O “peso” da sua mão esquerda no Hammond é universalmente aclamado na discografia dos Deep Purple. Aqui olhamos três trabalhos obrigatórios de Jon Lord fora da lendária banda que fundou. Sim, um deles é o “Sarabande”.
Um génio da fusão entre o rock e as formas mais clássicas e barrocas da música. Um verdadeiro entendedor de melodias. Lord nasceu em Leicester, a 9 de Junho de 1941. Estudou piano clássico desde os cinco anos, e foi essa a maior influência na sua obra. Desde Bach (traduzido no seu fascínio pela improvisação no teclado e pelo “peso” da sua mão esquerda), passando pela música mais tradicional britânica, até aos teclistas blues dos USA. Aí foi buscar a paixão pelo Hammond. E Hammond-Leslie com amplificadores Marshall, dando lugar a um som pesado, mecânico, com uma ferocidade até inaudita e a partir daí pouco recorrente
Já por aqui falámos em marcos na sua discografia como os Santa Barbara Machine Head e sobre os Deep Purple e “Machine Head” e “Made In Japan”. Aliás, o seu trabalho nos Deep Purple, que fundou, é sobejamente reconhecido e aclamado. Importa falar noutros discos em que o criador ou a criação não obtiveram a merecida clamação universal.
E a forma mais adequeda de inciar essa discusão é através de “Sarabande”, um dos melhores discos a solo de Jon Lord, com orquestra conduzida por Eberhard Schoener – estávamos em 1976. O segundo álbum a solo do teclista é a grande incursão no rock progressivo. Completamente instrumental, com toques do psicadelismo dos primeiros trabalhos de Deep Purple e com a devoção à música barroca de Bach exposta sem preconceitos, a fusão entre a “orquestra” roqueira e a orquestra Philharmonica Hungarica é sublime. Ao contrário do que se poderia esperar dum álbum com o termo “prog” metido ao barulho, os temas discorrem com uma graça genuína e um swing descomplexado apesar da sua complexidade. “Sarabande” é um dos trabalhos dos quais Lord mais se orgulhava e ouvir os momentos gloriosos que despontam na audição faz perceber por que motivo o músico se sentia assim. É verdadeiramente sumptuoso e, de certa forma, ultrapassa até os seus melhores momentos nos Purple.
★★★★★
Paice, Ashton & Lord. A banda em que o teclista se focou com o seu amigo Ian Paice quando os Deep Purple entraram em convulsão. Este é o único álbum do projecto em que os amigos se juntaram a outro grande teclista, Tony Ashton, que fundiu o rock da dupla Lord/Paice com um sentido muito mais descontraído a abraçar o funk e o rythm & blues. O álbum esteve longe de ser um sucesso de vendas, mas foi bem recebido pela crítica e é uma pérola pouco ouvida que vale a pena descobrir.
★★★★★
Os Whitesnake foram sempre algo em que o trabalho de Lord surgia muito mais descomprimido, sem a profundidade e exigência técnica que pontuava os trabalhos de Deep Purple. Sinal da mudança dos tempos, o rock foi-se tornando um veículo comercial nos anos 80 e a indústria não queria revoluções, queria riqueza. Apesar disso, a banda estava a desintegrar-se e todos os músicos abandonaram Coverdale excepto Jon Lord, cuja permanência fez Micky Moody ponderar o regresso. Como agradecimento Coverdale, em 1987, retirou ao super clássico “Here I Go Again” a aura gospel do Hammond de Lord em favor de synths à Depeche Mode e na mistura para rádio retirou mesmo a introdução… A verdade está em “Saints & Sinners”.
Um pensamento sobre “Jon Lord, O Génio que Uniu Bach e o Blues”