Presos em Berlim durante a pandemia, os Elder juntaram-se aos Kadavar, no estúdio destes, entre Março e Junho de 2021, para criar um álbum mágico, capaz de agradar a adeptos de espectros musicais tão díspares como o kraut, o prog rock clássico ou o heavy metal.
Durante a última década, os Elder e os Kadavar – bandas oriundas de Massachusetts e da Alemanha, respectivamente – estabeleceram-se como dois nomes incontornáveis dentro do heavypsych. Separados geograficamente, mas unidos na sua afinidade por riffs de guitarra marcantes e improvisações labirínticas, pelos encantos do prog rock vintage e até algum kraut. O nosso encontro com estas duas bandas deu-se em contextos do Roadburn. O encontro entre as bandas deu-se na última década, quando, em 2010, os Elder se sediaram em Berlim. Presos no rigoroso inverno da Baviera, devido ao lockdown imposto pela luta contra a pandemia, os músicos juntaram-se primeiro para a criação de “A Story of Darkness & Light”, uma maravilha da liberdade musical, uma obra que funde rock, prog, stoner e outros géneros musicais “alternativos”.
Sem qualquer agenda ou um grande objectivo previamente estabelecidos, os Elder e os Kadavar desligaram o mundo e ligaram os amplificadores. Uma jam para celebrar uma nesga no confinamento. Com o tempo, o projecto tornou-se cada vez mais concreto, mais absoluto, até que todos os músicos envolvidos decidiram levar as coisas mais longe e de, indo além de uma sessão de improviso em estúdio, criar um álbum.
«Depois de ‘The Isolation Tapes’, não estava pronto para outro disco de Kadavar. Não conseguia imaginar continuar como se nada tivesse acontecido», o baterista Christoph “Tiger” Bartelt relata as origens desta colaboração. As bandas refugiaram-se nos estúdios Robotor, dos Kadavar, em Berlim, entre Março e Junho de 2021 e formularam a visão partilhada de «um álbum essencialmente humano e profundamente pessoal, um monumento à extasiante ânsia de liberdade das canções». Do lado dos Elder, Nick DiSalvo recorda: «Fiquei imediatamente impressionado com o amplo espectro de sons e ideias conjuradas pelas nossas bandas juntas, sons que não pertencem a nenhuma das duas bandas, mas que surgiram espontaneamente no processo de criação». O modus operandi dos Elder e dos Kadavar pode diferir muito; contudo, o processo foi «simultaneamente divertido, gratificante, estranho e difícil», diz DiSalvo.
Tiger Bartelt, Lupus Lindemann e Simon Bouteloup dos Kadavar, bem como Michael Risberg, Nick DiSalvo e Georg Edert dos Elder (sem o baixista Jack Donovan, que não foi autorizado a viajar dos EUA) evocam a magia arcana e elusiva, extraída do magma primordial do rock, o tipo de magia que só pode funcionar quando tudo está em fluência. Quando nada está a perturbar o processo criativo, quando não existe qualquer pressão externa ou interna. Nunca antes a música destas bandas respirou de tal forma. Nunca antes soaram tão versáteis, tão surpreendentes e peculiares como aqui. “From Deep Within”, por exemplo, parece exactamente o que seria de esperar desta parceria, com quatro minutos e meio de galopante stoner rock “kadavaresco” e outros cinco minutos de arpejos cósmicos à boa maneira “eldérica”; “In the Way” canaliza o espírito folk de Led Zeppelin; “El Matador”, com Kristof Hahn (Swans), é um louco passeio nocturno pelo kraut; “Raspletin” é uma parábola sobre as várias eras sónicas dos Pink Floyd; “Blood Moon Night” pode muito bem ser a melhor canção que qualquer uma das bandas escreveu até aqui.
Pode não ter sido planeado, mas o que viu agora a luz do dia é um álbum dedicado a uma caça ao tesouro na profundidade pessoal de cada um dos músicos. Para todos os envolvidos, a imensa liberdade e a oportunidade de navegar em águas ainda não navegadas foram um impulso de pura criatividade sónica. Ainda que “A Story of Darkness & Light” canalize bastante a aura ornamental dos Elder e o poder rítmico dos Kadavar, os Eldovar estão a brilhar sob uma estrela completamente diferente e estranha.
Um pensamento sobre “Eldovar: A Story Of Darkness & Light”