47 de Fevereiro, Processo Colectivo

“Processo Colectivo”, o segundo álbum dos ludopédicos 47 de Fevereiro, mantém as bases tácticas do disco anterior, mas fá-lo com uma solidificação que permite uma ambição sónica incomparavelmente superior.

No dia 47 de Fevereiro de 2018 (a 18 de Março, portanto) lançaram o seu primeiro LP, “Luta pela Manutenção”. Por princípio, nunca é uma coisa má que um novo projecto de rock nacional nos remeta para alguns dos máximos expoentes exemplos da nação, como são os Mão Morta, Ornatos Violeta, Clã ou… Já Fumega! E se o consegue fazer acrescentando carácter singular, como fazem os 47 de Fevereiro, tanto melhor. Muito melhor. Com uma estrutura rítmica simples e “riffalhões” como manda a lei, a banda agarra-nos facilmente e desenvolve progressões de guitarra e vocalizos entusiasmantes, com abundância de groove e um humor peculiar – e aqui há um aceno aos side projects de Mike Patton como Tomahawk e Fantômas, o mesmo que dizer que a “Luta Pela Manutenção” tem muitas coisas à Melvins.

No dia 21 de Outubro de 2022, lançaram o seu segundo álbum, “Processo Colectivo”. No fundo, é uma continuação do primeiro lançamento com uma visão melhorada da sua linhagem rock, um longa-duração que mantém os peculiares princípios e fundamentos de jogo dos 47 de Fevereiro, da mesma forma que renovam a sua fórmula de ataque, agora mais ofensiva, com o objectivo de lutar pelas posições de topo da tabela classificativa e pela promoção à Europa. Para o conseguir, a equipa conta com El Killo – Bateria, Voz, Percussão; Capitão Moura – Guitarra Eléctrica, Coros; Roque Xandeiro – Guitarra Portuguesa, Voz; Fiscal Bogdan – Baixo, Coros; Capadócio: Saz; Raul Bidon (aka Andreas “Pancho” Tarabbia) – Percussão. A gravação e mistura é assinada por Rui Ferreira e a masterização por uma das lendas nacionais, Mário Barreiros.

Os primeiros temas que ouvimos, por terem sido introduzidos como singles traziam mais e novas pistas sobre correntes estéticas aplicadas estrategicamente. Andreas Lutz (Ofunkillo), na voz, é convidado em “Lá Onde Mora A Coruja”, gíria clássica do futebol português, carregada de simbolismo. Refere-se a marcar um daqueles golaços no canto superior da baliza, o lugar mais inatingível para o guarda-redes. “The Striker” é um tema que, nem de propósito, reivindica opções de vida, principalmente quando vão contra o mainstream, e ter a coragem de assumi-las e lutar por elas. É também uma homenagem a Joe Strummer (The Clash) e a Ian Astbury (The Cult). Mas há outras…

Disparando o disco de início, “Vermelho Directo” serve como uma introdução antémica, ao jeito de “Body Count’s In The House”, no disco homónimo dos Body Count em 1992. E já que apontamos a esses anos da explosão do rock alternativo, poderíamos referir que em “Besta Negra” El Killo faz soar síncopes com a graça de Stanier nos Helmet. O Capitão Moura vai destilando riffs que fundem “Bleach” com “Zoot Allures”. Faz sentido? Talvez não faça muito, mas nisto de analisar tácticas, poucas vezes se consegue fazer sentido. Importa especular com estilo. Imagine-se Luís Freitas Lobo a referir que o 4x3x3 das equipas de Mourinho possui traços do existencialismo fenomenológico da filosofia de Martin Heidegger. É diante de devaneios tais que percebemos a importância do trinco no futebol moderno, com a tremenda densidade dos baixos de Fiscal Bogdan a solificar-nos os pensamentos na realidade nesse midtempo que é a title-track e antes de, uma vez mais, sermos colocados diante de uma expressão de realismo mágico, em “Sociedade Anónima Destrutiva”.

Em crescendo de intensidade, “Municiador” sente-se com tremendo poder propulsivo e de forma frenética. Com a bola no “Último Terço”, a tensão é palpável, em direcção ao golo. No final repita-se a escuta para, descobrir nuances dinâmicas e aumentar o score. Irão descobrir que estão a assistir a uma goleada.

Um pensamento sobre “47 de Fevereiro, Processo Colectivo

Leave a Reply