Luís Possante e Isabel Cristina assumem outro renascimento criativo. Depois dos Insaniae, após a primeira separação dos Dogma, os Malignea surgem agora das ruínas da banda que a pandemia tornou a dissolver. Espera-se novo álbum até ao final do ano.
Os Dogma formaram-se em Novembro de 1996 e desde os seus primórdios a banda defendeu cantar em português, num género que podemos definir na sua génese como gothic/doom metal, mas sempre dispostos a abraçar um variado leque de influências musicais. O emprego da metáfora está implícito em todas as letras de Dogma, deixando a interpretação da viagem lírica ao encargo de quem a queira assumir sendo que o caos e a tristeza serão sempre o destino final. Os Dogma mostram o pior mundo acompanhado de um som de esperança e agressividade, nunca deixando de expressar o desprezo pelo imposto e pelas instituições que impõem. O sarcasmo está presente quando a oposição ambiciona aquilo a que se opõe, os Dogma tentam transportar esse sentimento quando se fazem acompanhar para dentro do abismo dos seus temas. Entre Novembro e Dezembro de 1997, é gravada a primeira demo com 6 temas originais com o singular título “Weltschmerz”.
A partir daqui os Dogma dão início a um périplo de concertos que os levará a salas como o Marquês da Sé Rock Club, Ritz Club, Bar Rookie e a festivais como o Extremo Open Air, Festival de Musica Moderna de Sobral de Monte Agraço, Festival Maio Jovem de Altura e diversas edições do Festival Tocabrir. Entre Junho e Agosto de 2000 gravam o seu primeiro EP, intitulado “Último Grito”. Em 2001 os Dogma foram selecionados para participar na colectânea “Tocabrir 2001”. Em 2002, a banda grava o seu segundo EP, “Memorial à Obsessão Pela Dor”. No ano de 2003, e após diversas mudanças de alinhamento, os últimos elementos fundadores que ainda restavam decidem tomar um novo rumo musical e os Dogma dão por terminada a sua existência.
Surgiriam então os Insaniae. Uma banda que partilhava muitos dos pressupostos dos Dogma, mas atravessados por uma sonoridade mais gélida construiram um álbum de estreia que foi alvo de alamação no underground. “Outros Temem os que Esperam pelo Medo da Eternidade” revelou um death doom com maior desenvoltura cénica e técnica dos seus intervenientes e com mais elegância nas composições. Mas também este projecto teria vida curta, tendo terminado pouco depois do segundo álbum, “Imperfeições da Mão Humana” (2010).
Nesse seguimento, quis o destino que os Dogma não ficassem apenas na memória de alguns e, em Outubro de 2014, quatro dos seus antigos elementos, Luís Possante (Guitarra), Isabel Cristina (Voz), Miguel Sampaio (Baixo) e Gonçalo Nascimento (Voz), decidem fazem renascer das cinzas os Dogma, voltando de novo aos ensaios, recuperando os primeiros temas da banda, com o intuito de regravar os mesmos em álbum. Por forma a completar o alinhamento da banda, passam a fazer parte da mesma, Rui Nunes (Bateria) aos quais se juntará mais tarde, em 2017, João Marques (Guitarra). Apesar de improvável o regresso, foi com naturalidade que as ideias rejuvenesceram e possibilitaram a gravação dos temas que tinham sido criados na nossa demo “Weltschmerz”, e de outros que não entraram nesse trabalho, mas que lhe eram contemporâneos.
Nasceu assim o álbum “Reditum”. Um bom regresso, revelando uma maturidade musical que não existia na primeira encarnação, que recolheu aplausos da cena nacional e abriu as portas ao segundo disco que, não obstante a nova recepção calorosa e a notória evolução da banda, vitimado pelas circunstâncias, implicou o final do percurso dos Dogma. De acordo com Luís Possante, em declarações recolhidas pelas LOUD!: «Infelizmente a pandemia veio limitar muitos dos planos que tínhamos após o lançamento do segundo álbum», refere o guitarrista, sobre “Mallevs Maleficarvm” de 2020. «Fizemos o que foi possível dadas as circunstâncias, mas tudo tem o seu tempo e a partir do momento em que o Gonçalo nos disse que para ele os Dogma tinham cumprido os seus objectivos e não queria continuar, achámos que deveríamos pôr um ponto final nesse projecto». A transição acabou a revelar-se como uma transformação alquímica, atendendo às palavras de Possante. «Cada morte é um renascimento, de imediato começámos a planear o passo seguinte: um novo projecto com a Isabel como única vocalista». Afinal, a continuação dos músicos envolvidos «fazia todo o sentido uma vez que a química continuava lá, bem como a vontade de continuar a fazer música e, mais que tudo, a necessidade de expandir os limites daquilo que conseguimos fazer musicalmente».
Portanto, a formação dos Malignea contempla todos os antigos elementos dos DOGMA, com a excepção de Gonçalo Nascimento. Isabel Cristina na voz, Luís Possante na guitarra, João Pedro Ribeiro também na guitarra, Miguel Sampaio no baixo e Luís Abreu na bateria. Tal como sucedera na primeira morte dos Dogma e depois no final de Insaniae, Possante refere que começar um novo projecto é sempre «uma oportunidade de fazer algo diferente e mais ousado que o anterior», afirma o guitarrista, sem afastar as ligações estéticas, mas não deixando de referir: «Pelo material que já compusemos até agora, são notórias as incursões pelo death, thrash e até pelo black metal. (…) Só quando tivermos o álbum finalizado é que teremos a certeza do quadrante para onde a nossa bússola musical aponta».
As sessões de estúdio para o álbum de estreia estão provisoriamente previstas para o próximo Verão, após a pré-produção e ensaios que já estão em curso. Os Malignea deixaram nas suas redes sociais um teaser bastante residual, mas vão estrear-se ao vivo no dia 6 de Maio, no Side B, em Alenquer..
Um pensamento sobre “Malignea, Após a Segunda Morte dos Dogma”