Na antecâmara do VOA – Heavy Rock Festival, recordamos as duas visitas anteriores a Lisboa e o concerto integral (em pro-audio e pro-shot) dos noruegueses Kvelertak no Rockpalast 2019, durante a tour que passou em Portugal com os Mastodon.
Como já dissemos em ocasiões anteriores, Kvelertak (Kuh-vell-er-tack) é uma banda da Noruega que toca música rock. É desta forma simples que a banda se apresenta no seu website oficial. E o rock dos noruegueses é também simples, como é epítome do bom rock. Esta é uma forma de o dizer. Outra forma é: se curtes AC/DC, DAD, Norwegian Black Metal, Celtic Frost, Thin Lizzy, The Who, sleazy rock e, lá no fundo, és membro do KISS Army, és dos Kvelertak e és a Best Band in Town! Em 2020, no dia 14 de Fevereiro, os explosivos Kvelertak editaram o seu quarto álbum de originais, “Splid”. O disco sucede a “Nattesferd”, de 2016, tem o selo da Rise Records, e é o primeiro na nova editora e a contar com o vocalista Ivar Nikolaisen, que se juntou à banda em 2018. Aliás, desde 2016, os noruegueses passaram duas vezes no nosso país e trouxeram dois vocalistas diferentes.
Na primeira, acompanhando os Metallica, trouxeram o seu vocalista original, Erlend Hjelvik. No concerto com os gigantes do thrash, o público português esteve inicialmente a borrifar-se para os noruegueses. A maioria das bandas talvez acusasse tal desprezo, os noruegueses lutaram contra isso e progressivamente, com a simplicidade do seu rock, foram provocando uma reacção de entusiasmo crescente junto de quem ali foi se deslocou para ver os headliners. Há que dizer, no entanto, que os Kvelertak trabalharam mais para os ignotos dos seus três álbuns, do que para a minoria que estaria ali propositadamente para os ver, enfim, no nosso país. Isto porque a setlist foi especialmente dedicada aos seus temas mais quadrados e mesmo estes foram executados numa toada mais lenta, mais directa e menos agressiva. Ou seja, as nuances black metal e punk foram removidas do seu som, por vezes referenciado por black n’ roll, e muitos dos pormenores instrumentais das canções foram arredondados, até se considerarmos que os noruegueses subiram a palco com Vidar Landa, Bjarte Lunde Rolland e Maciek Ofstad – a sua infame tríade de guitarras eléctricas.
Essa opção teve reflexo na própria setlist, para a qual o seu álbum mais complexo até aí, “Nattesferd” (2016), apenas contribuiu com os temas “1985” e “Berserk”. No final, nessa ocasião, os Kvelertak “aqueceram”, efectivamente, a Altice Arena com um grande concerto. Recorrendo até a truques simples, como a subida a palco do vocalista Erlend Hjelvik com a máscara totémica da coruja ou a agitação da enorme bandeira, já na despedida com o tema homónimo do álbum de estreia, “Kvelertak”, que significa algo como estrangulamento. Nem de propósito, a forma como o som esteve sempre estrangulado e, principalmente, com o volume tão reduzido, foi o ponto negativo nessa noite. Um disparate ainda haver essa prática para diferenciar o warm-up act dos headliners…
Da segunda vez, acompanhando os Mastodon, trouxeram o novo frontman. Em comparação com o concerto que deram em Lisboa no ano anterior, os noruegueses tinham agora mais público do seu lado e usufruíram de maior entusiasmo em torno da sua actuação. Ivar Nikolaisen, o vocalista que substituiu o fundador Erlend Hjelvik, a seguir ao final da tour com os Metallica, não soou com a mesma força ébria, nem com a mesma potência. As guitarras soaram enroladas e o volume esteve algo atenuado, sendo que o volume e a articulação das guitarras são factores determinantes num concerto com três guitarristas e com o cariz rocker dos noruegueses. Mas ao vivo, a garra dos músicos, o dinamismo das canções e o quão cativantes são (mesmo cantadas em indecifrável norueguês), tornam os concertos da banda autênticos vendavais de “guitarrada”. Nessa mesma digressão, passaram pelo Rockpalast, num concerto mais talvez mais esclarecedor das suas capacidades. De resto, o concerto foi disponibilizado em pro-áudio e pro-shot e é um belo exemplo daquilo que estamos a dizer sobre a banda.
Portanto, disparem o player seguinte, para se prepararem para novo encontro no alinhamento do primeiro dia, quinta-feira, 30 de Junho, do VOA, para o qual já estavam confirmados os headliners Avenged Sevenfold e Megadeth, assim como os lendários thrashers germânicos Kreator e os lusos Bizarra Locomotiva.