930, apresentava Reinhardt na guitarra ao lado do violinista Stéphane Grappelli. O seu som característico misturava o virtuosismo da guitarra de Reinhardt com as melodias do violino de Grappelli, criando um estilo de jazz vibrante e influente.
Foi nesse contexto que desenvolveu, porventura, o seu período criativo mais influente: “Django Reinhardt and the Quintette du Hot Club de France”. Período esse retratado em “The Quintessential Django Reinhardt & Stephane Grappelli”, cujos temas foram gravados nessa mesma década de 1930 e apresentam Reinhardt e Grappelli acompanhados pelo vibrante trio que os acompanhava. O álbum mostra o som quintessencial do jazz cigano que Django Reinhardt popularizou e inclui algumas das suas composições mais famosas, tais como “Minor Swing”, “Djangology” e “Nuages”, que se tornaram standards de jazz e ainda hoje são tocadas e gravadas por vários músicos.
As gravações deste álbum realçam o virtuosismo da guitarra de Django Reinhardt, as suas capacidades inovadoras de improvisação e a interacção entre a sua guitarra e o violino de Grappelli. A capacidade de improvisação do quinteto, o ritmo contagiante, as melodias intrincadas e os solos dinâmicos de Reinhard e Grapelli captados neste álbum continuam a influenciar e a inspirar músicos de jazz e guitarristas em todo o mundo. E embora Django Reinhardt tenha lançado vários outros álbuns e gravações notáveis ao longo da sua carreira – e uma das mais reverenciadas é “Manoir de mes Rêves” (ou “Django’s Castle”) -, “Django Reinhardt and the Quintette du Hot Club de France” continua a ser um álbum de referência que exemplifica o seu estilo inovador e solidifica o seu lugar como uma figura pioneira no jazz e na música de guitarra.
De resto, Django Reinhardt continuou a actuar e a gravar durante a década de 1940. Em 1953, aos 43 anos de idade, morreu vítima hemorragia cerebral. Apesar da sua vida relativamente curta, as realizações musicais de Django Reinhardt continuam a ressoar e a inspirar músicos e audiências em todo o mundo. O impacto de Django Reinhardt no jazz e na guitarra não tem como ser exagerado. Revolucionou o conceito de solos de guitarra e introduziu uma abordagem nova e improvisada à guitarra de jazz. O estilo e a técnica de Reinhardt inspiraram gerações de músicos, e as suas contribuições lançaram as bases para o desenvolvimento da guitarra de jazz moderna. A sua influência estende-se a uma gama diversificada de géneros e o seu legado perdura no trabalho de inúmeros guitarristas.
“Django Reinhardt and the Quintette du Hot Club de France” não está publicado nas plataformas de streaming, daí sugerimos as Electrola Sessions, gravadas em Paris, entre 1936 e 37. É quase eléctrico!