The Black Keys, Dropout Boogie

No seguimento do tributo ao country blues e às raízes do rock ‘n’ roll que foi “Delta Kream”, os Black Keys acrescentam algum músculo de amplificação para recuperar os seus instintos primordiais neste seu 11º álbum de estúdio que é “Dropout Boogie”. Um tesouro de música orgânica!

Com mais de vinte anos de carreira, os The Black Keys são Dan Auerbach e Patrick Carney, cujo 11ª álbum, “Dropout Boogie”, é o mais pessoal da banda até ao dia de hoje e confirma que quando a dupla entra numa sala sem distrações além dos seus instrumentos, as músicas surgem instantaneamente. Sem nada composto foram para estúdio e daí saíram do estúdio dez dias depois com um álbum quase pronto, considerado a melhor execução dos melhores instintos dos The Black Keys, num testemunho de dez músicas. Auerbach comenta: «Foi muito fácil e não conversámos sobre isso antes. Estávamos a viver o momento, a tocar música e a seguir o nosso instinto durante o tempo todo. Esta sempre foi a beleza daquilo que eu e o Pat fazemos. É instantâneo».

Todavia, havia já muitas coisas planeadas. Pelo menos desde o Verão de 2021 que os Black Keys estavam a guardar riffs e a ponderar que convidados acrescentar às sessões, acabando por contar com nomes como Greg Cartwright (Reigning Sound) e, o amigo de longa data, Billy Gibbons (ZZ Top). Gravado no Easy Eye Sound, o estúdio de Auerbach en Nashville, no Tennessee, “Dropout Boogie” foi editado no dia 13 de Maio de 2022, tendo sido precedido pelos singles “Wild Child” e “It Ain’t Over”. Vale o que vale, mas o que é certo é que “Dropout Boogie” está nomeado na categoria Best Rock Album para a 65ª Gala dos Grammy.

A verdade é que por mais fama e fortuna que a banda tenha amealhado com o passar dos anos, os seus instintos primordiais permanecem intactos neste disco e, muito simplesmente, em 2022, não há melhor no rock ‘n’ roll do que isto. Muitos auto-declarados entendidos dirão estas mesmas coisas numa perspectiva negativa, dizendo que é tudo repetitivo e que os Black Keys fazem o mesmo há duas décadas. Os ZZ Top ou os AC/DC rir-se-iam disso. Dan Auerbach e Patrick Carney também. “Dropout Boogie” é Black Keys destilado pacientemente com a mesma fórmula, elegância e dinamismo de sempre e, durante cerca de meia hora, oferecem-nos mais uma potente colheita de bangers. Mais. Embora se orgulhem da duradoura capacidade de trabalhar juntos, ambos os músicos afirmam que a experiência do álbum anterior, “Delta Kream”, renovou a química da sua relação.

E esse disco de versões de blues e de country blues espraia-se ainda neste seu sucessor. No sentido em que “Dropout Boogie” não só ostenta as marcas mais primevas da banda, como possui também notórias correntes estéticas do country blues, nas repetições de riffs e batidas, na cadência hipnótica dos temas. Muitos pedem renovação ou reformulação, mas este disco é aquilo que pretende ser: uma pérola de música orgânica, numa era dominada pelos filtros e artifícios da música digital.

E se o trabalho anterior era assumidamente homenagem às influências sónicas da banda, este fá-lo de uma forma mais subtil, mas sem margem para dúvidas ainda assim. Até pela presença ufana do grande Reverend Willie G, é fácil reconhecer a ubiquisdade dos ZZ Top. “Baby I’m Coming Home” remete, nota por nota, para o riff principal de “Midnight Rider”, dos Allman Brothers Band, mas funde esse clássico com algumas respirações à Beatles. “It Ain’t Over” é uma fusão entre os coloridos latinos de Santana e ortodoxia delta blues que, sinceramente, só Auerbach e Carney seriam capazes de fazer resultar.

“For The Love Of Money”, por falar em blues, é um malhão de slide e boogie woogie e um dos temas maiores do disco, junte-se-lhe algum funk e o fuzz mais tradicional de Auerbach e temos outro dos mais conseguidos, “Wild Child” – o tema axiomático deste “Dropout Boogie”. Aos que pedem inovações respondemos, que os Black Keys nunca mudem!

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