Fundação Gulbenkian, O Centenário de Iannis Xenakis

O programa comemorativo inclui concertos com obras emblemáticas do pioneiro compositor Iannis Xenakis e a exibição da mostra Revolutions Xenakis, em co-produção com a Philharmonie de Paris.

O centenário do nascimento de Iannis Xenakis, um dos compositores mais inovadores e influentes do século XX, a quem a Fundação Gulbenkian encomendou mais de uma dezena de obras ao longo da sua vida, é pretexto para uma ampla homenagem que se tem vindo a realizar desde Setembro nos espaços da Fundação. No âmbito da sua temporada, a Gulbenkian Música apresenta três programas, com peças marcantes do reportório do compositor, incluindo uma recriação moderna de uma peça histórica, Polytope de Cluny.  Em co-produção com a Philharmonie de Paris – Cité de la Musique, o Centro de Arte Moderna (CAM) exibe Revolutions Xenakis, uma exposição recentemente apresentada em Paris, que dará a conhecer a génese, o contexto e o processo criativo das notáveis arquiteturas sonoras de Iannis Xenakis. 

Nascido no seio de uma comunidade grega residente em Brăila, na Roménia, e autor de uma vasta obra composta por quase 150 peças, Xenakis foi, além de compositor, arquiteto, engenheiro e entusiasta da matemática e da informática. A sua escrita, baseada na matemática e na representação gráfica da notação musical, revolucionou a noção de som musical, e o seu conceito de massas sonoras esteve na origem de timbres inauditos. Pioneiro em vários domínios, como a música electroacústica ou a informática musical, os seus célebres espectáculos de luz e som conquistaram um vasto público, constituindo uma das marcas distintivas do seu notável trabalho.

Os primeiros concertos realizaram-se já, em Setembro último: o Coro e Orquestra Gulbenkian, dirigidos por Pedro Amaral, deram a ouvir duas peças que testemunham o interesse do compositor pela cultura grega e pela ciência: Anastenaria e Pithoprakta (16 de Setembro),e num espectáculo imaginado pelo percussionista Tomás Moitalo Coro Gulbenkian interpretou um programa composto por cinco obras em que se destaca a peça Pour la Paix, uma das raras ocasiões em que Xanakis trabalhou uma abordagem mista electroacústica (18 Setembro).

Aqui chegados, um dos momentos mais aguardados da comemoração será a reconstituição moderna de Polytope de Cluny, uma obra revolucionária composta no início dos anos 70, que propunha um diálogo entre música,  artes visuais e arquitectura, antecipando as criações multimédia. Em homenagem aos 50 anos desta obra, será apresentada uma nova versão, desenvolvida pelo colectivo musical nu/thing e o estúdio de design visual ExeriensS, que parte do mesmo dispositivo da peça original de Xenakis, incorporando a tecnologia mais recente. A peça será apresentada em cinco sessões repartidas pelos dias 2 e 3 de Dezembro e o público será acomodado no palco do Grande Auditório (lotação máxima de 70 pessoas por sessão).

EXPOSIÇÃO

Com a inauguração da exposição Revolutions Xenakis, no dia 2 de Dezembro, data da estreia de Polytope de Cluny, o público terá a oportunidade de melhor conhecer as numerosas facetas deste artista singular que inventou uma grande parte das técnicas composicionais que caracterizam a segunda metade do século XX. Dividida em seis núcleos, a exposição realiza-se na Sala de Exposições Temporárias do Museu Gulbenkian, centrando a atenção do visitante nas fases mais marcantes da carreira de Xenakis. Uma instalação de arte digital realizada pelo atelier ExperiensS cobrirá o tecto e as paredes do espaço central de exposição, numa transposição dos célebres espectáculos de luz e som – Polytopes [Polítopos] – para a actualidade.

Os Polítopos representam os trabalhos da maturidade do compositor, constituindo uma síntese do seu pensamento, sendo-lhes dedicado um dos núcleos da exposição. Outro núcleo incidirá sobre o Pavilhão Philips, criado para a Exposição Universal de 1958, em Bruxelas, numa altura em que o compositor trabalhava no ateliê de Le Corbusier. Esse pavilhão, dotado por Xenakis de «caminhos de sons» compostos com 325 altifalantes, foi um caso de espectacular sucesso, acolhendo 1,5 milhões de visitantes ao longo de quatro meses. Uma das curiosidades da exposição, que pode ser vista até 23 de Março, consiste na recriação do estúdio onde Xenakis desenvolveu o seu trabalho, o que permite ao público entrar no seu espaço íntimo criativo e observar os livros que compunham a sua biblioteca e que dão testemunho da sua paixão pelas culturas grega e não europeias, pela música, filosofia, natureza, arquitectura e matemática.

No dia 2 de Dezembro ficará também patente ao público uma mostra documental, organizada pela Biblioteca de Arte e Arquivos da Fundação, composta por alguns registos sonoros de concertos com obras de Xenakis, conferências por si proferidas, fotografias de cursos e eventos em que participou, correspondência trocada com o Serviço de Música da Fundação e com a sua primeira directora, Madalena de Azeredo Perdigão, programas e cartazes de temporadas e dos espectáculos e recortes de imprensa. Esta mostra documental vai também incluir alguns fac-simile de documentos que pertencem à família do artista.

XENAKIS REVOLUTION

Músico, arquitecto e engenheiro, Xenakis foi uma estrela dos anos 70, um artista que marcou a sua época ao explorar novos caminhos. Precursor de uma nova forma de arte que mistura som, luz e arquitectura, a sua obra inspirou tanto os Pink Floyd quanto os pioneiros da música electrónica. Pondo em causa os princípios dos movimentos mais importantes da música do pós-guerra, Xenakis inventou uma grande parte das técnicas composicionais que caracterizam a segunda metade do século XX.

Autor de um método de composição baseado na matemática e na representação gráfica da notação musical, Xenakis revolucionou a noção de som musical, estando o seu conceito de massas sonoras na origem de timbres inauditos. O compositor introduziu, igualmente, o processamento de grandes números e a noção de probabilidade subjacentes à sua teoria de música estocástica. Do mesmo modo, recorreu à matemática dos jogos, imaginando o princípio de peça musical aleatória, cujo conteúdo é fixado apenas durante a sua execução, o resultado de um “duelo” entre dois conjuntos orquestrais. Por fim, a sua abordagem inédita ao espaço e ao tempo na concepção dos espectáculos faz de Xenakis um dos fundadores da arte digital.

Ao apresentar o percurso deste artista revolucionário, o documentário “Xenakis Revolução: O Construtor de Sons” de Stéphane Ghez mergulha no processo criativo e na linguagem profundamente pessoal que desenvolveu.

Imagem de entrada no artigo no site oficial do compositor.

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