O primeiro álbum dos Brutal Truth, editado pela Earache Records no período áureo da label e no pináculo da brutalidade sónica do início da década de 90, é muito provavelmente o melhor álbum na história do grindcore.
Os Carcass, Napalm Death, Repulsion e Terrorizer são legitimamente creditados como engrenagens vitais na criação e evolução do grindcore — e ninguém se atreve a negar-lhes esse estatuto. No entanto, também é sabido que a fusão altamente abrasiva de hardcore, punk extremo e death metal atingiu desde cedo um nervo na comunidade da música underground e, à medida que os anos 90 foram progredindo, a tendência continuou a ganhar força.
Criados pelo baixista Dan Lilker (que até então tinha passado pelos Anthrax, Nuclear Assault e S.O.D.), os nova-iorquinos Brutal Truth atiraram-se com unhas e dentes ao death/grind e capturaram o proverbial relâmpago numa garrafa com a sua fenomenal estreia em 1992. Editado a 06 de Outubro, o apropriadamente intitulado “Extreme Conditions Demand Extreme Responses” afirmou-se desde cedo como um clássico do extremismo sonoro mais veloz e abrasivo. E trinta anos após o seu lançamento, continua a haver algo de especial neste disco, que se distingue sem grande dificuldade de praticamente qualquer outra proposta do mesmo género feita antes ou depois.
Ao longo das quinze bombas refractárias que compõem o alinhamento da edição original, o LP de estreia do quarteto trouxe para a equação um sentimento crescente de urgência e uma dose considerável de riffs memoráveis e precisão musical, tudo elementos que que tinham sido explorados mas largamente subdesenvolvidos na cristalização precoce da tendência. Exactamente por isso, o “Extreme Conditions Demand Extreme Responses” afirmou-se desde logo como uma proposta excepcionalmente rápida, cativante e simples, mas muito excitante de ouvir e experienciar. Os temas apresentavam todas as marcas registadas do estilo, mas transcendiam os elementos mais primitivos naquilo que se pode descrever com uma evolução do paradigma à força de dinâmicas e versatilidade quase inauditas na primeira vaga do grindcore.
A velocidade continuava a reinar de forma suprema, com ritmos quebradiços a cruzarem-se com explosões de blasts barulhentos debitados a tempos ridículos, habilmente apoiados pelas linhas de baixo bem sujas de Lilker e pelos riffs cativantes de Brent McCarty. As letras perspicazes e politicamente carregadas de Kevin Sharp eram cuspidas numa gama assustadora de rugidos, grunhidos e gritos rasgados, acompanhando de uma forma muito impressionante as dinâmicas da música. Quando à prestação do baterista Scott Lewis…
Bem, digamos que o homem até pode ter sido parte do legado dos Brutal Truth durante pouco tempo, mas o que fez aqui ficará cravado para sempre nos anais da música extrema como uma das performances mais insanas de todos os tempos.
Tendo em conta a qualidade e a variedade da composição, que equilibra uma abordagem baseada em riffs com um bom gosto que não lhes permite deleitarem-se apenas em puro ruído, três décadas depois do seu lançamento, este “Extreme Conditions Demand Extreme Responses” continua a ser uma raridade no espectro do grind.
Com excepção dos superlativos no cabeçalho, a review é cortesia do José M. Rodrigues, originalmente publicada na LOUD!, por ocasião do 30º aniversário do álbum [06 de Outubro de 2022], e aqui replicada.