Já sem a produção de Bob Rock, o Rei Midas da transição dos anos 80/90, os Electric Boys criaram o seu segundo álbum a partir das fundações de “Funk-O-Metal Carpet Ride”. Ainda que não seja um álbum tão vibrante quanto o primeiro, “Groovus Maximus” vale o suficiente para ter um estatuto de culto.
Três anos depois do espampanante “Funk-O-Metal Carpet Ride”, chegava o segundo álbum dos suecos liderados por Conny “Bloom” Blomqvist. “Mary In The Mistery World” e o seu ligeiro psicadelismo serviu como o chamariz na MTV, mas o sucesso comercial não surgiu. Estávamos no ocaso do hairmetal e o realismo dos riffs de Seattle começava a dominar a cena hard rock. Isto não agradou à Atlantic (que editou o disco em 12 de maio de 1992, no selo Atco), mas o surpreendente seria que as coisas se passassem de forma contrária. Todavia, três décadas depois, e mesmo considerando que este disco não é tão bom como o primeiro, “Groovus Maximus” ganhou um merecido estatuto de culto.
Os Electric Boys tinham uma espécie de som híbrido, onde cruzavam as suas inclinações de hard rock num grande caldeirão de influências que vão da era dourada do rock clássico, os lendários anos 70, ao funk que Nuno Bettencourt criou nos Extreme, seguindo na peúgada dos Aerosmith. Tudo isso continua aqui tão presente como no primeiro álbum destes suecos que veneravam a cena de Boston. A diferença entre os discos estará que aqui há maior incidência no aspecto melódico da banda e, por isso, menor vigor de execução e dinamismo.
De qualquer forma, as coisas começam bastante bem, com o tema título e o seu cadenciado poder rítmico. As vozes de Conny Bloom soam bem e o refrão é bastante catchy. As canções “Knee Deep In You” (com os seus metais) e, claro, “Mary In The Mystery World” não foi eleita como single por acaso. A introdução meio mística com sitar, a sua vibração Cheap Trick e o seu enorme refrão açucarado gravam-se imediatamente na memória. Os desenvoltos baixos de Andy Christell e a simplicidade reverberante das baterias de Niklas Sigevall são outros destaques deste malhão.
“Fire in the House” é cozinhada num groove de lume brando cuja explosão surge depois no encadeamento com “The Sky is Crying”, mais metaleira nos riffs, para as coisas tornarem a acalmar logo de seguida, com a sulista “Bed of Roses”. Ficamos na dúvida se será ou não uma balada, mas é certo que é um tema pouco sólido…
Passa-se o mesmo com “Dyind To Be Loved” (que se salva no crescendo final). E atenção que, por aqui, temos um fraquinho pelos baladões desta era da música. Por um motivo ou por outro, estas duas não convencem totalmente. Pode ter que ver com a colocação no alinhamento, pois no meio de ambas está o boogie de “She’s Into Something Heavy” a aumentar as octanas. Tal como depois “Bad Motherfunker”, talvez a malha com melhor execução de guitarras no disco, bem próxima das linhas carismáticas de Bettencourt.
E se as coisas prosseguem bem com “When Love Explodes”, “Tambourine” torna a deixar a sensação de filler (com excepção para o excelente solo de bateria) e de que o álbum vem a oscilar nesta segunda metade. Há demasiadas coisas a acontecer, até nas próprias malhas, e pouca cola a segurar tudo. Isso é, de resto confirmado com os temas que encerram o disco, “Tear It Up” e o “March Of The Spirits”.
“Groovus Maximus” é um bom disco, mas podia ser melhor se, tivesse sido reduzido ou, por exemplo, contasse com as demos de “Trouble In Paradise” e as suas linhas melódicas dobradas e a descontraída “Love’s Kickin’ In”, por exemplo, que surgiram na reedição de 2004.
Um pensamento sobre “Electric Boys, Groovus Maximus [1992-2022]”