Dinâmico, poderoso e desenvolto, “Blackhearted” é o álbum onde o carácter dos Redemptus se sente mais vincado. Um trabalho visceralmente emocional.
“Blackhearted” é o terceiro disco do trio portuense. O trabalho apresenta dez temas nos quais a banda mostra algumas novas abordagens à sua estética sónica, além da estreia do guitarrista Pedro Simões. O disco foi editado a 7 de Setembro de 2021, através de vários selos editoriais – RagingPlanet, Gruesome, Regulator e Ring Leader Records – em duplo vinil, CD digipack, cassete e formato digital. Já aqui o enquadrámos com os outros dois discos da discografia dos Redemptus e, de resto, foi um dos discos que elegemos nos nossos preferidos de 2021.
Para o gravar, a banda voltou ao local de sempre – tornando a trabalhar no Caos Armado, com Daniel Valente. Uma escolha cuja consistência ditou resultados tremendos, a respiração dinâmica é ainda maior neste disco, em relação aos anteriores. Há também mais diligência para que a parede sónica não se limite à força dos amplificadores e para que se sinta mais as flutuações dos takes dos músicos. Por isso, apesar de ter menos distorção, acaba por ser mais pesado que os trabalhos anteriores, derivando a sua densidade da emotividade dos intérpretes, algo que passa a ser perfeitamente evidente logo no segundo tema, “Heads You Win Tails I Lose”. E logo o seguinte “Sunk In Perpetual Tidal Waves” (tal como mais tarde “Forgive And Forget”) nos revela de forma deslumbrante outra bem-vinda novidade: a forma como os Redemptus abdicaram de optar por interlúdios que muito mutilavam o fluxo dos discos e tão bem passaram a integrá-los na experiência musical, enobrecendo o sentido conceptual que os pauta.
Apesar de malhas como “How Much Pain Can Fit In One’s Chest”, talvez este álbum não seja tão “orelhudo” como “Every Red Heart Fades To Black”, todavia, sendo menos imediato, vai-se tornando mais cativante. Recorre a maior desenvoltura técnica, como são exemplo as síncopes das épicas “Still Resemble The Silence” e “Purged By Light Engulfed By Darkness”.
Se no início da sua carreira, no primeiro álbum e, principalmente, ao vivo a execução dos músicos e a desenvoltura das canções eram sufocadas por espartilhos cénicos, em “Blackhearted” tudo parece ter sido muito mais espontâneo e cru que nos trabalhos anteriores. É como se gravar o disco de forma mais “simples”, directa e livre, sem polir tudo, sem procurar “perfeição” de estúdio, tenha não só aumentado o headroom com que soam os instrumentos, como o das próprias canções e da banda. Com isso, a personalidade dos Redemptus segue cada vez mais vincada e referências como Zozobra, Old Man Gloom, Converge, Cursed ou Isis, assumidas desde sempre pela própria banda, são cada vez mais pálidas.
Um pensamento sobre “Redemptus, Blackhearted”