The Final Cut, O Último Álbum Antes do Cisma

Inicialmente planeado como um companion disc ao filme “The Wall”. Refeito como uma crítica ao Jingoísmo do governo de Thatcher na Guerra das Malvinas. O título faz referência a “Júlio César” de Shakespeare, «De todos, foi o golpe mais ingrato» (Acto III, Cena II).

“The Final Cut”, o décimo segundo álbum dos Pink Floyd, foi editado no dia 21 de Março de 1983. O disco é composto por material que acabou por não ser usado no anterior e colossal álbum, “The Wall”, além de algumas composições novas. O disco estava originalmente planeado para ser parte da banda-sonora do filme de Alan Parker, o que acabou por não acontecer. Ganha ainda maior importância histórica por ter sido o último gravado com Roger Waters…

Em 1985, deu-se uma das cisões que mais abalou a indústria da música. Roger Waters abandonava os Pink Floyd e Nick Mason e Richard Wright, também eles membros fundadores da colossal banda optavam por seguir a sua actividade com David Gilmour. Waters iniciou uma carreira a solo (mais vezes focada em trabalhar sobre os álbuns da sua fase na banda) e os Pink Floyd gravaram “A Momentary Lapse Of Reason” e “The Division Bell”. Depois, em 2014, ainda seria editado “The Endless River”, partindo dos outtakes de “The Divsion Bell”, para homenagear o falecido Richard Wright.

A separação fez correr muita tinta, nesse dias. É mais ou menos sabido que Waters e Gilmour já não se suportavam – basta pensar nas histórias das gravações do histórico “The Wall”. Muitos rumores, muitos boatos, muito diz que disse. O assunto nunca foi devidamente encerrado, mas foi arrefecendo. No entanto, no seguimento promocional das reedições de material da banda, incluso o período inicial com Waters, chegou a vez das reedições da era imediata à saída do baixista original, nomeadamente “A Momentary Lapse Of Reason” e “The Divison Bell” e os imponentes álbuns ao vivo “Delicate Sound Of Thunder” e “Pulse” (a luzinha do vosso ainda pisca?).

Estávamos em 2019 e, com essas reedições, Gilmour trouxe nova luz sobre o cisma dos Pink Floyd. O homem que passou a liderar a banda afirma que esse momento foi libertador, especialmente considerando aquele que foi o ambiente nas sessões de “The Final Cut”. «Todos sabíamos que o Roger iria sair. Ele não estava feliz, nós também não. Sempre soube que queria seguir em frente, o Nick parecia desejar isso também. Falei com Rick durante uma folga, na Grécia, e conversamos sobre seguir em frente e ele também queria». Depois de abordar as discussões com Waters, recorrentes nos seus últimos anos nos Pink Floyd, Gilmour, adianta: «Tinha a certeza que as editoras gostariam de lançar um álbum nosso. Obviamente, não ter o Roger foi algo diferente, mas em algumas formas, sentimo-nos livres. As tensões dos dois álbuns anteriores, especialmente em ‘The Final Cut’, já não estavam mais ali. Éramos apenas nós juntos, a compor e gravar. Havia um sentimento de liberdade e optimismo».

O enorme cisma entre Roger Waters e os restantes membros sobreviventes dos Pink Floyd, nomeadamente David Gilmour e Nick Mason, está para continuar. Numa nova entrevista, em Outubro passado, na The Coda Collection, o baterista reagiu, sem poupar na ironia, às afirmações de Roger Waters de que tinha sido intimidado por outros membros da banda. «Stalin foi intimidado», Mason disse…

Os comentários de Waters, que confessou amargurado ter sido alvo de bullying nesses tempos nos Pink Floyd, surgiram num episódio de Agosto do WTF podcast de Marc Maron. «Estavam sempre a tentar mandar-me para baixo», disse Waters, acusando particularmente o seu alvo preferencial, David Gilmour, mas também o falecido Richard Wright. «Estavam sempre a tentar menosprezar qualquer ponto alto meu». Confrontado com estas declarações, Mason riu-se. «Isso deixa-me ligeiramente estupefacto», disse. «Penso que essa é uma forma demasiado dramática de referir-se a algum tipo de divisão que havia dentro da banda. De certa forma, o Roger olhava sempre um pouco para além da música. Penso que era algo artificial, que possivelmente havia o seu lado que queria fazer insufláveis e filmes, assim como música, e aqueles que só queriam fazer música. Mas, penso que não eram desagradáveis para ele. É difícil imaginar ser mau para o Roger». E então atirou, irónico, que o ditador soviético também foi alvo de bullying – em menção aos abusos que Stalin sofreu na infância, de acordo com vários historiadores.

A última reviravolta nesta lavagem de roupa suja surgiu na sequência da polémica com a edição remasterizada de “Animals”, depois de Roger Waters continuar a alimentar o seu enorme ressentimento contra David Gilmour e manter ataques ferozes ao seu antigo companheiro nos Pink Floyd e à sua esposa, Polly Samson. Segundo Waters, essa edição tem sido adiada porque Gilmour pretende obter mais reconhecimento nas composições do que o que merece realmente. Isto já depois de Waters ter acusado Gilmour de o “banir” do website do grupo e das contas dos meios das redes sociais.

De volta a “The Final Cut”. Sendo justos, o álbum esteve condenado desde o arranque das sessões, afinal o seu pressuposto inicial já não era o ideal. Juntando-se a isso a pouca contribuição criativa da banda, este é um álbum de colagens, essencialmente, com as pontas seguras por Waters. Isso torna-o quase num álbum a solo do vocalista/baixista das lendas britânicas (e muita gente olha-oa dessa forma). O estatuto que conquistou ao longo das décadas deve-se à nostalgia que é capaz de evocar, de que foi o “corte” final de uma banda que, mesmo nos seus momentos menos fulgurantes, permanece inigualável até aos nossos dias. Eis a versão remasterizada de 2011…

Um pensamento sobre “The Final Cut, O Último Álbum Antes do Cisma

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