Precursor de vários subgéneros, “Don’t Break the Oath” dos Mercyful Fate é um dos melhores álbuns da história do heavy metal. As guitarras de Hank Shermann e Michael Denner partiram da escola do NWOBHM e pavimentaram avenidas de fogo e shred para as décadas seguintes.
Originalmente editado no dia 7 de Setembro de 1984, via Roadrunner Records, “Don’t Break The Oath” é o segundo álbum de estúdio da banda dinamarquesa de heavy metal Mercyful Fate. Liricamente, King Diamond focou-se no velho Satanás e no oculto, mas ainda que o disco tenha ficado ligado conceptualmente ligado à primeira vaga do black metal e se tenha tornado uma referência para a segunda, acima de tudo os Mercyful Fate criaram um petardo de heavy metal tradicional de alta filigrana.
Desde a sua estreia e ao longo dos anos, “Don’t Break The Oath” tem sido aclamado pela crítica e muitos consideram-no um dos melhores álbuns na história do heavy metal. Alguns apontam-no mesmo como o melhor de sempre no género. Não nos atrevemos a ponderar essa hipótese, mas se o fizéssemos teríamos que considerar essa possibilidade. No mínimo, é preciso considerá-lo como um título inegociável no cânone metaleiro. São várias as razões para tantos e tamanhos elogios, desde logo as suas inovações e pioneirismo sónico.
“Don’t Break the Oath” foi lançado em 1984, como já foi referido, uma época em que o heavy metal ainda estava nos seus primeiros estágios evolutivos e a encontrar e definir os seus subgéneros distintos. A mistura única dos Mercyful Fate de heavy metal tradicional com elementos de speed metal e black metal diferenciou-os dos seus contemporâneos. O som sombrio e teatral do álbum, caracterizado pelos vocais característicos de King Diamond e pelo intrincado trabalho de guitarras de Hank Shermann e Michael Denner, mudou o jogo.
Agora que o referimos, os falsetes de King Diamond, muitas vezes descritos como operáticos e sinistros, tornaram-se uma das características que definem a música do Mercyful Fate. A sua interpretação dramática e teatral acrescentou um sentido de misticismo obscuro e horror ao álbum, contribuindo para o seu apelo duradouro, casando na perfeição com o conteúdo lírico. E depois, além do magnetismo lírico, sobressai essa singular capacidade de contar histórias de King Diamond, criando uma narrativa vigorosa e cativante ao longo do álbum.
Essa complexidade ou substantividade também alastra à musicalidade de “Don’t Break the Oath”. Os solos de guitarra, harmonias e riffs mostraram um nível de habilidade técnica que colocou o heavy metal mais próximo dos padrões de shred do hard rock da época e que, até aqui, eram quase exclusivos de Glenn Tipton e KK Downing, dentro do metal mais pesado. A capacidade da banda em alternar de modo perfeito entre passagens rápidas e agressivas e secções mais lentas e melódicas revela uma capacidade musical que não fica atrás de “Sad Wings Of Destiny”, “Screaming For Vengeance” ou “Defenders Of The Faith”.
A secção rítmica, com o baixista Timi Hansen e o baterista Kim Ruzz, fornece uma base sólida para os rendilhados de guitarra. O trabalho conjunto de Hank Shermann e Michael Denner é intrincado e melódico, com riffs e harmonias memoráveis que resistiram ao teste do tempo. Juntos, os guitarristas originais dos Mercyful Fate criam combinação explosiva de proezas técnicas, sensibilidade melódica e fazem emergir a atmosfera sombria e ameaçadora que ajudou a definir o estilo da banda.
Os Maiden, os Priest ou os Thin Lizzy haviam escrito os livros e, portanto, Shermann e Denner frequentemente empregam harmonias duplas de guitarra como manda a lei, mas com um toque mais sinistro. Ou seja, há vários elementos melódicos, mas maior foco no peso e agressividade. No final, as malhas são mais abrasivas que épicas. Virtuosismo, precisão e velocidade. Características que seriam elevadas a outro patamar quando, após a separação inicial da banda, Andy LaRocque se juntou aos Mercyful Fate e tornou-se preponderante na carreira de King Diamond. Para os mais puristas, este é o álbum perfeito.
Embora partilhe imensas semelhanças estilísticas com Shermann e Denner, LaRocque é mais capaz de arpejos, sweep picking e escalas complexas. Ao contrário de Shermann e Denner, o estilo de guitarra de LaRocque é mais influenciado por guitarristas neoclássicos como Yngwie Malmsteen, algo evidente no seu uso de escalas menores harmónicas e fraseados de inspiração clássica, que contribuem para um som mais virtuoso, onde os seus solos patenteiam um elevado grau de fluidez e melodia, com ênfase na selecção precisa das notas. Os solos de LaRocque são caracterizados pela sua qualidade emotiva e complexidade técnica.
Em resumo, enquanto Hank Shermann e Michael Denner lançaram as bases para o som icónico dos Mercyful Fate com o seu trabalho de guitarra harmonizado, riffs melódicos e atmosfera sombria, com foco na agressividade e velocidade. Andy LaRocque trouxe um nível mais elevado de precisão técnica e influências neoclássicas para o trabalho posterior da banda e para a carreira a solo de King Diamond. Cada guitarrista deu contribuições significativas para o legado dos Mercyful Fate e King Diamond e os seus estilos distintos oferecem profundidade e variedade ao catálogo da banda. Mas, em “Don’t Break The Oath” não são feitos compromissos de subtileza.
Seja como for, “Don’t Break the Oath” dos Mercyful Fate é considerado um dos melhores álbuns da história do heavy metal devido ao seu som inovador, às vozes icónicas de King Diamond, à escrita de canções e letras excepcionais, à complexidade musical, à influência no género, ao apelo intemporal e à aclamação consistente da crítica. Continua a ser uma pedra angular da música heavy metal e continua a ser celebrado pelos entusiastas do metal em todo o mundo.