“Eye18”, álbum de estreia dos Krypto, editado via Lovers & Lollypops, é uma colecção de oito canções com um peso esmagador na sua parede de amplificação e com um groove rítmico capaz de esmurrar com a força e a graça bailarina de um pugilista.
Em Janeiro de 2020, um bando de veteranos da cena portuense unidos atrás do nome do heróico cachorro do Superman, mas revelando-se numa espécie de The Legion Of Doom, editou “Eye18”. O disco, com o selo Lovers & Lollypops, é uma colecção de frenéticos malhões que têm tanto de Tomahawk, Helmet e Battles, como de Zen e Greengo (estandartes do melhor rock alternativo português e pontos de origem do line-up dos Krypto).
Depois é preciso recordar que Gon é um dos mais neuróticos e irascíveis vocalistas nascido intramuros, cumprindo aqui com demente solenidade o papel do xamã que nos conduz a meio da abrasiva acidez sónica. É a editora que descreve banda e disco, ao mesmo tempo que disponibilizou o álbum em formato digital integral:
«Oito malhas que nos recordam um tempo que já não volta, que piscam o olho ao passado sem nunca soarem saudosistas e que aproveitam para resgatar todo aquele balanço que a música de e com peso parece, por vezes, ter esquecido. Não sabemos quem teve esta ideia, mas por nós mereceria uma medalha. Juntar aquele que é, sem dúvida alguma, o melhor e mais alucinado vocalista que este país viu nascer (um título que, por mérito próprio, exibe desde meados da década de noventa com os Zen e recentemente renovado na insanidade dos Plus Ultra) aos Greengo, provavelmente a maior força propulsora que a Invicta viu nascer por entre baforadas carregadas de intenção e acidez.
Gon encontra no baixo de Martelo e na bateria de Chaka as carruagens de fogo ideais para se lançar numa infindável lista de diatribes sobre isolação, alienação, corrupção, o vazio consumista deslumbrado com a tecnologia ou a cultura empresarial. É brutalista o som que nos despejam em cima e, apesar de um ou outro laivo psicadélico, impossível de acorrentar, numa viagem que se refugia na atitude primitiva, natural e pura de quem tem o dom de nos deixar num estado cataléptico.
Música que exige ressonância e espaço para ser sentida, que cresce em urgência no espírito carbonário com que nos obriga a uma reflexão sobre a vida sem regras e responsabilidades hipócritas. Rejeitemos a ideia de que temos de nos tornar num ideal, um camarada devoto do pensamento único, distante de sermos um indivíduo e não apenas parte de uma tribo. “If we moved in next door to you, your lawn would die”, palavras de Lemmy que se aplicam na perfeição a este “Eye18”, disco em trepidação constante pelo vazio insaciável, com sede de sobreviver e uma vontade que nos deixa atordoados, encanecidos, amortalhados, mas também num alerta constante e eufórico provocado pela privação de sono e sonho que a música dos Krypto teima em nos inflingir ao longo dos seus 23 minutos.
O disco transforma-se numa banda desenhada da autoria de Rui Moura e inspirada no som bruto e psicadélico dos Krypto, bem como nas suas letras, a banda desenhada complementa e explora um universo ácido e atemporal. Guiado entre rituais e o oculto, transportando a psique por labirintos infinitos».
Um pensamento sobre “Krypto, Eye18”