A marca chama-lhe o amp que começou tudo. Oriundo dos anos 60, o DR103 é um gigante de headroom e pureza de som. O sonho molhado de qualquer fanático dos Trítonos de Black Sabbath.
Quando, nos anos 60, os Super Leads da Marshall se tornaram objecto de devoção de meio mundo, várias marcas começaram a produzir clones desses amps. A Dallas-Arbiter desejava entrar no jogo e criou os Sound City, recrutando Dave Reeves para os contruir, mas o que obtiveram de Reeves (e o que o próprio Reeves produziria depois, sob o nome de Hiwatt) foram as coisas bem distantes de meras cópias. De acordo com uma pesquisa de Mike Huss (publicada em Hiwatt.org), em 1967, Reeves recebeu um pagamento de aproximadamente 800 libras esterlinas para produzir um lote de amps Sound City para a Dallas-Arbiter, que construiu na garagem da sua casa em Malden, Surrey, no extremo sudoeste dos subúrbios de Londres. Estes primeiros amps produziam 100 watts de um quarteto de EL34s e eram conhecidos como “One Hundred”, L100 ou Lead 105 no seu formato modificado Reeves (também mais tarde referido como o Mk1). Sobre isso, podem ler mais neste artigo.
Reeves lançou-se por conta própria. Para o ajudar, contratou Harry Joice. Antigo engenheiro militar, trouxe os mesmos padrões de exigência para os amps da marca – as especificações militares exigem que os circuitos sejam ligados de forma a que os componentes sejam directamente acessíveis e com uma ligação “limpa”, de modo a permitir rápidas reparações em campanha. Ainda hoje, essa exigência é o principal factor destes amps e um constrangimento ao seu volume de produção e motivo maior do seu preço elevado. De resto, bastaria dizer que, na época, estes amps eram a única coisa capaz de aguentar as sovas com que Pete Townshend castigava o seu rig!
A Hiwatt inspirou-se, naturalmente, nos Plexi, mas com o Custom 100 DR103 criou um design próprio e muito mais poderoso. Um amplificador de alta gama, com engenharia e componentes de categoria militar, cuja reputação se mantém intocável até aos dias de hoje e que vale cada precioso tostão do seu preço. Tem algo que joga contra si nesta era: a sua força bruta e capacidade de volumes extremos. Mas é também pela sua simplicidade e força primitiva que entra na lista dos melhores amplificadores que já pudemos experimentar.
SPECS
Canal dual de pré-amp, com inputs High e Low e opção Bright ou Normal para cada um dos canais. Os controlos são os potenciómetros de volume dos modos Bight ou Normal, que respondem a um Master Volume, e os definidores de EQ tradicionais: Bass, Middle e Treble. Há também um potenciómetro de Presence. Na secção de pré-amp as válvulas são 4xECC83 ou 3xECC83 e 1xECC81 (este modo comprime um pouco mais o som). Na secção de power amp surgem 4xEL34. O Hiwatt Custom 100 permite alternar a impedância entre 4, 8 ou 16 ohms e possui ainda um selector de voltagem, 120v ou 240v.
SOM & PERFORMANCE
Talvez sejamos um pouco parciais em relação aos amplificadores britânicos, em detrimento dos americanos. E este Hiwatt corporiza som britânico no seu estado mais puro e glorioso! O Custom 100 DR103 mantém ainda hoje uma tradição iniciada por Dave Reeves, o engenheiro que os concebeu e lhe dá a sigla DR, e por Harry Joice que o apoiou. O Custom 100 pode ser comparado a um Super Lead da Marshall, mas o volume é muito superior. Da mesma forma, a pureza e poder do som, tal como o headroom, são superiores a um SL Marshall actual. Rodando o amp em ambiente de loja, nunca ultrapassámos o primeiro quarto de volume. Mesmo assim foi uma experiência arrebatadora, a fazer estremecer as paredes. O som denso e a clareza com que soou, mesmo numa afinação barítono com “drop A” e com a guitarra “escavacada” que usámos, foi… titânico! Alto, cheio de ataque, com uma imensa riqueza harmónica e um enorme calor.
O canal Normal está desenhado para manter o som limpo, mesmo em volumes extremos. O Bright, puxando mais os médios-agudos permite a excitação das válvulas e o overdrive natural. E, claro, tal como nos SL, os inputs podem ser combinados preferencialmente. A condicionante do espaço impediu-nos de puxar pelas válvulas até ao ponto de overdrive – o volume teria sido demente para um espaço comercial. Aliás, o volume teria semeado demência em qualquer espaço. Do mal o menos, isso permitiu-nos ver como se comporta o Custom 100 ao acolher algo tão expressivo como um pedal de distorção. E os pressupostos do amplificador são mantidos. Com um pedal de distorção ligado, a acção do Presence é sublime, trabalhando a definição dos médios de forma eficaz e ampla.
Sem o desejo de sermos injustos para outros modelos, este é o amp mais “limpo” a que já me liguei. O amp não denotou qualquer clipping ou compressão, quer em acordes, quer notas isoladas. O feedback surge fácil e sólido. O ruído, mesmo com uma guitarra bem suja, é praticamente nulo. O seu poder bruto é assombroso. Na verdade, o Custom 100 é um amp demasiado poderoso para os dias de hoje. Poderia ter um definidor de bias, para se definir a potência – pois se num estúdio poderá estar no máximo, para a maioria dos cenários ao vivo em Portugal (e estamos também a falar nos maiores concertos) não necessitará de ir além de metade do seu Master Volume. Todavia, essa opção eliminaria a sua essência purista. Da mesma forma que poderia ter um FX Loop, mas a verdade é que não necessita.
Rodei esta unidade, originalmente, para a Arte Sonora, em artigo publicado originalmente na extinta edição digital #46. Pude ligar-me na loja da Margem Sul, a Teamusica – que tem alguns modelos da marca para venda. Pregalhada no player seguinte. Além da pregalhada, a meio do minuto dois, o vídeo tem um glitch estranho (algo que entortou no upload) avancem o player uns 20 segundinhos.