Don Atkins esteve no início da explosão do Hard Rock de Hollywood, e tirou algumas das primeiras – e no caso de Mötley Crüe, as muito primeiras mesmo – fotografias de algumas das bandas mais lendárias da Strip.
Se alguma vez quiseste saber como era a cena rocker da Sunset Strip (Los Angeles) no início dos anos 80, um bom lugar para começar essa descoberta seria com as fotografias de Don Adkins. Nascido em Cerritos, Adkins começou por fotografar artistas locais de L.A. como Dyan Diamond e as Orchids, ambas bandas femininas que eram geridas pelo produtor/empresário Kim Fowley.
Um dia, a baterista das Orchids, Laurie Bell, perguntou a Adkins se ela alguma vez tinha visto a banda do seu namorado actuar. «Disse-lhe: ‘Não, quem é o teu namorado?’ Ela disse-me que ele tinha uma banda chamada London», recorda Adkins. «E foi assim que conheci o Nikki Sixx». O fotógrafo travou amizade com o músico e começou a fotografá-lo. Quando Sixx deixou os London para começar Mötley Crüe, Adkins acompanhou tudo, testemunhando alguns dos primeiros ensaios dos Crüe e tirando as primeiras fotos da banda que, em breve, se tornaria lendária.
Mesmo após concluir a sua formação académica em Engenharia, o que acabou por conduzi-lo a uma carreira de sucesso na indústria aeroespacial, Adkins continuou a tirar fotografias, o que fez com que tenha tido encontros com uma série de rockers de L.A. em ascensão como os Quiet Riot, Ratt, W.A.S.P., Poison, Great White e Faster Pussycat.
Adkins juntou-se à Metal Edge para revelar uma galeria de fotos exclusiva, com algumas das imagens mais marcantes dos seus primeiros dias a documentar a cena de Hollywood. E se quiseres ver mais do trabalho de Adkins, tanto do passado como do presente, eis as suas páginas Instagram e Facebook e ainda ao seu site oficial.

London, 1980 | Conheci o Nikki no Starwood e ele começou a convidar-me para todos os concertos dos London. A nossa relação cresceu a partir daí. Muito em breve ele disse: «Ei, precisamos de algumas fotos de estúdio. Pode ajudar-nos?» Então ia ao estúdio deles, erguia cenários temporários e fazia fotografias. Esta foto foi tirada no seu espaço de ensaio em Los Alamitos, um subúrbio de L.A., na versão final dos London com Nikki. O cantor principal desta iteração foi Michael White [à esquerda], que mais tarde liderou um grupo de tributo aos Zep chamado The White. Os outros membros foram o baterista Dane Rage [terceiro da esquerda] e Lizzie Grey [guitarra, à direita], que se manteve nos London até ao fim.

Circus Circus, 1980 | Esta banda do Blackie Lawless tinha o Randy Piper [à esquerda] na guitarra. Isto foi no período após o Blackie ter terminado os Sister, banda que também tinha incluído o Nikki, e antes da sua curta passagem nos London e de ter formado os W.A.S.P. A música dos Circus Circus era hard rock e metal com um toque de acessibilidade pop, com todo um palco temático a evocar o circo. O Blackie convidou-me para ir ao seu estúdio, em Los Alamitos, para os ver enquanto a mulher de Randy, Bell Piper, os filmava. Acabei por gastar um rolo de fotos. Pensei que estes tipos eram muito bons. Ainda tenho a demo tape de alta qualidade, que parecia estar pronta para ser masterizada num álbum. Todas as bandas nesta altura estavam basicamente a atirar coisas contra a parede e a ver o que grudava. E o Blackie realmente investiu muito tempo e energia nisso. A banda criou todo o cenário do circo e Blackie tinha grandes planos para eles. Não sei por que razão não foram mais longe, mas depois teve a oportunidade com os London e decidiu-se por isso.

Mötley Crüe, 1981 | Vi pela primeira vez Mötley Crüe num estúdio de ensaio a tocar com um cantor chamado O’Dean. Era apenas um punhado de nós a assistir, e eles fizeram algumas canções – Pode ter sido “Stick to Your Guns” e “Toast of the Town”. Algumas semanas depois disso, Nikki entrou em contacto comigo e disse que as coisas não tinham resultado com O’Dean e que tinham um novo vocalista – Vince Neil, da banda de covers local Rockandi. Ele começou a descrevê-lo: “Ei, temos este vocalista com um som diferente. A sua voz, é quase como se ele fosse do espaço! É tão invulgar”. Depois ouvi essa versão da banda no seu estúdio de ensaio e fiquei tipo: “Oh bolas. Isto é realmente, realmente, realmente bom”…” Nikki era amiga íntima de David Forrest, o director-geral do Starwood, e já estava a preparar o primeiro encontro ao vivo da sua nova banda. Ele disse-me: “Ei, precisamos de algumas fotos, pode fazer uma sessão de estúdio connosco?” O engraçado é que eu nem sequer tinha iluminação de estúdio, mas não queria perder a oportunidade. Por isso saí e comprei cinco luzes quentes do estúdio Smith-Victor de 500 watts, e instalei-me na casa dos meus pais em Cerritos, que tinha uma sala de estar com uma parede branca de dois andares de altura que pensei que iria funcionar para uma sessão clássica de estúdio. E foi aí que filmei o primeiro rolo de filme do novíssimo Mötley Crüe. Esta foto é dessa mesma primeira sessão. As fotografias individuais da sessão foram também utilizadas na parte de trás do disco “Stick to Your Guns”/”Toast of the Town”, o primeiro single da banda.

