SWR Feast, A Sombra dos Morbid Angel

Através de crua ferocidade, poder barbárico e execuções com o vigor técnico do thrash metal e do death metal old-school, os Skeletal Remains e os Sijjin colocaram-nos diante dos “Altares de Loucura”, no primeiro e no segundo dia do SWR, respectivamente.

2022 marcou 25 anos sobre a primeira edição do SWR – BARROSELAS METALFEST e foi, na realidade, a 23ª edição do evento. Pelas razões sobejamente conhecidas foi uma edição mais reduzida, apropriadamente apelidada SWR FEAST. Apesar das condicionantes que no mundo das digressões são ainda muitas, particularmente financeiras e logísticas, os passos a dar foram curtos, para não comprometerem o futuro. Por tudo isso, a edição deste ano apenas incluiu dezasseis bandas, divididas por dois dias e o mesmo número de palcos. Todavia, a organização esmerou-se por proporcionar uma experiência memorável a todos os que visitaram Barroselas (com números a ultrapassarem ligeiramente o milhar em ambos os dias). E os concertos não desiludiram, bem pelo contrário. Já deixámos a nossa impressão da triunfal actuação dos Autopsy. Debruçamo-nos agora sobre as explosivas injecções de thrash/death old-school dos Skeletal Remais e dos Sijjin.

Nascido nas cinzas dos Necros Christos, este power trio germânico começou por estrear em 2019 uma demo ainda bastante colada a esse espectro do black metal. Sucede que no seu primeiro álbum, “Sumerian Promises”, a banda aumenta a velocidade de execução e mistura death metal com thrash, conseguindo criar alguma densidade atmosférica e riffs orelhudos, bons solos de guitarra e fúria de sobra para que qualquer fã da era 90-95 dos Morbid Angel se sinta em casa ao ouvi-los. Pelas ligações óbvias a Necros Christos, era uma banda que gerava bastante expectativa e da qual não se sabia bem o que esperar ao vivo.

Sucede que o concerto foi arrasador. Muito menos atmosférico e bastante mais cru que aquilo que se pode ouvir no álbum. Os Sijjin foram maquinalmente propulsivos numa execução old school, na qual a enorme competência da secção rítmica – composta pelo frontman e baixista Malte Gericke e o baterista espanhol Iván Hernández – ofereceu um enorme espaço à magistral actuação do guitarrista, o basco Ekaitz Garmendia. Com uma Dean ML Select, equipada com pickups PAF Pro da DiMarzio, em vez dos Seymour Duncan de origem, tal como um Floyd Rose em vez do original Kahler Hybrid, Ekaitz ofereceu uma manifestação de demência, velocidade e exuberância técnica – repleta de divebombs, tapping em bendings, arpeggios e enorme articulação no picking, mesmo nos riffs mais velozes e complexos – que, horas após o concerto, ainda permanecia como assunto de conversa entre os festivaleiros que assistiram ao concerto. Já agora, referir que Gericke “perdeu” o seu baixo numa troca de vôos a caminho de Barroselas. Acabou por tocar com um Ibanez EDB-500, gama descontinuada a meio da primeira década do milénio.

A setlist, não podia ser de outra forma, focou-se no álbum de estreia, que conta com dois temas demo digital, “Angel Of The Eastern Gate” e aquele que abriu o concerto, “Remnants of Cambrian Evil”. Os restantes temas foram: “Daemon Blessex”; “Dagger of a Thousand Deaths”; “Sumerian Promises”; “Angel of the Eastern Gate”; “White Mantras Bleed from Black Magic”; “Unchain the Ghost” e “Condemned by Primal Contact”. Este último tema eleva a influência de Morbid Angel e do “Altars Of Madness” a outro nível, com o riff de abertura descaradamente “emprestado” ao clássico “Immortal Rites”. Podem conferir no player…

Os Skeletal Remains têm os dois pés firmes no old school, mas arrastam o cadáver putrefacto desse death metal mais feito de tripas e bílis para o novo milénio. Liderados pelo guitarrista e vocalista Chris Monroy, não são nem se mostraram como uma banda para andar com rodeios e soaram como um clássico de há vinte anos atrás, mas com uma parede de guitarras muito mais demolidora. Certo que não se pode ultrapassar o charme dos Marshall JCM, quanto toca ao carácter e articulação dos médios, mas actualmente, em palco, vai sendo difícil encontrar algo capaz de ultrapassar a força de cabeços Peavey 5150 ou, mais exactamente, o 6505+ (que se pode ver no palco, como nos corrigiu o João Lopes, Stage Manager no fest), embora os guitarristas usem preferencialmente amps ENGL em estúdio, os modelos Powerball 2 e Fireball 100. Mike De La O exibiu-se com uma ESP E-II Arrow (seis cordas) e uma Ibanez Prestige RG2027XL (sete cordas). Já o frontman Chris Monroy alternou entre uma Schecter Jake Pitts (E-1 FR) e uma Schecter Cygnus Jeff Loomis, de seis e sete cordas respectivamente.

Essa densidade sónica, o portentoso virtuosismo dos músicos (vimos uma secção rítmica em estreia, com o baterista Noah Young e o baixista Pierce Williams) e o poder barbárico dos temas fizeram deste concerto o favorito de muitos, na edição deste ano. Da nossa parte, talvez não o seja apenas pela maior nostalgia provocada pelos Autopsy e mesmo assim… De facto, os manos Veiga safaram um cartaz do camandro, com tão pouco tempo para estruturar o festival. A setlist que conseguimos apurar, mais focada no excelente álbum de 2020, “The Entombment Of Chaos”: Cosmic Chasm; Illusive Divinity; Beyond Cremation; Traumatic Existence; Tombs of Chaos; Devouring Mortality; Dissectasy; Eternal Hatred.

É uma excepção à regra, o som inconstante no streaming do primeiro dia, com muitas oscilações de volume. Todavia, no festival estava na batata! As fotos são do Emanuel Ferreira.

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