Jeff Beck, Emotion & Commotion

“Emotion & Commotion é o álbum onde o lendário Jeff Beck consegue ser mais consensual para o mainstream e submundo do shred, ficando apenas atrás do prodigioso “Blow By Blow”.

Jeff Beck passou anos a fio a ser ostracizado por um mercado ávido de imediatismo nas canções e pouco tolerante a experimentação essencialmente instrumental. Aquele síndrome do Frank Zappa. De mil gajos que curtem Satriani (nada contra), 20 têm um álbum de Zappa ou, neste caso, de Jeff Beck. Parte da razão para isso, explicava o próprio em entrevista ao Elsewhere, em 2009, «é nunca ter tentado entrar na pop mainstream, no rock, no heavy metal ou em qualquer coisa assim. Ao fechares essas portas tens um espaço limitado para te mexeres».

Não é totalmente verdade, afinal “Flash” (1985) contou com a produção de Nile Rodgers e com um rol de vozes como Rod Stewart, Jimmy Hall e Karen Stewart, além do trabalho de Jan Hammer num Fairlight CMI – que era dos synths mais na berra na década de oitenta. A intenção era claramente colar Beck na música pop. Todavia, o guitarrista sempre desprezou esse disco.

Então 15 anos depois, no dia 10 de Abril de 2010, Jeff Beck lançou em “Emotion & Commotion” um aglomerado de grandes clássicos, como “Over The Rainbow”, “Lilac Wine” [com a voz de Imelda May], “Nessum Dorma” [sim, a ária de Puccini!] ou “I Put A Spell On You”, cantado por Joss Stone, tal como o tema em que a jovem prodígio do soul britânico assina como autora, “There’s No Other Me”. Talvez por isso, com uma orquestra de 64 peças como cama sonora em vários destes momentos, “Emotion & Commotion” valeu a entrada mais alta de sempre de Beck nos tops de vendas.

A questão é que o génio de Jeff Beck dissipa qualquer polémica ou dúvidas de integridade artística. Acreditem: este álbum talvez seja menos excêntrico na exploração sonora promovida pelo músico, mas mantém um vigor criativo irresistível – a mais-valia que fez do britânico uma lenda, um poster no quarto de qualquer guitarrista que se preze. Ouçam os clássicos, o tratamento que o guitarrista lhes dá, e experimentem os temas inéditos como “Hammerhead” – que parece tirado de um álbum de Mahavishnu Orchestra – para perceber porque se usa nesta descrição o termo génio. Sempre surpreendente, imprevisível, versátil e, neste álbum, sempre emocionante.

A extravagância é um direito de reis, contudo quando estes falam ao coração do povo a comunhão enriquece o reino. Não leva nota máxima porque essa está reservada ao álbum que lhe deu a coroa, “Blow By Blow”. Valeu a pena o maior hiato entre álbuns de estúdio que o guitarrista teve na carreira.

A título de curiosidade, o percussionista que encontramos nos créditos do álbum é Luís Jardim. Natural, se pensarmos que o produtor executivo do álbum é Trevor Horn.

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