A Avassaladora Densidade de Arvo Pärt

Um dos mais importantes compositores do nosso tempo. Arvo Pärt criou, literalmente, uma forma de composição que responde às mais profundas necessidades de introspecção de cada ser humano. Eis o peso e a densidade da tintinnabuli em “Te Deum”.

A música sacra foi durante um largo período de tempo, e continua a ser ainda hoje, o grande veículo da exposição musical derivada da contemplação do mistério cristão. Do poder tremendo de Bach ao peso e densidade de Arvo Pärt. Precisamente, o compositor estónio é talvez o mais importante compositor de música sacra vivo. Adepto do minimalismo e com muitas influências no canto gregoriano desenvolveu o seu próprio estilo de composição, a tintinnabuli – estética que é caracterizada por uma voz que harmoniza em arpégio a tríade tónica e uma segunda que se move em intervalos diatónicos.

Um som que acaba por evocar uma tremenda densidade, drones que convidam o ouvinte à introspecção e cujos lentos e sólidos crescendos permite plena absorção interpretativa. Na verdade, correndo o risco de soar leviano, aproxima-se bastante daquilo que as bandas mais pesadas dentro do espectro do post doom fazem. Talvez porque, como sucede em muita da música criada dentro desse género, a tintinnabuli seja bastante simples ritmicamente e não tenha alterações no tempo. É um dos compositores mais celebrados da era moderna, se assim o podemos dizer, e a meio dos seus anos de octagenário continua a a ver as suas obras entre as mais executadas em todo o mundo.

Será raro o melómano que nunca tenha escutado “Spiegel im Spiegel” ou “Für Alina”, a sua simplicidade e suavidade emocionantes. Já este ano, Pat Metheny editou um álbum inteiramente dedicado à guitarra clássica e nele apresenta uma interpretação de “Für Allina”, arranjada para 42 cordas de guitarra e executada pelo próprio músico, absolutamente assombrosa…

Mas são as obras religiosas que revelam toda a profundidade e avassaladora densidade da sua música, obras como a “Berliner Messe”, a “St. John Passion” ou o seu “Te Deum”. Este último será a composição que, melodicamente, mais imediata é de apreender pelo ouvinte. Por isso sugerimos a sua audição. Há imensas performances diferentes da composição. No player, podem disparar a performance do Coro da Rádio da Baviera, com a Orquestra da Rádio de Munique, dirigida pelo Maestro Peter Dijkstra. Nesta versão destaca-se precisamente o peso musical e o tempo, quiçá a interpretação mais arrastada que conhecemos.

Na foto (Carolina Forbes) que ilustra o artigo está acompanhado por Manfred Eicher (contrabaixista, produtor e fundador da ECM RFecords). Podem descobrir mais sobre a sua impressionante obra em https://www.arvopart.ee/

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