Os Malhões Mais Badass de Elvis

O texano Elvis Presley é o “Rei do Rock ‘n’ Roll”. Toda a gente o diz, toda a gente o repete. Infelizmente, uma das músicas que mais gente ouve do monarca é a versão desprezível que os UB40 fizeram de “(I Can’t Help) Falling In Love With You”. Está na hora de mudar isso. Eis uma colecção de malhões de Elvis.

Há imensas fases e imensas estéticas na carreira de Elvis Presley, consequência de ter tido tantos compositores diferentes a escrever-lhe canções. Desde a forma como, no início da sua carreira, combinava o rock n’ roll puro, derivado do blues, de “Hound Dog”, com a sensibilidade romântica do country de “Heartbreak Hotel”, até ao final trágico quando, depois de altos e baixos, de devaneios em Hollywood e regressos apoteóticos, a sua maturidade o tornara num dos maiores performers de sempre, o texano gravou uma discografia gigantesca.

Os temas já referidos, ou outros como “Jailhouse Rock”, “Blue Suede Shoes”, “Suspicious Minds” ou “Burning Love”, são sobejamente conhecidos. Mas o Rei gravou grandes malhões de rock ‘n’ roll, blues, country ou soul, que, excluindo os fãs, poderão passar ao lado de muitos melómanos e aqui revisitamos, por ordem cronológica.

MYSTERY TRAIN | Junior Parker gravou “Mystery Train” em 1953. O tema tornou-se um standard do blues. Em 1955, Elvis gravou a sua versão, com Sam Phillips a produzir (foi também o produtor do original). Elvis na guitarra acústica e Scotty Moore na eléctrica deram uma estética mais Nashville ao tema. Moore usou ainda um outro riff de “Love My Baby”, também de Junior Parker, na sua linha melódica. A versão de Elvis, que acabou por ficar bem rockabilly, não se “portou mal” nas tabelas de vendas, mas acabou um pouco esquecida pela prestação do seu Lado-B, “I Forgot To Remember To Forget”, que foi #1.

GOT A LOT A’ LIVING TO DO | Escrito por Aaron Schroeder e Ben Weisman para o filme “Loving You”, este boogie-woogie representa tudo aquilo que Elvis representava na altura. Dançável, divertido e a piscar o olho à juventude feminina da época, com as guitarras (de Scotty Moore) bem spanky. Um clássico.

TOMORROW IS A LONG TIME | «O disco que mais estimo», disse Bob Dylan da versão que Elvis gravou a partir do seu original. A lenda country Charlie McCoy, que participara nas sessões de “Highway 61 Revisited”, em 1965, apresentou o tema a Elvis que o gravou nas sessões do álbum “How Great Thou Art”, embora o tema tenha ficado de fora do disco e sido, posteriormente, aproveitado para o filme “Spinout”. A toada lisérgica do tema, a voz do Rei e os apontamentos de slide guitar tornam esta uma das melhores canções na história do country.

ALL I NEEDED WAS THE RAIN | Outro tema country com um groove bem bluesy e sulista. Não há electricidade, mas há uma harmónica de blues e uma atmosfera sonora densa. «Hello misfortune / how’s my old friend Mr. Misery». É difícil acreditar que Ben Weisman também assinou esta canção. Peguem numa garrafa de bourbon e metam esta canção em repeat.

BIG BOSS MAN | Luther Dixon escreveu e o lendário Jimmy Reed gravou, pela primeira vez, em 1960 este blues de 12 compassos bem rapidinho. Sete anos mais tarde Elvis gravou a sua versão e editou-a como single (apenas atingiu a posição 38, na tabela de pop). Apesar disso, ou precisamente por isso, foi um dos temas escolhidos para as sessões do “68 Comeback Special”. Faz sentido, o tema possuiu “aquela atitude” que Steve Binder e Bones Howe queriam tornar a ver no Rei. Outra versão famosa do tema é a B.B. King.

SPEEDWAY | O tema que abre a banda-sonora para o filme do mesmo título, protagonizado pelo Rei. Gravado em 1967, nos MGM Studios, foi o último álbum de Elvis a ser editado com mistura em mono e em stereo. Nessa altura, o psicadelismo de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” (Beatles) e “Surrealistic Pillow” (Jefferson Airplane) ou o experimentalismo de “Velvet Underground & Nico” estavam a abrir novos caminhos no mercado. Alheio a tudo isto, Elvis pegou na canção de Mel Glazer e Stephen Schlaks e gravou um boogie conduzido a piano, carregado de adrenalina e velocidade.

POLK SALAD ANNIE | O groove sulista do original de Tony Joe White, editado em 1969, captou imediatamente a atenção de Elvis que a tornou obrigatória nos seus concertos. Apenas gravou versões ao vivo do tema. A mais feroz será aquela captada em 1972, no Madison Square Garden. Com o groove muito mais acelerado e mais solto e, inclusive, com uma raridade – um solo de baixo de Jerry Scheff, carregado de fuzz, pontuado por linhas de wah-wah de James Burton. Essa versão é, ainda hoje, um dos grandes temas de southern rock!

CLEAN UP YOUR OWN BACKYARD | Ao lado da voz de Elvis, destaca-se a slide guitar, à imagem de “Tomorrow Is A Long Time”, mas com os sopros e os coros a transportar um sabor soul. Escrito por Mac Davis e Billy Strange, foi apenas editado como single em 1969 e surgiu no filme “The Troube With Girls” (mais tarde seria incluindo no álbum compilatório “Almost Love”). Talvez por ter surgido, cronologicamente, no meio de “In The Ghetto” e “Suspicious Minds” tenha ficado mais esquecido. Mas ouvido entre ambos é quase, esteticamente, uma ponte para cada um dos lados.

WALK A MILE IN MY SHOES | Outro tema que Presley apenas gravou ao vivo. Originalmente editado no álbum “On Stage”, em 1970. O original é do ano anterior, gravado por Joe South. A mensagem, focada na tolerância racial e de, como o título indica, nos colocar na perspectiva do outro e aí descobrir compaixão, era sempre bastante enfatizada pelo Rei, sempre que apresentava o tema nos concertos. Malhão de guitarra baixo!

SEE SEE RIDER | A uber lendária Ma Rainey escreveu e gravou este blues de 12 compassos em 1924! A canção foi gravada por uma míriade de grandes nomes. Jerry Lee Lewis, Ray Charles, The Grateful Dead, The Who, Bruce Springsteen e, claro, Elvis Presley. Na discografia do Rei apenas surge registada no álbum “On Stage” (foi também o tema que abriu o mítico concerto “Aloha From Hawaii”). O baterista Ronnie Tutt não deixa uma única pedra em pé… Bom, na verdade deixa algumas que James Burton se trata de varrer no solo de guitarra!

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