“Pinkus Abortion Technician” deve ser colocado ao lado de “(A) Senile Animal” e “Hold It In”, o primeiro álbum onde a banda trabalhou com Jeff Pinkus, entre os melhores álbuns dos Melvins nas duas últimas décadas.
“Pinkus Abortion Technician” chegou a 20 de Abril através da Ipecac Recordings, como já é costume. O álbum contém a performance de dois baixistas: Steven McDonald (Redd Kross, OFF!), que tem acompanhado a banda desde 2016 e Jeff Pinkus. Steven McDonald tem aquela aspereza refinada do fusion rock (tivemos a oportunidade de o ouvir ao vivo na edição de 2017 do Desert Fest de Antuérpia). Já Jeff Pinkus é o baixista dos Butthole Surfers e tem trabalhado com Buzz Osborne e Dale Crover desde o excelente álbum de 2014, “Hold It In”, no qual também participou o seu colega de banda, Paul Leary.
O primeiro tema do álbum, “Stop Moving To Florida” é, na verdade, um medley entre “Stop”, dos James Gang, e “Moving To Florida”, dos Butthole Surfers. «Queria tocar a canção “Stop”, mas não a queria tocar toda e ADORO “Moving To Florida”, portanto “Stop Moving To Florida” pareceu-me perfeito», refere Osborne. Relembramos os mais distraídos que James Gang, não tendo atingindo um enorme sucesso comercial, foi a banda que apresentou ao mundo o tremendo guitarrista Joe Walsh que, entre uma discografia riquíssima conta a assinatura no colossal “Hotel California”, dos Eagles.
Essa abertura do álbum, tal como a malha seguinte, “Embrace The Rub”, faz uma evocação a “Hold It In” que já apontava cadências surf rock, que são depois alternadas com a maior densidade de temas como “Don’t Forget To Breathe”. Nesses momentos de maior peso sonoro ouvem-se ecos de uma cena na qual os Melvins foram axiomáticos, o grunge. Pode intuir-se Soundgarden aí, ou Nirvana ou Alice In Chains, como acontece também na semi-acústica “Flamboyant Duck” ou em “Break Bread”. Mas a experimentação e a exuberância instrumental relembram-nos que estas referências são feitas ao contrário e que os montesanos nunca foram igualados por nenhuma outra banda de Seattle, da mesma forma que os Melvins foram os herdeiros de Sabbath que mais souberam escapar à subjugação dos trítonos de Iommi. E fizeram-no porque, para lá de se limitarem a dizê-lo, souberam compreender a magia pop dos Beatles, que homenageiam através de uma versão de “I Want To Hold Your Hand”.
Todos estes pressupostos têm sido vincados numa sequência arrasadora – desde que a banda assinou pela Ipecac, em 1999, tem lançado álbuns anualmente ou a cada dois anos – mas depois da agressividade e do peso na sua primeira década e depois da exploração sónica na fase pós Atlantic, em “Pinkus Abortion Technician”, ao longo de 8 temas, é-nos oferecida uma dosagem bem medida de pop, peso, groove, excentricidade e destreza instrumental de uma banda na sua terceira fase de maturação.
Um pensamento sobre “Melvins, Pinkus Abortion Technician”