Em “Disintegrate”, os OAK mostram várias facetas sónicas, de considerável poder. Ao longo de uma única faixa (quase 45 minutos), o vigor dinâmico é mais feito por intensos contrastes que pela progressão da unidade.
“Lone”, o primeiro disco dos OAK, foi lançado em 2019, através da Transcending Obscurity. Justamente com esse álbum, a banda captou a atenção da Season Of Mist, onde Guilherme Henriques é colaborador, produzindo muitos dos vídeos dos artistas do selo editorial. Não foi, portanto, muito surpreendente que os OAK e a Season of Mist tivessem chegado a acordo e assinado contrato para edição do segundo álbum do duo portuense.
Constituído por Pedro Soares, na bateria, e Guilherme Henriques na guitarra e voz, o grupo de death/doom passou para a Season Of Mist, etiqueta dos também nacionais Gaerea (mais aproximados à estética black metal), que editaram o álbum “Mirage” nesse ano. «No seguimento de “Limbo”, os Gaerea apresentam ainda maior capacidade de materializar o desespero e o nihilismo no seu terceiro álbum. “Mirage” soa com um poder selvático e sente-se como um intenso exercício catártico», lê-se na review que fazemos a “Mirage” dos Gaerea.
Fazemos referência aos Gaerea porque os OAK partilham mentes criativas com esse projecto que, de resto e ainda que indirectamente, sente-se neste segundo disco, que foi gravado nos Stone Sound Studios, sob a batuta de Ricardo Oliveira. Tratam-se dos mesmos estúdios em que nomes como Colosso, Holocausto Canibal ou The Ominous Circle já trabalharam. “Disintegrate”, chegou a 10 de Fevereiro de 2023. A capa do disco foi concebida pela Belial NecroArts e a banda descreve: «A mesmerizante pintura de Belial NecroArts descreve, em cada pincelada, a passagem para o mundo imaterial através de uma espiral de chamas, que desintegra o corpo e liberta a alma do colosso».
A estilização visual, conceptual e da própria produção sónica são os pontos de contacto com os Gaerea, atrás citados. De resto, sabe-se que é aqui que são depositados os riffs e ideias que não “cabem” no projecto principal. Poderia, desde logo, pensar-se que este registo seria uma colagem de segmentos, mas a sua legitimidade já está provada desde o coerente álbum anterior. Desta feita, num trabalho que possui uma única faixa, que se estende ao longo de 44 minutos (inusitado, mas não inédito), Henriques e Soares resolvem quase sempre bem o maior obstáculo de coisas com esta escala: a vivacidade.
Os músicos jogam mais com contrastes dinâmicos, com a tradicional dicotomia entre os momentos de som “limpo” e os de distorção, do que com um progressivo crescendo de intensidade. Por isto, há que saudar a grande prestação de Soares ao longo do disco. Tecnicamente vibrante e com uma desenvolta noção de tempo – desde as suaves e expansivas batidas que acompanham os momentos mais etéreos do álbum, às erupções de blastbeat e “everything in between”, como dizem os ingleses.
“Disintegrate” destaca-se mais nas encantadoras envolvências melódicas e nas linhas de estilista que costuram diversos tipos de linguagem (e alguns clichés) numa única peça. Porque, apelando ao universo post metal, está bem enraizada no bom e velho death/doom. Há mais Agalloch que Isis, mais Mournful Congregation que Amenra, mais Shape Of Despair que Defheaven. Podem até ser traçada uma genealogia que nos leva até essa obra-prima dos Paradise Lost intitulada “Gothic”.
A forma como tudo isto soa colado deriva do desenvolvido sentido estético dos músicos e da produção, que une os pontos com elegância e subtileza. Desse modo, sobressai progressivamente a verdadeira dimensão atmosférica deste “Disintegrate” e, finalmente, a autenticidade que se sente da entrega emocional dos executantes.