As Pistas dos 2º Álbum Solo de Tó Pica

Dono de uma prolífica e já longa carreira, guitarrista de enorme reputação no submundo da música pesada (e não só) nacional e um dos nossos shredders e malandros preferidos, só em 2015 Tó Pica lançou o seu primeiro álbum a solo. O segundo está a caminho e a ser revelado aos poucos.

Ao longo de 20 anos de carreira passou por vários projectos musicias de renome como R.A.M.P., Sacred Sin, Anti-clockwise  ou Secret Lie. O que faltava na carreira, na altura? Um álbum a solo! «Aos 40 anos, acredito que chegou finalmente a altura de o fazer, existem demasiadas coisas e sentimentos guardados por muito tempo, neste momento tenho a confiança necessária para fazer este álbum com músicas tão dispares sem eu próprio me questionar ‘Is This the Best You Can Do?!’». É um álbum «(…) sem qualquer tipo de barreira estilística, vocalizado ou não, porque essa liberdade criativa, é a única maneira que me sinto bem! A fazer música, que eu goste de ouvir!»

Foi em 2015 que Tó Pica editou “Is This The Best You Can Do?!”. Progressões de escalas orientais, com toques de Marty Friedman, a omnipresença do estilo de fusão pós grunge de Mark Tremonti (“Binding The Distance”, até vocalmente, é quase um tributo aos Alter Bridge), muitos dos fumos sónicos dos RAMP, naturalmente. São estas as bases estéticas mais salientes do álbum. O álbum acaba por reflectir a riqueza da carreira itinerante de Pica e, muito pelo seu corpo sonoro, acaba por não ser muito homogéneo. Isso é causado em certa forma pelos vários vocalistas convidados, mas essa decisão é, ao mesmo tempo uma das mais-valias do álbum. Não há sombra de dúvida de que Pica poderia ter optado por um álbum a esgalhar a guitarra de uma ponta à outra. Ainda bem que decidiu não fazê-lo. Porque os vários convidados trazem um dinamismo vigoroso ao disco, e o sentimento que é emprestado a alguns temas consegue fazer transcender as limitações físicas da gravação.

“Espelho”, com Tobel a emprestar todas as suas idiossincrasias à canção, soa emocionalmente poderosa em português e é consensualmente o momento mais destacado do álbum. Tal como os momentos de maior propulsividade como “My Time Has Come” (cantada por Marco Resende), a frenética “Suspended Metamorphosis” (também com Tobel) e “Faceback” (excelente prestação vocal de David Pais). Estes temas são malhões! No entanto, a jóia da coroa é a forma sóbria como Pica empresta a sua técnica às canções, sem demonstrações desnecessárias de virtuosismo, nem nas duas peças instrumentais “The Urge” e “…And Just Breathe”, a abrir e fechar o álbum respectivamente. Antes, o guitarrista desvenda o seu amplo talento como songwriter, dono de uma grande sensibilidade melódica. Atenção, não pensem que não há shred como manda a lei, porque há! É mais um álbum que podia ter sido encurtado em dois ou três temas. Se são fãs de baladas, como esse gajo de enorme coração que é o Tó, então podem subir o valor geral ao disco. Quando à resposta ao título, não. Não é o melhor que pode fazer, venha o segundo!

São essas as considerações que extraímos do disco e que incluimos numa das nossas rubricas mensais dedicadas aos mais pertinentes discos do underground metaleiro e rocker português. No caso, na primeira que foi dedicada ao universo shredder português e ao temível mundo dos álbuns de guitarristas a solo. Podem ler o 4º volume das Pérolas Imundas do Underground (neste link).

A intenção do músico era que o segundo trabalho chegasse em 2019 ou 2020. Como aconteceu a todo o mundo e, particularmente, ao mundo da música, os planos foram baralhados pela pandemia e confinamentos. De qualquer forma, Pica não se inibiu de ir deixando pistas sobre o que estará por chegar e foi estreando vários temas nas suas plataformas de streaming digital. Logo nesse ano de 2019, com as vozes de David Pais (Low Torque, The9th Cell, entre outros), chegaram “For A Poet”, baladão com um daqueles épicos solos à 80s, e “Rise”, um bomba sónica que funde hard rock e thrash e teve direito a lyric video a acompanhar a estreia. Carreguem os hyperlinks nos títulos, para ouvir as malhas. Há ainda temas como “Window Bay” e “Lost/Run” que, pelo seu carácter mais exploratório parecem não estar enquadrados com o poderá vir a ser o alinhamento do segundo álbum. Ainda que o guitarrista seja um confesso apaixonado pela criação de atmosferas cinematográficas e bandas-sonoras.

Em 2021 foi a vez de estrearem as malhas “The Red Rattlesnake” e “My Sun”. O primeiro é um instrumental dentro dos padrões mais tradicionais dos discos de guitar heroes. Base rítmica e harmónica e por cima, guitarra esgalhada durante quase quatro minutos. O segundo, novamente com o talento vocal de David Pais, trata-se de uma lindíssima balada post-grunge. No player seguinte. A foto que abre o artigo é do Rui M. Leal.

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