Faith No More, Sol Invictus

“Sol Invictus” é um álbum canónico de Faith No More. Carregado com aqueles emocionantes ganchos melódicos e a propulsiva secção rítmica da banda. Possivelmente, o melhor sem o Big Jim.

Diz-se que a vida, que são dois dias, passa a correr e “Sol Invictus” parece provar isso mesmo. Entre “Album Of The Year” e o este disco existe um intervalo de quase 20 anos, mas a sensação é que não foi mais que dois dias o espaço entre os álbuns, tal a continuidade entre ambos e o sentido omnipresente de que os Faith No More não procuraram fazer um disco tipo “o som que faríamos actualmente”, mas partir de onde haviam parado e até recuar.

Mais, este álbum chega mesmo a saltar por cima de “King For A Day…”, indo até às atmosferas de “Angel Dust”. Talvez por isso as sintetizações e pianos de Roddy Bottum estejam tão presentes nas canções e tão destacadas na produção do próprio baixista da banda, Billy Gould (Matt Wallace tornou a trabalhar com a banda, mas apenas na mistura). Num sentido estritamente melódico é também um álbum que parece saído dos despojos de “Small Victory”. A banda saberia que as expectativas seriam enormes e conseguiu criar um álbum “imediatista”, mas capaz de crescer a cada escuta, fazendo emergir subtilmente aquele seu lado mais excêntrico.

Será obrigatório analisar Mike Patton, afinal terá sido a relutância do frontman a razão para uma ausência tão alargada de novos discos. Agora que o fez, também é certo que não transparece qualquer ideia de frete, antes de enorme compromisso. O registo de Mike Patton não desilude (como poderia?), mas não está pejado de tiques de exotismo, de excessos. A verdade é que está bastante sóbrio, a liderar a banda num exercício introspectivo que esta faz sobre si própria. Aliás, a mais-valia deste álbum é mesmo a coesão da banda enquanto colectivo e o consequente anulamento de individualidades.

Por isso, o melhor que pode ser dito de “Sol Invictus” é que, mais que um regresso, é o melhor trabalho da banda desde o referido “Angel Dust”. Dir-se-ia mesmo que, capaz a todos os níveis, com as poderosas vozes de Paton, a propulsiva secção rítmica clássica e os ganchos melódicos fortes, este é o álbum de definitiva emancipação da banda em relação a Jim Martin.

Aí por 2021, Billy Gould, numa conversa com Darren Paltrowitz – apresentador do “Paltrocast With Darren Paltrowitz” – sobre vários assuntos, com destaque para os planos futuros da banda e uma retrospectiva a “Sol Invictus”, dizia-se imensamente orgulhoso do álbum: «Fomos muito ambiciosos. Gravámos o álbum na nossa sala de ensaios sem dizer a ninguém. Portanto, havia algumas limitações, obviamente; não era um verdadeiro estúdio. Por isso, para que soasse bem, foi necessário um grande esforço. E acabei esgotado; não sei se o faria dessa forma novamente. Mas estou muito contente com o que fizemos e como o fizemos. Era um objectivo realmente ambicioso, e penso que o fizemos funcionar. Penso que se fizermos algo no futuro, será diferente, como todos eles são; todos os álbuns são diferentes. Mas fiquei muito resolvido com este».

A exaustão de Gould é fácil de perceber, pois o baixista assumiu também a produção do disco, liderando a banda nesse processo. Triunfal, “Sol Invictus” é um álbum canónico que, mais que surpreender, conseguiu redescobrir a essência da banda.

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