Joe Bussard, o coleccionador de discos e historiador da roots music norte-americana, morreu no dia 26 de Setembro de 2022. A sua filha Susannah Anderson confirmou que Bussard lutou contra um cancro pancreático durante quase três anos. Expirou aos 86 anos.
Joe Bussard nasceu a 11 de Julho de 1936, em Frederick, Md. Desde muito jovem, a sua paixão era a preservação discográfica. Ao longo da sua vida procurou discos obscuros de 78 rpm que, de outra forma, teriam desaparecido para sempre: discos de jazz, blues, bluegrass, country e folk do início do século XX – a história da América, da sua música e, por consequência da música mundial, impressa em shellac [a goma/laca de resina]. Com o tempo, acumulou milhares de discos, todos armazenados na sua cave, nenhum deles em qualquer ordem particular.
Mas Bussard não se limitou a recolher e arquivar registos antigos, ele criou novos também. Aidna adolescente, fundou Fonotone, uma editora que lançava 78s quando mais ninguém o fazia, e concentrou-se na música de guitarra dedilhada ao estilo hillbilly e bluegrass que estava a ser feita na altura, incluindo algumas das primeiras gravações do famoso guitarrista John Fahey. De 1956 a 1969, a Fonotone documentou aquilo a que Mike McGonigal chamou «um lado diferente (e raramente visto) do ressurgimento do folclore, menos originário dos quadrantes académicos ou de protesto e mais da perspectiva dos coleccionadores». Em 2005, Bussard trabalhou com Lance Ledbetter para compilar o catálogo da editora como “Fonotone Records: Frederick, Maryland (1956-1969)” – o conjunto de cinco CDs, maravilhosamente alojado numa caixa de charutos, foi nomeado para o melhor pack de edição limitada nos GRAMMYs de 2006.
A colecção pessoal de Bussard também permitiu a criação de “Down in the Basement: Joe Bussard’s Treasure Trove of Vintage 78s” e “Joe Bussard Presents: The Year of Jubilo — 78 rpm Recordings of Songs from the Civil War”, compilações que transportam o ouvinte para outros lugares e outro tempo. Mas mais do que tudo, Bussard adorava partilhar a música, tocá-la e dá-la a conhecer. «Se começo a tocar discos, não consigo parar», dizia Bussard a Steve Inskeep, da NPR, em 2003. Essa generosidade resultou mesmo em vários programas de rádio que apresentou, mas também, e especialmente, na sua casa em Maryland.
«Ele adorava pessoas», disse Ledbetter à NPR. «Ele adorava criar ligações entre as pessoas através da música. Ele era um poço de sabedoria, mas adorava partilhá-la». Mesmo durante este ano, em que a doença já estava tão avançada, os fãs visitavam a cave de Bussard para ouvir discos da sua colecção – «isso significava muito para ele», acrescenta Ledbetter.
Podem ver essa tremendo entusiasmo no documentário “Desperate Man Blues”, de 2003, mas ainda mais recentemente num pequeno vídeo publicado pelo repórter Joe Heim, quando, depois de colocar a agulha num amado disco, os olhos de Bussard brilham intensamente.
Este é um artigo original de Lars Gotrich, na NPR. A fotografia que abre o artigo é cortesia da Dust-to-Digital.
Um pensamento sobre “O Legado de Joe Bussard”