Death

Death, Individual Thought Patterns

“Individual Though Patterns”, o quinto álbum dos Death, é considerado inconsistente por muitos fãs, mas é também nele que se encontra o pico artístico e criativo de Chuck Schuldiner e do death metal.

Para muito boa gente, “Leprosy” é o melhor álbum dos Death. Talvez tenham razão. Para muitos outros é “Human” e outros ainda pensam isso de “Symbolic”. Talvez a virtude esteja a meio caminho entre estes dois. Por aqui, “Individual Thought Patterns” é considerada a obra-prima de Chuck Schuldiner. Paul Masvidal abandonara a banda e para o seu lugar entrou Andy LaRocque, que aqui gravou o seu único disco com os Death (e um dos raríssimos discos que fez fora da esfera King Diamond) e traz para a equação um cariz mais melódico e um groove mais fogoso.

Steve DiGiorgio, além de Chuck, o único músico que transitou do line-up que gravou o álbum antecedente, “Human” (1991), e abordou este com um baixo fretless, recorda que Schuldiner determinou que LaRocque tocaria apenas os solos das canções e apenas lhe enviou os compassos de intervenção. Então o guitarrista impressionava toda a gente com os seus improvisos. Todavia, o próprio LaRocque refere que isso é um exagero e que estudou bastante cada um dos solos e preparou linhas melódicas alternativas antes de cada sessão de gravação. Seja como for, o resultado é impressionante. Junte-se a isso o demolidor trabalho de baterias de Gene Hoglan – a primeira vez que gravou com a banda – e o explosivo virtuosismo dos baixos de Steve DiGiorgio, naquele que foi o seu último registo com os Death.

A velocidade, articulação e precisão da secção rítmica é simplesmente avassaladora. Os fraseados de guitarra parecem menos cerebrais e mais explosivos, mas essa pode ser uma impressão retrospectiva e influenciada pela forma como apreendemos as diferenças de carácter musical entre Masvidal e LaRocque. O que não pode ser negado, seja qual for o ângulo, é que as expectativas sobre um novo álbum dos Death, na altura, seriam incomportáveis para qualquer outro compositor. Já Chuck Schuldiner decidiu quebrar o molde e criou arrojados padrões estéticos, que iria sublimar em “Symbolic”.

Talvez Masvidal tenha sido capaz de criar um álbum mais consistente em “Focus” – não custa imaginar que o tenha feito com demos para um eventual segundo disco com os Death – do que este “Individual Thought Patterns”, mas admitindo que o quinto álbum dos Death possui alguns momentos menos conseguidos, é também aqui, nos melhores momentos do álbum, que se pode ouvir o pico do génio criativo de Schuldiner. Nomeadamente em “Trapped In A Corner”, “Mentally Blind”, “Destiny”, “Out Of Touch” e “The Philosopher”. Forçando as barreiras sacrossantas do género até às margens do prog rock, nos momentos que se sentem mais espontâneos ou fluídos (e isto é uma sensação totalmente subjectiva), estamos diante do cume da montanha. “Destiny”, “The Philosopher” e “Mentally Blind”, são não só as melhores melhores dos Death, como do próprio género.

O trabalho instrumental em todo o disco é magnífico. Os riffs de guitarra são criativos, técnicos e pungentes, traduzindo de forma sublime emoções como raiva e ressentimento, tristeza e desespero. Essa emotividade é potenciada pelo desempenho vocal de Schuldiner, talvez até por (olhando agora em retrospectiva) se perceba que a sua voz estarian a começar a enfraquecer e a degradar-se. Quanto aos solos de guitarra, bom… Chuck e LaRocque juntos soam incrivelmente espantosos e alargam imenso o espectro musical deste aspecto particular da música dos Death. Acumulam ainda mais emoção e expressividade ao disco. A isto junta-se um desempenho mais comprometido de DiGiorgio que, já não se limita a colar de forma excepcional a bateria com a melodia como fez em “Human”, mas nos oferece um som lindíssimo e fluído, cheio de apontamentos harmónico e melódicos e com os seus próprios solos.

“Individual Thought Patterns” é o “Vol.4” dos Death e Chuck Schuldiner. Talvez pudesse ter sido aperfeiçoado, mas as suas imperfeições são aquilo que lhe dá carácter. No player seguinte (extraído ao Bandcamp dos Death), podem ouvir a versão alargada editada em 2013, depois de o disco ter sido remisturado e remasterizado pelo engenheiro Alan Douches (West West Side).

Um pensamento sobre “Death, Individual Thought Patterns

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