Uma Década de um Diferente Tipo de Verdade dos Van Halen

Editado a 07 de Fevereiro de 2012, “A Different Kind Of Truth” é o 12º e último disco de estúdio dos Van Halen. Um disco que, no final, renovou sonicamente a banda, mas que também fechou um círculo, conduzindo às suas origens.

Depois dos desentendimentos que conduziram à saída de Sammy Hagar, na altura coincidente com a edição da compilação “Best Of Volume I” – aliás, a compilação acabaria por contar com dois temas inéditos, “Can’t Get This Stuff No More” e “Me Wise Magic”, com David Lee Roth e foi umenorme sucesso comercial, a esperança de um retorno ao line-up original esfumou-se em mais um choque de cabeças entre Eddie e David Lee. Estávamos em 1996 e os Van Halen iniciaram, então, o seu período negro…

Em 1998, Gary Cherone [Extreme] gravou as vozes em “Van Halen III” [o título indicava o terceiro line-up registado em estúdio], mas o novo vocalista e o próprio disco foram muito pouco consensuais, ficando muito longe dos níveis de sucesso comercial tradicionais da banda. Aparentemente, ainda foi estudado um novo álbum com Cherone, mas essas sessões nunca passaram da forma demo tape. Em 1999 a banda anunciava mesmo um retiro de actividade. Especula-se que Eddie não lidou bem com o facto e afundou-se no excesso de consumo de álcool, circunstância que nem o breve regresso de Sammy Hagar, entre 2003-05, mudaria. De resto, até iria piorar a situação quando a edição da compilação “The Best Of Both Worlds” mostrava três novos temas, “It’s About Time”, “Up For Breakfast” e “Learning To See”, assinados pelos irmãos Van Halen e Hagar, mas pela primeira vez sem a assinatura de Michael Anthony. O vocalista e o baixista abandonariam a banda para formar os Chickenfoot. Eddie voltou a afundar-se, até que David Lee Roth o resgatou e também à banda em 2006, com a tour de regresso a contar com os três membros originais mais o filho de Eddie, Wolfgang, no baixo e a promessa de um novo registo discográfico.

As expectativas sobre o álbum que demorou mais tempo a ser editado pelos Van Halen foram-se tornando colossais por diversos motivos: não podia ser apagado como foi “Van Halen III”; David Lee Roth estava de volta; era o primeiro sem Michael Anthony; as digressões de reunião foram mostrando Eddie Van Halen em franca recuperação de saúde e forma musical; e também porque se sentia uma banda mais tranquila.

Sem “correr com o demónio”, mas com “um tipo diferente de verdade” para contar – afinal o próprio David Lee admitiu isso em entrevista exclusiva, na altura, com o site Van Halen News Desk ao deixar subentendido que a perpetuação da reunião seja um dado adquirido «todas as pessoas valorizam os seus privilégios, e este trabalho é um privilégio quando comparado com outros. (…) Por vezes levas um soco nos dentes e começas a aperceber-te que és mortal. Essa simples epifania pode reunir uma banda. Além disso fazemo-lo para garantir a paz mundial», o vocalista acrescentava ainda que «a história dos Van Halen é incandescente e carregada de alegações – a maior parte verdadeiras – mas sempre levámos a música muito a sério. Fazemo-la quando somos chamados a isso».

Esse compromisso é reflectido em “A Different Kind Of Truth”. O tempo que demorou a ser feito faz-se demonstrar na coesão do disco, no compromisso em cada um dos músicos. O maior receio seria que Eddie Van Halen não estivesse em forma, mas o álbum torna esse receio infundado (basta ouvir o espantoso controlo de Whammy, como exemplo num tema como “Honeybabysweetiedoll” ou “The Trouble With Never”) através duma fusão do som vintage da banda, da fase mais mainstream e mesmo dum sentido contemporâneo que, de resto, torna este o álbum mais pesado da discografia da banda. Um sentido de enorme diferente reside no baixo – Wolfgang Van Halen tem linhas carregadas de virtuosismo e dinâmica, e é um justo herdeiro do nome Van Halen, mas não tranca os temas como Michael Anthony o fazia.

Há detalhes no disco que são enormes pérolas para os maiores fãs. Como sabemos, o shredder ficou fã do MXR Phase 90 desde que o pedal (que foi o primeiro de sempre da marca) foi estreado em 1974. Regra geral, Eddie Van Halen, usava o pedal, basicamente, numa única definição – a que se pode ouvir em “Atomic Punk” ou “Unchained”, para exemplificar o espaço temporal e a consistência desse setting. Uma das raras excepções em que a configuração do pedal tinha um carácter sónico diferente é “Outta Love”, malhão clássico de “Van Halen II”. Pois bem, é um absoluto preciosismo mas é delicioso. Naquele que foi o seu último álbum de estúdio, eis outra excepção, o solo de “Bullethead”. “China Town”, “She’s The Woman”, “Big River” ou “Outta Space” podem ser datadas até aos primeiros anos da banda. Sabe-se hoje que foi Wolfie a insistir com a banda, para desenterrar as demo tapes dos seus arquivos. A ideia era buscar inspiração no passado, para renovar. Em vez de se fazer outro lançamento pífio, cujo único sentido fosse o pretexto para mais uma digressão, para as massas ouvirem “Jump” e “Panama”.

Onde colocar este álbum a banda? David Lee Roth confessava, nessa conversa acima descrita, que os Van Halen são eternamente anti-hype, «Nunca fomos “fixes”. Mesmo quando estávamos no auge, quando fomos a notícia da semana pela primeira vez não o éramos. O John Travolta e o “Saturday Night Fever” eram a cena. Do outro lado da rua eram os The Clash e os Sex Pistols. Nós éramos uma ilha. Não sei se os Van Halen alguma vez se encaixaram. (…) Hoje continuamos a não ser “fixes”, estando algures entre a Katy Perry e os Muse, entre os Kings Of Leon e os Marron 5. Bem-vindos à nossa ilha. Abandonem a esperança».

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