Uma desajeitada banda jazz inspirou Mark Knopfler e os Dire Straits a gravarem uma das maiores canções de todos os tempos. Eis a história de “Sultans Of Swing”.
Mark Knopfler escreveu “Sultans of Swing” nos anos 70, muito antes dos Dire Straits lançarem a canção como o seu primeiro single numa major label, em 1978. Porque demorou tanto a ser gravada? Knopfler compôs o tema numa resonator e nunca ficou muito convencido com o seu trabalho. Até que, em ’77, comprou a sua primeira Stratocaster e experimentou tocar aquele endiabrado dedilhado que ainda hoje nos cativa, assim que ouvimos as primeiras notas. É Knopler que o diz, numa entrevista de 2008 com a Guitar World: «Ganhou vida quando a toquei naquela Strat de ’61, com novas progressões de acordes a surgirem de forma espontânea e tudo a ir ao seu lugar».
A canção foi gravada originalmente logo nesse ano de ’77, ano de formação dos Dire Straits, fazendo parte de uma demo tape registada nos Pathway Studios. O orçamento dessas sessões foi algo como 120 libras esterlinas. Quando a Phonogram assinou a banda, os Dire Strais foram para os Basing Street Studios gravar a versão que todos conhecemos. É uma canção bem upbeat (149 bpm), com a tónica em Ré menor e com recurso a tetracordes da cadência andaluz (escala frígia). Os solos, com os tão idiossincráticos dedilhados de Knopfler, são do outro mundo!
Mais terrena é a inspiração da canção, da história narrada. “Sultans Of Swing” retrata um episódio e uma banda jazz real que Knopfler viu num obscuro pub londrino. Numa noite chuvosa em Deptford, 1977, Knopfler entrou nesse pub para evitar uma tempestade que se aproximava e, possivelmente, beber uma pint enquanto esperava que o tempo melhorasse. No final da actuação, o frontman anunciou que se chamavam os Sultans of Swing (Sultões do Swing), Knopfler achou o contraste entre a desajeitada actuação e a pompa do nome uma delícia.
Knopfler saiu dali com a ideia lírica a germinar. Regressou a casa – apartamento no condado de Deptford que dividia com seu irmão mais novo David e com o baixista John Illsley – e, regressando às velhas melodias que tinha começado por criar na resonator, narrou a história fictícia dos Sultões. É Illsley que recorda: «Um dia ele [Knopfler] diz-me: ‘Lembras-te daquela música que tocava volta e meia? Refiz completamente a estrutura de acordes.’ Ele tocou e soou muito bem. A coisa toda é incrivelmente simples, é a forma de tocar que a torna intrigante. É aquele ritmo enrolado na guitarra e uma abordagem muito simples de baixo e bateria. E, é claro, a história. Vamos ser sinceros, todas as boas músicas têm uma história».
A história fala dessa noite chuvosa e, na rua, ouve-se uma banda a tocar dixie em 4/4. A presunção da banda é divertidamente notória neste verso. Atiram-se ao hot jazz de Nova Orleães, mais antigo ainda que Django, mas no mais comum dos compassos musicais. Ainda assim, ao frio e sob a intempérie, soa convidativo. Lá dentro, «não há muitas caras», há «competição noutros lugares». De forma eloquente e subtil, Knopfler refere o declínio do jazz em favor dos deusus do rock, estabelecidos na década de 70. Algo reforçado com os icónicos versos que referem o bando de malta nova que faz algazarra ao canto da sala, ébrios e vestidos com pinta: «Estão-se nas tintas para bandas com trompetes, não é aquilo a que chamam Rock and Roll».
Knopler alegoriza ainda, de forma bem divertida, as lutas internas de uma banda, através do conflito de interesses e caracterização de dois dos músicos. Harry, que toca honky-tonk como ninguém, não se esforça muito. Tem emprego estável e está-se a safar. Desde que o dinheiro estique para beber copos ao fim-de-semana, está tudo bem. Já o guitarrista George é um autêntico apaixonado, conhece todos os acordes. Infelizmente não é grande espingarda, tocando ritmos de forma espartana e pouco mais. Ainda por cima, a sua guitarra é um instrumento de fraca qualidade, mas é tudo o que conseguiu pagar…
Uma semente plantada por uma banda medíocre inspirou uma música colossal. De uma forma ou de outra, os Sultans of Swing gravaram a ouro o seu nome da história da música popular, mesmo que de forma inesperada. Em baixo podem recordar ainda a versão do Live Aid, de 1985.
Um pensamento sobre “Dire Straits, A História dos Sultões do Swing”