IONIZED, Denary Breath

O primeiro álbum dos IONIZED revela uma clara evolução em relação ao seu primeiro trabalho, o EP “Big Bad Wolf”. Dono de um par de riffs de notória eficácia, “Denary Breath” destaca-se na sua vertente melódica.

Uma situação caricata colocou-os na boca do underground rocker português. A 19 de Outubro, os IONIZED estrearam o vídeo do single “In The Distance”, realizado por Guilherme Henriques. Quando os Gaerea estrearam o vídeo para o seu single “Mantle”, há algumas semanas, os IONIZED sentiram-se espoliados, alegando que Henriques, guitarrista dos Gaerea, realizou o vídeo para a sua banda recorrendo ao conceito do trabalho de “In The Distance” de forma abusiva, tendo inclusivamente usado o mesmo espaço para o novo vídeo da sua banda.

Visto de fora pode pensar-se que, se Henriques se aproveitou da pouca exposição internacional de uma banda para reciclar as ideias em seu proveito, os IONIZED também terão usado essa polémica como alavanca mediática. Procurando ser moderado, pode perceber-se a mágoa destes vendo os seus conceitos aplaudidos, sem o devido reconhecimento; ao mesmo tempo, Henriques não fez mais que o que incontáveis bandas têm feito ao longo dos tempos, aproveitando boas ideias e bebendo a criatividade de influências, directas ou indirectas. Afinal, e cingindo o assunto a vídeos musicais, um milhar de bandas poderia acusar outro de rip off devido ao uso do preto e branco, com os contrastes imensamente carregados e a câmara a filmar rotativamente todos os músicos. É um assunto sensível, mas importa não fazer tempestades em copos de água. Até porque os IONIZED, desta forma, correm o risco de serem reconhecidos apenas por este assunto. Será isso justo? Nem por isso.

Oriundos de Santa Maria da feira e juntos há 6 anos, Miguel Craveiro (voz), Rui Moreira e Ricardo Ferrão (guitarras), Ivo Lopes (baixo), André Almeida (synths) e Miguel Marques (bateria), «deixaram de ser um grupo de amigos que se juntou para fazer experiências musicais e partilhar sons comuns» e tornaram-se numa banda. Foi em 2016 que chegou o primeiro registo, a demo/EP “Big Bad Wolf”. No final de 2021, estreou o primeiro álbum.

Em relação ao previsível e pouco dinâmico post grunge do trabalho de estreia, “Denary Breath” eleva a banda a outro patamar. Desde logo, sonicamente. Ambos os trabalhos foram gravados com o Daniel Valente no Caos Armado, mas onde o primeiro soava demasiado comprimido, este soa mais vivo. Fica a impressão que é uma questão de evolução de execução e também de os músicos (principalmente os guitarristas) terem aberto o seu som, libertando-o um pouco das correntes implacáveis de pedais de efeitos. Ao mesmo tempo, este som de guitarras desanuvia o espectro de frequências do bombo e do baixo, dando-lhes mais articulação.

Depois, sucede que, mesmo que não seja uma constante, há mais variedade nas linhas vocais e maior elaboração melódica com os fraseados de guitarra. Todavia, isto não sucede ao longo de todo o disco – que soa demasiado extenso – e temas como “Right Of Appeal” ou “Undone” retiram vigor ao trabalho. Na verdade, o álbum será um pouco extenso e se nunca é saturante, em alguns temas parece redundante, por exemplo, além dos já referidos, nas canções que o encerram, “Tattooed Angels” e “All The Little Things”. Nos seus momentos mais Perfect Circle, como o bloco central composto por “Strange Denial”, “Heavier Than Time” e “Lower”, podemos ouvir o actual pico de capacidades da banda.

Faltará ganhar mais consistência e arredondar alguns aspectos de produção (aqui entregue aos próprios músicos). De resto, os IONIZED conseguem deixar também alguns riffs marcantes como “Hide” ou “Masquerade” e “In The Distance”, estes dois logo a abrir esta colecção de doze temas, mas é a vertente melódica aquela em que mais se destaca “Denary Breath”.

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