O novo vídeo de degelo para “Sorites I & II”, captado ao vivo no São Jorge, faz crescer o protagonismo da guitarra eléctrica nas amplas paisagens sónicas da composição.
Lançado em Outubro, “Sons Escapistas”, o mais recente EP de degelo, continua a inspirar novo conteúdo multimédia, desta feita, um novo vídeo ao vivo, gravado no dia 25 de Abril de 2021, a propósito de um concerto no Festival Política, que decorreu no Cinema São Jorge. Neste espectáculo, degelo contou com a projecção de referências a vários momentos da história do cinema alternativo e mainstream, com a curadoria de Fábio Alves, que esteve responsável pelo live VJing e que, em conjunto com o Miguel David, tratou também da edição do vídeo final.
Esse reporta a interpretação de “Sorite I & II, tema feito em colaboração com adrede e que faz parte do alinhamento do já referido “Sons Escapistas”. À imagem do último EP instrumental, esta música conta com uma estética ambiental, com recurso a electrónicas intricadas e que, ao vivo, deu um novo protagonismo ao uso da guitarra.
É o compositor Pedro Ruela Berga que aprofunda o vídeo, a actuação e o tema em si. «Este vídeo foi gravado em 2021. Foi a primeira vez que toquei ao vivo temas meus, de um EP que ainda não estava pronto. Desde então, houve toda uma fase de recolhimento, de análise, de construção e reconstrução, com pouco espaço para a exteriorização. Todo esse período, e este concerto em particular, marcou o início do fim de alguém. Ainda não sei que modelo lhe dará lugar, mas sai agora este vídeo, bem no início da Primavera. Pode ser que seja um prenúncio de mais um renascimento (entre os tantos que tenho sentido). Mas há algo que a vida já me mostrava então e que me tem mostrado cada vez com mais evidência: não existem absolutos. Diz a música: ‘O paradoxo de Sorites era isso mesmo. O momento de transição, de um lado para o outro, não é simples, precisamente, porque, depois, já não conseguimos saber o preciso momento em que uma coisa deixa de ser uma coisa para passar a ser outra, porque, na verdade, a categoria fomos nós que a fizemos’. Isso pode ser aterrador, para quem procura a estabilização racional e factual do mundo. Mas há imensa liberdade fora da categorização. Algo tão infinitamente simples e complexo como a amizade e o amor».
Vale ainda a pena destacar o que é uma raridade no nosso país (ou em qualquer país, na verdade): esse unicórnio que é o cabeço Matamp SL120. A guitarra deixa-nos na dúvida entre algum modelo Mosrite/Eastwood ou Teisco/Silvertone – se alguém desse lado quiser ajudar a esclarecer, disparem o player!
A foto que abre o artigo é do Miguel David.