R.A.M.P., Thoughts

Editado em 1992, “Thoughts” permanece como o pináculo da carreira dos R.A.M.P. Uma vibrante fusão entre o thrash norte-americano com apontamentos NWOBHM, melódico, intenso e progressivo.

No final dos anos 80 e início dos anos 90, o panorama do metal português era relativamente pequeno, mas vibrante. A maioria das bandas era fortemente influenciada pelo reinante movimento thrash, mas também havia bandas que incorporavam elementos de death, black e power metal no seu som. No geral, a cena heavy portuguesa nessa transição de décadas era uma comunidade muito unida de músicos e fãs apaixonados pelo submundo do peso. Embora, até pela sua dimensão reduzida, possa não ter conquistado o reconhecimento de algumas outras cenas europeias na altura, em retrospectiva tem a sua dose de relevância no movimento metal global e ajudou a preparar o caminho para as futuras gerações de bandas de metal nacionais.

Desde logo, olhando agora a passagem dos anos, aí nasceram os Moonspell (formados em 1989) e a sua exótica mistura de black metal com o folk ibérico e, mais tarde, com o rock gótico. O ano é 1993 e a MTV ainda é um canal de música. Vanessa Warwick é o rosto da versão europeia de um dos mais celebrados programas da estação, o Headbangers Ball. O tema título do álbum de estreia dos Sacred Sin, “Darkside”, o primeiro disco na história do metal português a ser editado no formato CD, teve honras de transmissão no icónico programa, conquistando o feito inédito até aí de uma banda nacional ter a sua música na estação internacional. Outra banda que ganhou reputação que extravasou as nossas fronteiras, foram os Desire e o seu pungente doom metal, estreado em álbum em 1995.

Claro, poderíamos ainda mencionar os Shrine, os Thormenthor ou os Decayed, entre outros, mas quem aqui nos trouxe são os R.A.M.P. A mistura de thrash e metal progressivo da banda ajudou-os a destacarem-se e o seu álbum de estreia “Thoughts” (com edição numa major label multinacional) foi bem recebido pelos fãs de metal em Portugal e no estrangeiro. “Thoughts”, foi lançado em 1992 e, independentemente do ângulo de análise, é considerado um álbum clássico na cena de thrash metal dos anos 90.

O álbum apresenta uma mistura de riffs de guitarra agressivos e cativantes, com uma bem ponderada secção rítmica, com desenvoltas e intrincadas partes instrumentais e mudanças de tempo inesperadas. E, talvez, aquilo em que a banda mais se destacava dos seus pares na época, a imponência vocal de Rui Duarte. Desde “The Comedians”, que abre o disco, que a crítica social e política se manifesta entre os riffs rapidamente esgalhados sobre a intensidade de bateria. O seu corpo sonoro é bastante datado, mas as guitarras harmonizadas, a eficiência técnica dos solos e os apontamentos jazz do baixo, são intemporais.

A balada “The Last Child” foi o chamariz mediático para o disco, mas petardos como “Desillusions” (onde se cheira não apenas o thrash norte-americano, mas também o NWOBHM), “Try Again” (um punk para lá de orelhudo) e “In The Beginning” (uma superabundância de groove e, para nós, o malhão do LP) são a sua garantia de imortalidade. No final, “Thoughts” é um disco que funde o thrash tradicional e a sua agressividade, com memoráveis ganchos melódicos e uma capacidade dinâmica assinalável. Com todo o respeito pela longa carreira dos R.A.M.P., este disco permanece altivo como o seu pináculo.

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