Inês Malheiro, Deusa Náusea

“Deusa Náusea” é o álbum de estreia de Inês Malheiro, via Lovers & Lollypops. O LP solidifica o experimental carácter etéreo da compositora bracarense.

O disco foi editado no dia 14 de Outubro de 2022, depois de Inês o ter escrito e gravado nos últimos dois anos. A mistura coube a Nuno Loureiro e a masterização a Rafael Silver. A edição é da Lovers & Lollypops.

“Deusa Náusea” sendo intimamente incomum, «balança-nos no berço de um bebé febril com a sua formosura fragmentária e sua delicadeza que nos serpenteia o cérebro. Polarizado, invertido, perplexo, epitelizado por processos espectrais e pura beleza. Pedaços de vozes cortados e beliscados em gotas métricas deixam-nos em constante tele-transformação, a centrifugar os nossos interiores mais profundos como se quisesse quebrar, com força suficiente, a matriz estrutural duma canção. Inês Malheiro, com a sua visão periférica e um ramo de Gerberas e Peónias, faz deste dia um prazer anisotrópico», refere Alex Lázaro.

Já a ZDB refere que surpreendente é uma palavra-chave. Assim se descreve a natureza de acompanhar o trabalho que a bracarense Inês Malheiro tem desenvolvido nestes tempos. Como um antídoto inconsciente para a velocidade do mundo lá fora, a sua música respira encantamento sónico, imerso nas micro-existências de uma electrónica rarefeita e aglutinadora de vários possíveis fragmentos, do rock ao jazz. Com um percurso intimamente ligado à dança, as suas composições transmitem um movimento incerto, de indagação e chamamento, dando formas ao espaço sonoro que imagina e deste modo recria.

A transversalidade da voz assume-se como ferramenta maior. Escorre como um rio numa paisagem rugosa, entre a sombra e a luz, buscando real ascensão; existe algo de bucólico e em que o silêncio toma importância vital – como parte activa do processo criativo. Alcança uma certa intimidade com o ouvinte através de onomatopeias, sons captados e canções profundamente alucinatórias. O som torna-se então corpóreo, junto à pele.

Inês Malheiro cria narrativas sonoras usando a voz como matéria prima. Desde 2018 tem vindo a libertar, através do Soundcloud, The endless chaos has an end, uma série de músicas que foi construindo a solo. Criou ainda a sonoplastia de Práticas Laboriosas do Enxofre (2022), projeto expositivo criado pelo Coletivo Corisca, lançou Canal-Conduto (2020) com Gonçalo Penas e apresentou Organismus Kathársis, co-criação com Francisca Marques, no Lisboa Soa. 

Uns meses antes de “Deusa Náusea”, a edição de “Liquify, Spread and Float” resumiu muita desta matéria. Disco editado este verão na Carimbo Porta-Jazz, foi mais uma pertinente e maravilhosa peça a surgir neste 2022, resultante de uma apresentação no Guimarães Jazz Fest. O estado quase-meditativo dos três temas aí presentes traz um convite a alguma da música exploradora mais essencial a ser produzida por cá e abriu um magnífico portal para o disco que se seguiu.

Um pensamento sobre “Inês Malheiro, Deusa Náusea

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