Amplifest 2023 Sob o Manto dos SUNN O)))

Ao fim de uma década, os SUNN O))) regressam a Portugal e estreiam-se no Amplifest. A edição de 2023 decorre nos dias 23 e 24 de Setembro, no Hard Club.

Já há datas para o regresso do Amplifest. A experiência musical que marca o segundo semestre da agenda cultural portuguesa volta a ocupar o Hard Club nos dias 23 e 24 de Setembro com um alinhamento que, partindo sempre da música, se alarga também aos debates e documentários, proporcionando um espaço de encontro e troca de experiências entre melómanos de todo o mundo. Com o anúncio das datas chega também a primeira confirmação: o regresso dos SUNN O))) a Portugal, onde não tocam desde 2013.

Formados em 1998, pelas mãos de Stephen O’Malley e Greg Anderson, os SUNN O))) têm vindo a revolucionar a forma como pensamos a música, construindo um corpo de trabalho que forja novas conexões entre os mundos do metal, drone, jazz, minimalismo e composição contemporânea. Nas suas edições de estúdio, exploram práticas composicionais complexas sem, com isso, abandonar a estética visual do metal, escavando e expandindo o próprio género – algo ainda mais evidente em colaborações com figuras como Scott Walker, Pan Sonic, Earth, Ulver ou Boris.

Ganharam a admiração e reconhecimento internacional pelos seus imensos e imersivos espectáculos ao vivo, onde exploram a construção de autênticas câmaras de reverberação através de riffs quase estáticos que evoluem, gradualmente, para atmosferas densas, pensadas ao detalhe. Três palavras nos cruzam a mente: volume, densidade, peso. Todos elementos essenciais para a criação de uma experiência sensorial intemporal, intensificada pela névoa espessa, os mantos negros com capuz e os gestos cuidados de quem sobe a palco. Pelo caminho, influenciaram toda uma geração de bandas de pós-metal, com a sua postura ritualista em palco a funcionar como um acompanhamento sombrio perfeito para o volume ensurdecedor que sacam a uma muralha de amps nos seus concertos.

O sentido experimental dos SUNN O))) ultrapassa largamente o espectro negativo tantas vezes associado ao que se chama de sonoridades extremas. A força física do som da banda possui um sentido xamânico e, no final, catártico. A potência extrema dos amps une a assimetria entre mundo sensível e mundo inteligível, racionalismo e misticismo. Surpreende o metodismo com que, inspirados no imenso poder dos amps que homenageiam, a banda constrói mantras valvulados. Tivemos a oportunidade de desvendar um pouco desse universo onde o mecânico e o espiritual se tocam, na última vez que Stephen O’Malley esteve em Lisboa.

No seu 10º aniversário, em 2016, o MusicBox recebeu uma espécie de “lado B” dos Sunn o))). Estavam 5 stacks no palco do MusicBox, uma parede composta por 5 pilares encimados por cabeços Ampeg e ainda duas misteriosas e pequenas unidades nas colunas do centro, cruzando-se com os dois SVT II PR e com colunas Marshall. É como um EQ gigante, cada pilar controla uma zona de frequências. Podem ler essa entrevista com SOMA (abre em novo separador).

Em 2019, a banda editou o épico díptico “Life Metal” e “Pyroclasts”. Durante as sessões desses álbuns, Stephen O’Malley e Greg Anderson trabalharam extensivamente na moldagem dos seus sons, de forma a criar um espectro de energia mais amplo sobre a potente saturação de som que lhes é habitual. A dupla trabalhou em conjunto com Steve Albini e o resultado final é deveras impressionante. O som respira e oprime, oferece luminosidade e cor, mas também sombras. Sente-se sintético e orgânico. A aclamada compositora e violoncelista Hildur Guðnadóttir (que escreveu a OST de “Joker”), entre outras coisas, empresta a voz ao colossal tema “Between Sleipnir’s Breaths”.

Uma estreia há muito desejada no Amplifest, que promete marcar o mapa de concertos fundamentais em 2023. Os bilhetes para a edição deste ano já estão à venda (no site da Amplificasom, abre em novo separador) e com forte procura. Valem €99.

A foto no cabeçalho é de Travis Shinn.

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