“Vai Não Vai” e “Maçãzinha” são mais dois avanços para o segundo disco de Retimbrar. “Levantar do Chão” tem data de edição marcada para 22 de Setembro.
Primeiro foi “Voa Pé” (2016). Agora, depois de uma data de edição provisória que apontava para final de Maio, o segundo disco dos Retimbrar, “Levantar do Chão”, vai chegar no dia 22 de Setembro. Conta com a participação de mais de 80 pessoas e reúne temas aprendidos e/ou criados ao longo de uma década, num percurso de colaborações com músicos ligados às tradições musicais portuguesas, grupos de Zés Pereiras e Ranchos Folclóricos. A edição de “Levantar do Chão” tem o apoio da Fundação GDA, da SPA e do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança (pólo da Universidade de Aveiro) – que acompanhou o processo de construção do disco com vista à realização de um documentário sobre o mesmo.
As palavras de apresentação são do próprio grupo, espalhadas nas redes sociais e aqui recolhidas porque o projecto merece atenção. Os primeiros sons chegaram com “Coisas da Minha Terra”, tema que celebra o encontro entre Retimbrar, o Grupo Folclórico Tradições Baixo Douro e os centenários Mareantes do Rio Douro, a quem se deve o ritmo que deu chão à canção. As palavras são do poeta gaiense José Guimarães, e foram reavivadas durante o projecto “Malhão de Gaia”, para o concerto de encerramento do evento GTM – Gaia todo um mundo, que em Junho de 2017 não chegou ao público porque, no mesmo dia, foi decretado luto nacional pelos incêndios de Pedrógão Grande. O vídeo que acompanha o tema foi dirigido por Augusto Lado “½ Pirata Mau” e aponta-nos os sentidos para uma natureza transformada, entre ganhos e perdas, num ambiente quase incolor feito de matéria e memória.
Já em agosto fez-se ouvir “Vai Não Vai”. É uma cantiga de pergunta e resposta, pensada para o espetáculo “Voa Pé – O Arraial”, com direção cénica de João Pedro Correia e directamente inspirada na estrutura de rima e música, da tradicional canção de trabalho “Ó que lindos olhos tem a padeirinha” que nos foi dada a conhecer no festival BONS SONS 2010 pelas Adufeiras de Monsanto. São elas as eternas guardiãs da tradição do toque e das cantigas de adufe; mulheres e figuras de fé em quem reconhecemos a resiliência como uma atitude perante a vida. “Vai Não Vai” é o desejo de ver retratado aquele que é, muitas vezes, o intervalo que sentimos estar entre os tempos de espera e as tomadas de decisão, quando o ímpeto se apodera de nós. E de um verso seu, se deu nome ao disco: «Se aguentar da queda, vai levantar do chão».
Conhecida do álbum de 1977 “Dança das Romarias da Beira-Baixa” do Rancho Folclórico de Silvares (Fundão) e, por variadíssimas vezes, ouvida no leitor de cassetes da carrinha onde a banda tanto viajou – a melodia-base desta canção foi cantada e reescrita pelos Retimbrar, pela primeira vez, para o aniversário da amiga Helena Oliveira, durante o primeiro recolher obrigatório da pandemia, em Março de 2020. Desde então que passou a fazer parte do repertório e teve muitas formas, mas sempre falou, e fala ainda, de afectos e do sentimento de cuidar, sob o olhar de duas gerações. Uxía surge como convidada a assumir o lugar de anciã desta “Maçãzinha” que é dedicada a Isabel Silvestre, especial cuidadora e defensora das nossas raízes e figura dianteira das tradições de (en)cantar da região de Manhouce.
A foto do artigo é de João Pádua.