Extraordinária compositora, cujo trabalho ganhou projecção mediática internacional com as bandas sonoras de Joker e Chernobyl, Hildur Guðnadóttir é violoncelista de formação e uma eclética adepta de minimalistas e poderosas paisagens musicais, contando-se como mais um dos que se converteram à filosofia sónica dos Sunn O))).
A noite dos Globos de Ouro (a 77ª edição) teve lugar no Domingo, dia 05 de Janeiro de 2020, a música nomeada era a de Alexandre Desplat para “Little Women”, Thomas Newman para “1917” ou Hildur Guðnadóttir para “Joker”. No final, a violoncelista islandesa venceu o Globo de Ouro de Best Original Score, tornando-se a primeira mulher premiada nessa categoria, enquanto única compositora. Há quase duas décadas que uma mulher compositora não era galardoada.
“Joker” resulta da sua criação das atmosferas musicais densas e perturbadoras, com destaque para enervante parte no WC público ou para a memorável dança nas escadas, serviram na perfeição a queda do personagem para a profundidade da loucura.
Hildur não é uma novata no que respeita a composições cinematográficas. Tendo assinado, entre muitas outras, as bandas-sonoras de “Mary Magdalene” (onde também trabalhou com Joaquim Phoenix), “The Revenant” ou “The Arrival”. Na televisão assinou a música da aclamada série “Chernobyl”. As bandas-sonoras de “Joker” e “Chernobyl” já venceram prémios nos Satellite ou no Festival de Veneza. “Joker” também recebeu a estatueta das Academias (britânica e norte-americana) para melhor banda-sonora. “Chernobyl” venceu os Grammy Awards. Já em Março de 2021, foi a vez de “Joker” valer a repetição do prémio.
Hildur Guðnadóttir começou a tocar violoncelo ainda em criança, entrando para a Reykjaviík Music Academy. Mais tarde continuou os seus estudos enquanto música e compositora na Academia de Artes da Islândia e, posteriormente, na Universitat der Kunste, em Berlim, na Alemanha. Têm uma carreira intimamente ligada às artes do seu país, com inúmeras composições no teatro e bailado. Icelandic Symphony Orchestra, Icelandic National Theatre, Tate Modern, The British Film Institute, The Royal Swedish Opera in Stockholm e o Gothenburg National Theatre são algumas das instituições que já encomendaram trabalhos à compositora.
Na sua carreira enquanto artista solo, Hildur conta com quatro álbuns: “Mount A”, “Without Sinking”, “Leyfðu Ljósinu” e “Saman”. Tem tido um trabalho prolífico em colaborações com outros músicos islandeses, principalmente, com destaque para as suas recorrentes colaborações com os Mùm.
LIFE METAL
E, em 2019, ano em que assinou, precisamente, “Joker” e “Chernobyl”, trabalhou com os Sunn o))) no épico díptico “Life Metal” e “Pyroclasts”. Durante as sessões desses álbuns, Stephen O’Malley e Greg Anderson trabalharam extensivamente na moldagem dos seus sons, de forma a criar um espectro de energia mais amplo sobre a potente saturação de som que lhes é habitual. A dupla trabalhou em conjunto com Steve Albini e o resultado final é deveras impressionante. O som respira e oprime, oferece luminosidade e cor, mas também sombras. Sente-se sintético e orgânico. Hildur, entre outras coisas, empresta a voz ao colossal tema “Between Sleipnir’s Breaths”.
É aí que surge o LifePedal, um pedal que foi desenvolvido para representar o núcleo da parede de som usada nas sessões do disco, para excitar as válvulas dos múltiplos amplificadores vintage Sunn O))) Model T.
Trata-se de um pedal de distorção e octave com um circuito booster também incluido no chassis de alumínio. O circuito Octave Distortion tem impedância de entrada de 1M e de saída a <1K. O circuito Booster possui impedância de entrada a 500K e saída a <1K também. Pode ser alimentado por uma pilha 9v ou um transformador de 9 volts com centro negativo de 2.1mm. O pedal é true bypass. Os controlos existentes são Octave (misturador do efeito), Distortion (até +60dB de gain), Filter (filtro low pass com resposta de frequência entre 500Hz e 30kHz) e Amplitude (volume de saída do circuito octave distortion). É modelado a partir do clássico pedal de distorção LM308 “White Face”. É mesmo uma reprodução bem fiel desta unidade. As únicas modificações feitas ao circuito original estão na secção de clipping.
O circuito “White Face” tradicional usa um par de díodos de silicone, para um crunch com maior compressão. Já o LifePedal apresenta duas opções de clipping adicionais, para melhorar a adaptação a diferentes rigs. Na primeira posição não há díodos, para permitir que se use o Op Amp no máximo volume. A segunda posição utiliza dois díodos de silicone e um LED numa configuração assimétrica de clipping. Isto permite um crunch ligeiramente comprimido e suavizado, semelhante a um amplificador a válvulas. Finalmente, na terceira posição está a configuração do circuito original e o seu som clássico.
O circuito Octave é um full-wave rectifier analógico bastante discreto, construído em torno de um par de díodos Russian Germaniem. Localizado na entrada do circuito, o controlo Octave mistura-se lentamente no sentido dos ponteiros do relógio. Por ser analógico, é monofónico e funciona melhor tocando notas singulares acima do 12º traste, usando o pickup do braço. Tocar acordes irá tornar o som caótico. usar o pickup da ponte e tocar abaixo do 12º traste irá criar um efeito de oitava demasiado súbtil.
A secção de boost é um discreto circuito MOSFET, desenhado para rebentar com as válvulas de pré. É um booster de alta impedância 100% limpo/neutro que acrescenta, efectivamente, uma coloração bastante reduzida ao som. Não acrescente qualquer distorção, mas possui um tremendo output para potenciar a saturação do amp. O Octave e distorção e o Boost podem ser usados de forma somada ou independente, via footswitch. A Cruz Petrina marca o circuito octave-distortion, a Cruz Cristã marca o circuito booster.
Infelizmente, o pedal original, limitado a 1000 unidades e que podia ser comprado isoladamente ou em conjunto com o álbum “Life Metal” e outro merch dos Sunn O))), esgotou nos dias imediatos ao seu lançamento. Entretanto já foram criadas um par de reedições, mas invariavelmente esgotam depressa. É ir estando atento à EarthQuaker ou a sites como o Reverb.
Um pensamento sobre “Hildur Guðnadóttir, A OST de Joker e a Ubiquidade Sónica dos Sunn O)))”