Ozzy Osbourne, Scream

O único álbum de Ozzy com as guitarras de Gus G, apesar de alguma inconsistência e do seu fraco desempenho comercial, permanece obrigatório na colecção de qualquer fã do Prince Of Darkness.

É inevitável não começar pela principal diferença deste trabalho com os seis anteriores, Gus G substituiu Zakk Wylde como guitarrista do “Prince Of Darkness”. Em termos gerais não se notam muitas diferenças, contudo sente-se que Gus G ainda não está au point. Claro, o grego é um shredder de mérito indisputável e apresenta aqui alguns índices de personalidade, mas o trabalho de guitarra ainda não é tão carismático como o que Zakk Wylde ou Randy Rhoads desenvolveram com Ozzy, nem mesmo comparável a Jake E. Lee.

Contudo, a saída de Zakk Wylde permitiu um dos objectivos principais do produtor Kevin Churko: remover a especificidade do som que Wylde desenvolveu e que aproximava demasiado a sonoridade de Ozzy Osbourne à dos Black Label Society. De facto, este álbum, ainda que tendo a inteligência de não desbaratar o som de trabalhos como “Down To Earth” e “Black Rain”, aproxima-se um pouco mais daquela atmosfera hard rock de “No More Tears” e “Ozzmosis”. Ainda que nem sempre consiga fazê-lo com brilhantismo.

O que não foi possível manter foi a dimensão do trabalho de bateria, Tommy Clufetos está creditado, mas não gravou o disco. Quem gravou as baterias foi o próprio Kevin Churko. É um bom trabalho, sem dúvidam mas directamente comparado ao anterior registo de Mike Bordin, que dotava o som duma herança directa de Bill Ward e duma espontaneidade ou naturalidade maior, é infinitamente mais pobre e previsível. Clufetos viria melhorar isso ao vivo. Aliás, tal como no caso de Gus G, e olhando agora em retrospectiva, era uma banda nova que estava a ganhar calo.

Agora, à parte das discussões sobre o valor de músicos, se há ou não muito processamento vocal (que há, mas mesmo quando tinha a voz nos píncaros essa foi sempre uma premissa nos álbuns a solo de Ozzy), este é um disco com grandes temas como é hábito, enorme produção, músicas grandiosas, grandes riffs e baladas muito boas, algo em que os trabalhos a solo do vocalista original de Black Sabbath sempre se destacaram. Não é o melhor de Ozzy, mas mantém uma qualidade digna do Prince Of Darkness. Acontece que foi um dos menos bem-sucedidos na sua carreira e depois seguiram-se os trabalhos em torno da reunião de Sabbath, com o disco que chegaria em 2013. Clufetos acompanharia Ozzy nessa reunião, Gus G ficou para trás.

Assim nunca houve verdadeiramente a oportunidade de ver esta formação florescer e ficará sempre por esclarecer todo o seu potencial. Dez anos depois, Ozzy tornou a reinventar-se na criação de “Ordinary Man”.

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