Porventura, os islandeses já terão sido mais relevantes no panorama mediático, mas a sua música é cada vez mais refinada, algo facilmente atestado pelos concertos com a Los Angeles Philharmonic Association ou o trabalho orquestral que resultou no disco do final de 2020, “Odin’s Raven Magic”.
Existem inúmeros exemplos de bandas que se juntaram a orquestras e o resultado, espacialmente nos aspectos sónicos, é um estrondo. Sigur Rós com a Filarmónica de Los Angeles é simplesmente fenomenal. Em Abril de 2017, durante três dias, os Sigur Rós estiveram numa residência no Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles em conjunto com a Los Angeles Philharmonic Association. Uma dessas apresentações foi gravada e, ao longo de quase duas horas, podemos ouvir temas dos islandeses com novos arranjos, feitos especialmente para a ocasião, em colaboração com compositores como como Anna Meredith (“Fljótavík”), Daníel Bjarnason (“Á”) ou Dan Deacon (“Festival”). Profundo, bonito e arrepiante.
Depois a banda decidiu trabalhar seriamente no álbum “Odin’s Raven Magic”, cujas apresentações orquestrais originais tiveram lugar no ano de 2002, onde os Sigur Rós, durante o Reykjavik Arts Festival, actuaram em conjunto com a Orchestre des Laureats du Conservatoire National de Paris e a Schola Cantorum of Reykjavik. O novo disco tem a colaboração dos músicos Hilmar Örn Hilmarsson, Steindór Andersen, Páll Guðmundsson e Maria Huld Markan Sigfúsdóttir e foca-se no fascínio do primeiro pela literatura medieval islandesa, mais concretamente o conto Hrafnagaldur Óðins ou Odin’s Raven Magic. O músico salienta que «Hrafnagaldur Óðins tem vários tipos de interpretações que despertam a imaginação».
Escrito no século XIV ou XV, é um poema islandês da antiga tradição Edda (termo que descreve dois manuscritos islandeses que são as principais fontes da mitologia nórdica e da poesia dos skalds), da qual o seu autor anónimo tinha claramente um conhecimento íntimo da literatura e mitologia que alude a uma série de motivos pagãos que agora se vão perdendo. O poema narra um grande banquete realizado pelos deuses em Valhalla. Enquanto estavam absorvidos no seu banquete, surgiram sinais sinistros que poderiam predizer o fim dos mundos dos deuses e dos homens. O poema – esteve afastado da literatura antiga dominante desde 1867, quando o estudioso norueguês Sophus Bugge afirmou que se tratava de uma falsificação do século XVII. Esta teoria foi desde então refutada, com argumentos literários e linguísticos, e novas pesquisas concluíram que Hrafnagaldur Óðins era uma composição autêntica, tendo sido finalmente reintroduzida no Edda.
A performance presta homenagem ao poema, dramático e belo, clássico e contemporâneo. Uma marimba de pedra foi construída especialmente para a performance de Páll Guðmundsson.
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