Nick Cave & The Bad Seeds, Dig Lazarus Dig

Sofisticado e catarticamente violento, “Dig, Lazarus, Dig!!!” é um álbum de charneira na discografia de Nick Cave & The Bad Seeds.

No segundo álbum sem Blixa Bargeld e no seu 14º álbum de estúdio, os Bad Seeds surgiram completamente recompostos da saída do criativo músico alemão. Gravado em 2007, nos The State Of The Ark Studios, em Londres, e misturado por Nick Launay nos British Grove Studios, foi editado a 3 de Março de 2008. Acabou por ser o último disco a contar com Mick Harvey (um dos fundadores dos Bad Seeds) e com James Johnston.

O álbum surgiu num contexto de pouco pretensiosismo ao ser anunciado como um simples retorno ao som e estética do início de carreira, em que era regido por uma vibração quase punk, quiçá por ser o primeiro trabalho após o álbum de estreia dos Grinderman. Mas isso foi, em certa medida, um bluff de Nick Cave – este não é um trabalho de regresso ao som de garagem dos primeiros trabalhos do músico, mas um álbum de rock cheio de exuberância, inovador uma vez mais e ainda com muitas incursões na estética psicótica e suja de álbuns como “Murder Ballads”, ou mesmo a banda sonora que Nick Cave criou com Warren Ellis para o western “The Proposition”. É catarticamente violento, mas possui uma produção lustrosa.

“Dig Lazarus Dig” aponta a esses primeiros tempos da carreira, mas apenas na dinâmica directa e marginal das músicas, mas essas foram sempre características dos registos de Nick Cave & The Bad Seeds, pelo menos a última. A questão é diptíca, como quase sempre sucede também. Há marginalidade com o charme de temas como a faixa título ou “We Call Upon The Author” ou então, a marginalidade obscura de temas como “Night Of The Lotus Eaters”. A vibração mais pacífica de trabalhos como “The Boatman’s Call” é neste trabalho conjugada com a agitação emocional de “Nocturama”, por exemplo.

Como sempre, a impressionante escrita de Nick Cave cria conceitos de violência, de redenção, de perda e de uma esperança obscura, condenada, em personagens endurecidos envolvidos por essa atmosfera única que a música de Nick Cave consegue criar: o paradoxo de que a violência ou as sombras também transportam beleza. É isso que distingue os trabalhos do australiano no prevísivel, e consequentemente chato, meio mainstream que atingiu.

“Dig Lazarus Dig” continua com o que surpreende sempre em Nick Cave & The Bad Seeds, essa criatividade que apresentam álbum após álbum e que, no entanto, surge sempre sustentada por bases alicerçadas numa simplicidade blues e jazz e mesmo folk – de facto, ao partir destes pressupostos os músicos conseguiram criar uma identidade sonora que permite explorar-se a si própria sem nunca ser abalada, por mais camadas que lhe sejam auto incutidas.

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