London, 1981 | Os London estavam a tentar ajustar-se às mudanças de músicos depois de perderem o Nikki. Uma das formações de curta duração foi com o Blackie como frontman. Esta versão da banda durou apenas o tempo suficiente para uma sessão fotográfica e um espectáculo ao vivo no Starwood antes de se desintegrar. Lembro-me do Blackie querer ir numa direcção mais complexa e pesada, enquanto os London queriam, essencialmente, manter um rock de acessibilidade mais pop.

Tantrum, 1981 | Derpois da sessão fotográfica dos Mötley Crüe, as miúdas de Tantrum gostaram das imagens que viram e fui escolhido para a primeira sessão fotográfica deste quarteto feminino de hard rock. A lona azul atrás delas é algo da minha segunda sessão com os Crüe, que usei quando elas quiseram acrescentar um pouco mais de cor às imagens. A ligação das Tantrum aos Mötley surgiu da baterista Laurie Bell, que tinha estado em Orchids, e da cantora Wendy Correa, que eram à altura as namoradas do Nikki e do Mick Mars, respectivamente. Preenchendo a formação das Tantrum estava Tahni Handal na guitarra e Merri Peril no baixo. Conseguiram um grande sucesso na cena local e é surpreendente que não tenha escalado. Era uma banda muito boa.

DuBrow, 1981 | Depois do Randy Rhoads ter saído dos Quiet Riot para se juntar a Ozzy Osbourne, a banda basicamente separou-se e o Kevin [DuBrow, o frontman] começou um novo grupo. Este foto foi feita num concerto de DuBrow no Whisky [a Go Go], em Outubro de 1981. O Randy já estava a tocar com o Ozzy nesta altura, mas devia estar pela a cidade e foi ao concerto. O Rudy Sarzo estava a tocar baixo e oFrankie Banali estava na bateria, por isso foi como uma mini reunião DuBrow/Quiet Riot. Lembro-me que depois do concerto todos nós estávamos a descontrair nos bastidores e o Frankie precisava de uma boleia para casa. Estava a preparar-me para sair de qualquer maneira, por isso levei-o a casa naquela noite. Pouco tempo depois daquele concerto, DuBrow mudou novamente o nome de Quiet Riot e atingiu um enorme sucesso com o “Metal Health”.

W.A.S.P., 1982 | Depois dos Circus Circus e dos London, o Blackie encontrou um conceito e direcção sólidos com o seu novo grupo, os W.A.S.P. Esta é uma imagem da primeira sessão fotográfica da banda. Tornara-me amigo do Blackie e também do baixista Rik Fox e eles ligaram-me a dizer que precisavam de imagens para a nova banda. Isto foi antes de terem o Chris Holmes na guitarra. A formação era o Blackie, o Rik, o Randy Piper, que tinha estado nos Circus Circus com o Blackie, e o Tony Richards. Como sucedera com os Mötley Crüe no ano anterior, realizámos a sessão na sala dos meus pais, contra a mesma parede branca. Só que coloquei a lona azul da sessão das Tantrum atrás deles. No espaço de um ano, os infames concertos dos W.A.S.P. torná-los-iam bastante famosos.

Poison, 1985 | Os Poison tinham acabado de chegar a L.A., oriundos da Pensilvânia, e a [manager] Vicky Hamilton estava a ajudá-los. Conhecera a Vicky quando ela trabalhou com Mötley Crüe, nos primeiros tempos da banda. Então ela telefonou-me e disse: «Olá, Don, tenho aqui uns tipos. Acho que eles são bons. Precisamos de uma sessão fotográfica». Vieram todos à minha casa em Redondo Beach, que era uma casa de apenas 80 metros quadrados, mas tinha uma sala de estar suficientemente grande para colocar um pano de fundo portátil. Afastava toda a mobília, esticava o pano de fundo, montava as luzes e fotografava. Fizemos a sessão numa noite e os rapazes eram bastante divertidos e muito educados. Foi quando ainda tinham o seu guitarrista original, o Matt Smith [terceiro a partir da esquerda], que foi rapidamente substituído pelo C.C. DeVille. Lembro-me que quando os vi pela primeira vez estavam a maquilhar-se e pensei: «Estes tipos são lindos. São mais bonitos que muitas mulheres!»

Faster Pussycat, 1985 | Faster Pussycat foi outra das bandas da Vicky Hamilton. Esta sessão foi em Outubro de 85 e lembro-me de ter sido bastante apressada. Penso que teve lugar na área da recepção do estúdio onde eles ensaiavam. Foi algo como: «Ei, estamos aqui um pouco de tempo. Vamos fazer isto». Levei um par de luzes portáteis e instalámo-nos ali mesmo no átrio, boom, boom, boom, boom. Lembro-me que havia uma mesa de café com um monte de cervejas e copos de imperial e também fizemos algumas chapas à volta dessa parafernália. Mas foi tudo muito rápido – não mais do que uma hora. Pouco depois disso, comecei a ouvir o falatório acerca dos Faster Pussycat. Eles estavam a chegar a sítios. Mas eu já estava a trabalhar na indústria aeroespacial há alguns anos e, por essa altura, tive um tipo de ascensão meteórica nesse mundo e estava a concentrar-me mais na minha carreira e menos no rock. Nunca mais voltei a ver os Faster Pussycat depois disso.