“Music From Another Dimension”, o 15.º álbum de estúdio dos Aerosmith, não quebrou o molde – na verdade, recondicionou-o. Mas se este for, como parece, o derradeiro álbum dos Bad Boys From Boston, é um último capítulo digno de uma carreira, essa sim, extradimensional.
Assim que se escuta “Luv XXX”, malha que abre o disco, percebe-se que os Aerosmith não esperaram oito anos – a distância para “Hookin’ On Bobo” (2004), que aumenta se considerarmos que foi “Just Push Play” (2001) o último disco totalmente constituído por originais – para editar por um mero capricho.
Os primeiros rumores em torno do disco já prenunciavam coisas boas que, felizmente, se confirmaram. Na sua grande maioria, o disco teve o dedo do produtor Jack Douglas, que assinara com os Aerosmith os clássicos “Get Your Wings”, “Toys in the Attic”, “Rocks”, “Draw the Line”, “Rock in a Hard Place” na viragem da década de 70 para os anos 80. Portanto, parecia existir uma intenção de uma refundação sónica.
Conforme se avança a escuta de “Music From Another Dimension”, mais se instala a sensação de que canções estão bem trabalhadas e, ao contrário do que havia sucedido, especialmente, com o álbum anterior, não parece haver uma simples capitalização do efeito Tyler/Perry.
O vocalista nunca mais manifestou esta exuberância vocal e próprio Joe Perry parece ter o seu som de guitarra com uma maior palete de cores. Depois, além de um som de guitarra mais amplo ou diverso, Perry manifesta-se com a exuberância de um dos últimos guitar heroes clássicos. Ponto.
De resto, houve um esforço comum entre os dois líderes, ambos escreveram malhas individualmente, mas também escreveram as primeiras canções juntos em muitos anos. Mas também foram unificados os esforços criativos de toda a banda. Brad Whitford e Tom Hamilton assinam as primeiras tarefas de composição desde “Pump” (1989) e o baterista Joey Kramer contribui na escrita de um dos temas, o seu primeiro desde o álbum “Permanent Vacation” (1987).
Recuando um pouco, de facto, se “Hookin’ on Bobo” transmitia a sensação de algum descomprometimento, até pelo formato do álbum, “Music From Another Dimension” mostrou os Aerosmith a procurarem novamente forçar barreiras ao seu blues rock, com aquele apimentar das coisas através de andamentos bem funk. Percebemos isso de forma clara em temas como “Beautiful” ou “Out Go the Lights”.
Esta última malha podia ocupar, desde já, o lugar em qualquer antologia dos Bad Boys From Boston e o mesmo pode ser dito a respeito de “Legendary Child”. E no lugar cimeiro surge esse “malhão” que é “Street Jesus”!
Naturalmente que um álbum de Aerosmith não está completo sem as baladas que lhes são tão características. Nesse aspecto particular, canções como “Tell Me” ou “What Could Have Been Love” não são exactamente a “Cryin’”, mas cumprem bem o papel que lhes foi atribuído. O mesmo já não pode ser dito do dueto de Steven Tyler com Carrie Underwood, o “borracho” da moda (na altura) na música country, no tema “Can’t Stop Loving You”.
Em suma, os veteranos norte-americanos, em 2012, há muito que tinha atingido aquele plateau na carreira em que qualquer coisa que fazem pode não ser excelente, mas nunca se limita a ser apenas suficiente. Isso faz de “Music From Another Dimension”, o 15.º disco de originais dos Aerosmith, um bom disco.
Se olharmos para aquele que era o cenário do rock clássico há mais de uma década atrás (e desde então, na verdade), então podemos mesmo considerá-lo bastante bom. Nos últimos anos, os Aerosmith focaram-se em celebrar o seu legado em digressões de despedida consecutivas. Aparentemente, este tornar-se-á o seu último trabalho de estúdio. Um último capítulo digno de uma das grandes bandas da história do hard rock.