joker ecstasy

Joker, Ecstasy

Em Novembro de 1992, os Joker editaram o álbum de estreia. “Ecstasy” tornou-se num raríssimo fenómeno no hard rock português, carregado de riffs cativantes e energéticos, de shred guitar e melodias orelhudas. Um dos expoentes máximos dos últimos dias da era hair metal original.

Não houve, nem tornou a haver, nenhum outro caso igual no hard rock em Portugal, o single “Easy Come And Go” teve um airplay (na rádio e televisão) de enorme amplitude na década de 90 e passou a confundir-se com os Joker, extraordinária banda que teve um curto período de vida. Foi no Verão de 1990 que o vocalista Tiago Gardner e o teclista José Tavares deixaram a dinâmica de banda de covers nos bares de Cascais e se juntaram a Eduardo Pereira na bateria, Hugo Granger no baixo e Paulo Ferreira na guitarra para formar o grupo. Começaram a ensaiar, a escrever, deram alguns concertos na Linha e, em Dezembro desse ano, gravaram a sua primeira demo tape nos icónicos Tcha Tcha Tcha Studios de Algés. “Little Suzie, “Bitten By The Snake” e “Burning With Desire” foram os pilares fundadores do glam/hair metal dos Joker.

Depois deram-se as primeiras mudanças na banda, com Bruno Granger a substituir Eduardo Pereira na bateria. Durante 1991, os processos solidificaram-se, a sonoridade amadureceu em palco, com os concertos a atravessarem já toda a Marginal e a chegarem a Lisboa. A Polygram estava a prestar atenção e ofereceu-lhes contrato. Luís Páscoa veio dos Inox para sentar-se no lugar de Granger atrás do drumkit. Então a banda gravou uma nova demo tape, desta vez com cinco malhas e já a servir de pré-produção ao seu LP de estreia.

Kalú e Fernando Rascão produziram uma estética que bebia das melhores inflências dos Ratt, Warrant ou Whitesnake. E assim surgiu “Ecstasy” em Novembro de 1992. Com um timming de edição perfeito, o disco foi promovido em datas significativas, com os Joker a abrirem os concertos dos Extreme e Thunder no Dramático de Cascais, no dia 06 de Novembro desse ano. O impacto foi considerável. O grunge ainda era rivalizado por mega discos de hard rock como os “Use Your Illusion”, por exemplo, e o som da banda encaixou como uma luva nas expectativas da comunidades rocker nacional. A própria influência dos Extreme faz-se sentir no gingão “Funky Child”; há o clássico cariz bluesy na title-track “Ecstasy ou aquele roadhouse de “Holding On For Keeps”. O hair metal abunda em “Commin’ Round to See Ya, “Boys and Girls” e “Devil Eyes” e, claro, os baladões AOR “Easy Come And Go” e “Litlle Susie”, refinada da demo tape original.

Coisa sempre relevante neste espectro da música, Paulo Ferreira gravou aqui um inspirado disco de guitarra eléctrica. Não é nenhum Nuno Bettencourt ou Warren deMartini, mas é um shredder de tremenda solidez, com riffs ágeis e cativantes e solos bastante bem estruturados e melódicos. Aliás, os refrões e coros eram para lá de açúcarados e orelhudos. Afinal, sem público nenhum disco se torna marcante. A secçãso rítmica e os teclados servem bem a coesão dos temas e o vocalista Tiago Gardner possuía um range vocal atraente e amplo, fechando uma inigualável cápsula sónica na história do rock português.

«Com a máquina da Polygram Portuguesa por trás e um som de fácil digestão, que se ouvia na rádio, nos bares e discotecas, tudo indicava uma carreira de hits e muita estrada. Sem dúvida que tiveram impacto, mas foi uma montanha que pariu um rato. Os Joker e o primeiro álbum “Ecstasy” perfumaram o nosso panomara rock pesado, isso ficou até hoje e felizmente podemos continuar a ouvir o álbum», parafraseando o leitor de um fórum que não consigo evocar.

O grunge e o alt rock vieram ocupar as preferências das massas e as tendências mudaram para o hard rock e o hair metal. Os Joker adaptaram-se e gravaram o seu segundo álbum “Egg Nightmare” em 1994 – um discaço cuja apreciação fica para outras núpcias -, mas a Polygram parece tê-lo editado apenas para evitar brechas contratuais e o disco acabou ostracizado. Os Joker “desapareceram”…

A história repete-se muitas vezes, mas raramente com os mesmos protagonistas. Por isso, é pouco provável que uma label multinacional torne a pegar numa banda portuguesa deste género. Mesmo que “Ecstasy” tenha sido recentemente reeditado, em 2017, por ocasião do seu 25º aniversário. Deste lado, um exemplar em vinil e um em cassete da edição de 1992 são dois dos mais estimados tesouros familiares.

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