Geddy Lee Explica a Sua Devoção a Led Zeppelin IV

Os Rush formaram-se por pura reverência aos Led Zeppelin. Geddy Lee recorda o impacto das lendas britânicas em si, Alex Lifeson e John Rutsey, ainda putos, e fala sobre o quão excepcional é Led Zeppelin IV, o pináculo criativo da banda de Plant, Page, Jones e Bonham.

Os Rush nunca esconderam a sua devoção aos Led Zeppelin e como essa os inspirou a formarem-se como banda. De resto, essa influência está bem demarcada no primeiro álbum dos canadianos. Numa conversa com Philip Wilding, para a Classic Rock, Geddy Lee dissertou sobre a sua paixão pelas lendas britânicas e porque adora o místico quarto álbum dos Led Zeppelin. «Tive o prazer de os ver na digressão de Zeppelin IV no Maple Leaf Gardens. Se não me engano, eles abriram com ‘Black Dog’ e lembro-me de ter sido completamente arrebatado pelo seu peso e velocidade. É um grande riff e uma grande canção, mas ter a confiança para tocar esse riff danado e deixá-lo escoar e depois Robert Plant chega-se à frente e faz as suas letras andarem para trás e para diante. Ninguém o tinha feito. Ninguém tinha tido a coragem de fazer isso».

Rebobinando um pouco e fazendo a ponte com os primeiros tempos dos Rush, ainda pré-Neil Peart, o baixista recorda que já tinha tido contacto directo com os Led Zeppelin: «Essa não foi a primeira vez que os vi, foi a 18 de Agosto de 1969. Estavam marcados dois concertos. Nós estávamos no primeiro. Fui com John Rutsey [o primeiro baterista dos Rush] e com o Alex [Lifeson]. Não havia pré-venda. Estivemos na fila durante horas. Entrámos e sentamo-nos na segunda fila. E posso jurar que eles não subiram ao palco a caminhar – eles flutuaram para palco. Deitaram, literalmente, a casa abaixo, porque no final da noite havia gesso a cair do tecto».

Antes dos trovejantes concertos, o primeiro álbum dos Led Zeppelin chegou como um meteorito, arrasando tudo ao seu redor, daí Lee admitir a vontade de fazer igual: «Lembro-me quando o primeiro álbum saiu e esperámos na nossa loja local Sam The Record Man, em Willowdale, pegámos no disco, corremos para minha casa, pusemo-lo a tocar e sentámo-nos na minha cama, a passar-nos com ‘Communication Breakdown’. Eles foram uma enorme, enorme influência sobre nós. Queríamos, instantaneamente, ser eles. Mas as suas malhas eram difíceis de tocar. Experimentámos várias canções de Zeppelin quando tocámos em bares, mas sentimos que não as conseguíamos tocar. Mas tivemos a ‘Living Lovin’ Maid’ no nosso alinhamento durante algum tempo».

Os Rush começaram a criar a sua própria lenda, ainda para mais depois de Rutsey decidir sair da banda e enveredar por outro estilo de vida e pela chega de um músico que se tornaria um colosso à parte, o baterista Neil Peart. Mas se os canadianos estavam a firmar as suas fundações na transição das décadas de 60 e 70, os Led Zeppelin estavam no seu pináculo criativo, com o triunfal álbum sem título, o seu quarto registo. Lee fala sobre os seus méritos e as suas grandes canções. «Por um lado, temos ‘Stairway To Heaven’ – essa e a ‘Confortably Numb’ [Pink Floyd] têm os melhores solos de guitarra alguma vez gravados. Depois tem aquele que foi, provavelmente, o maior êxito do disco, ‘Rock And Roll’, e que talvez seja a minha música menos favorita dos Zeppelin. É demasiado simples para mim, demasiado comercial. Nunca a curti. Depois uma canção como ‘Battle Of Evermore’, mágica. E o som de bateria em ‘When the Levee Breaks’, o som que os bateristas tentaram copiar durante gerações – ainda estão a tentar copiá-lo».

«A frase ‘heavy metal’ não se adequava aos Zeppelin. Não lhes convinha porque eles eram muito mais do que uma banda de heavy metal. Sim, eles tinham um som que os surpreendia constantemente. Usavam influências e corriam riscos que outras bandas de heavy metal simplesmente não conceberiam, talvez desencadeados pelas letras de Robert Plant. Ele tinha aquela majestade Tolkienesca nas suas letras e as pessoas não gostam disso na sua escrita, mas eu gosto. Adoro as imagens que ele usa. E é a combinação da forma como a guitarra acústica de Jimmy é usada e a presença desse fundo de blues. Dá à sua música muito mais profundidade do que qualquer banda de heavy metal. Basta percorrer o alinhamento: ‘Going To California’, linda canção, espantosa. ‘Misty Mountain Hop’, adoro essa canção. Basta dizeres os títulos em voz alta e consegues ouvir as canções. Se tivesse de escolher uma canção… Tem de ser ‘Stairway’, obviamente. Embora seja difícil escolher entre essa, ‘When The Levee Breaks’ e ‘Black Dog’».

Dizem que não devemos conhecer os nossos heróis. Nada mais errado para Geddy Lee que recorda o momento em que, anos mais tarde, conheceu Robert Plant e Jimmy Page. Estes andavam nas suas digressões na década de 90, de onde resultaria o extraordinário “No Quarter”, disco extraído do MTV Unplugged, e ainda o álbum “Walking Into Clarksdale” (1998). Foi este álbum que os antigos Zeppelin foram promover a Toronto. «Alguém ligava insistentemente para o nosso escritório, afirmando ser o Robert Plant e que precisava de falar comigo. Ninguém acreditou, mas era mesmo ele. Estávamos num hiato depois da Selena [a filha de Neil Peart] ter falecido e não estávamos bem. Devolvi a chamada ao Robert [o cantor dos Led Zeppelin passou por uma situação familiar, sabendo da morte do seu filho duranten uma digressão norte-americana] e ele queria que fôssemos ao concerto. Estava sem a mínima vontade. E ele insistiu, venham ao concerto, vamos conversar. Compreendeu o que se estava a passar com a banda. Lembro-me de ele dizer: ‘Têm de voltar a ligar-se à vida e mais cedo é melhor que mais tarde. Por isso, venham cá’. Então liguei ao Alex e disse-lhe que íamos ver Page & Plant. E eles foram totalmente espectaculares. Eram tão simpáticos. Não há nada melhor do que conhecer alguém que se admira durante tantos anos e tantas razões e descobrir que são verdadeiros cavalheiros».

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