A Gazela Indómita dos Capitão Fausto

No seu primeiro álbum, cujas celebrações do décimo aniversário encerram em Março, nos Coliseus de Lisboa e Porto, os Capitão Fausto eram uma banda de transparências e ingenuidade, mas de inegável fervor criativo.

“Gazella”, em 2011, apresentou os Capitão Fausto à música alternativa nacional. As associações aos Tame Impala tornaram-se quase imediatas. Seria inevitável fazê-lo, mas a fusão rock e pop da banda trazia já as suas próprias idiossincrasias. Nesse primeiro disco, a banda não procurou tanto captar aquilo a que, naturalmente, soa um conjunto de músicos a tocar ao vivo e a coisa ficou algo “limadinha”. Houve um som demasiado controlado que os Capitão Fausto não conseguiram contrariar. Até porque havia uma certa ingenuidade, natural até porque cada um dos elementos procurava ainda melhorar o seu domínio instrumental e entrelaçá-lo com cada um dos seus colegas – algo que só se desenvolve nos ensaios e, principalmenten na estrada. Dessa forma, há um enorme caldeirão sónico em “Gazela”, mas faltava-lhe alguma coerência. Além de não terem sido feitas todas juntas, as músicas tinham várias partes muito diferentes entre elas. Algo que a banda corrigiu logo no seguinte trabalho, o magistral “Pesar O Sol”.

Essas vicissitudes são até de ordem técnica. Por exemplo, em “Gazela”, Francisco Ferreira gravou com um sintetizador de órgão, antes de conseguir arranjar um órgão mesmo, dos anos 70. O salto, a diferença de som, é abismal mas, ao mesmo tempo, é ultra detalhada. São nuances que, se calhar, ouvindo a música do princípio ao fim se calhar não se nota, até porque tudo está compensado pela força bruta das ideias, da intensidade de um primeiro disco. Depois, o prazer pela descoberta musical e a devoção à herança do rock, está bem latente no disco. Há ali o encanto pelos “10.000 Anos Depois Entre Vénus E Marte”, pelos Pink Floyd, pelo kraut rock ou, claro a tensão final de “Black Magic Woman”, explícita no axiomático tema “Santa Ana”. No final, de certa, forma, são as vicissitudes de “Gazela” que sobreviveram à passagem do tempo e, ao fim de dez anos, mantém o vigor e a pertinência musical do disco. Até porque nele, é onde aquela banda que habitava «o universo luminoso e brincalhão do indie rock», ainda existe.

No final de 2020 chegou a reedição, antecipando o décimo aniversário do álbum. Fechava esse círculo de paixão pela era dourada da música. «Lançar o ‘Gazela’ em vinil é um sonho nosso desde bem cedo, logo quando o gravámos. Na altura, não foi possível fazê-lo e ficámos sempre com essa vontade e desejo. Com os anos, o disco ganhou um carinho especial dos nossos seguidores e sentimos que isto é um presente mútuo: para nós, que tão gratos estamos por tudo o que o álbum nos trouxe, e para eles, que nos acompanham desde tão cedo e o guardam com tanto carinho. E assim, aos poucos, vamos caminhando rumo à celebração dos 10 anos do ‘Gazela’, num grande quem diria», explicam os Capitão Fausto.

Para assinalarem uma década sobre o lançamento de “Gazela”, os Capitão Fausto vão celebrar em palco os hinos pop e a urgência das canções que os acompanham desde a sua estreia, nos dias 12 de Março de 2022, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa e 17 de Março, no Coliseu Porto Ageas. Enquanto aguardamos o lançamento do quinto álbum de originais, em Março de 2022, os Capitão Fausto levam-nos numa viagem sónica ao passado, em duas noites imperdíveis. Os bilhetes já se encontram à venda nos locais habituais.

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