Fuck Buttons

Fuck Buttons, Slow Focus

Donos de uma sonoridade abrasiva e da sedução pulsante da música electrónica, os Fuck Buttons culminaram o seu trabalho discográfico com “Slow Focus”. Andrew Hung e Benjamin John Power reflectem sobre a criação do seu último disco.

Em 2013, os Fuck Buttons eram um dos nomes na dianteira na nova vaga de música electrónica. Compositores capazes de algo mais que a simples junção de beats e arpeggiators pré-concebidos que “calham” bem. Com escolas tão díspares, entre a densidade de Aphex Twin ou Shellac e as camadas sónicas de Mogwai, mostravam-se capazes de desenvolver texturas intensas e oníricas.

Editado no dia 22 de Julho de 2013, via ATP Recordings (o selo da promotora All Tomorrow’s Parties) o terceiro álbum dos Fuck Buttons revisitou com maior capacidade de manipulação emocional os pressupostos de composição estabelecidos nos trabalhos anteriores.

A intensidade de “ruído” do primeiro tema do disco mantém intacta a adoração da dupla pelas sonoridades mais extremas da guitarra eléctrica – ainda que este disco seja, obviamente, um trabalho electrónico – e depois vai dando lugar a uma maior experimentação de arranjos e também rítmica, com enfoque na mestria excêntrica de um tema como “The Red Wing”.

“Slow Focus” poderia ser acusado de ser mais comercial. Há um maior desenvolvimento melódico certamente, principalmente nos dois últimos temas, mas isso nunca compromete a densidade de distorção das estruturas, que até cronologicamente continuam amplas e, na primeira parte, mais dadas à punição da mente que à alegria da mesma.

“Sentients” revela abertamente o apego de Andrew Hung e Benjamin John Power ao som negro de Aphex Twin e deixa perceber que os músicos são sinceros quando referem que a exposição da banda, através da presença da sua música nas cerimónias olímpicas de Londres, não mudou a sua forma de pensar a música.

A complexidade atraente de “Prince’s Prize”, curiosamente o tema mais curto, é a joia da coroa deste álbum. Ao mesmo tempo, serve como intermediação entre uma imaginária primeira parte do disco e a segunda que, com “Stalker” e “Hidden XS”, poderia substituir qualquer trabalho de Daft Punk ou M83 na emergente vaga de bandas-sonoras sci-fi da altura.

O terceiro álbum, “Slow Focus”, tornou-se também o último trabalho dos Fuck Buttons. Recuamos dez anos a uma conversa com o duo Benjamin John Power e Andrew Hung, no backstage do Primavera Sound (na altura, num trabalho para a AS), na qual os músicos reflectem sobre a criação do seu canto do cisne.

Entre “Tarot Sports” e “Slow Focus”, os Fuck Buttons enfrentaram um intervalo editorial de 4 anos…
Benjamin John Power: Depois do “Tarot Sports” andámos muito em tour. Estivemos na estrada com Fuck Buttons durante dois anos, no mínimo. Quando voltámos a escrever, fizemo-lo no nosso próprio ritmo. Sem ninguém a dizer-nos que tinha que ser feito até data “x”. Sem prazos limites de entrega. Isso fez-nos muito bem. Não trabalho particularmente bem sob pressão e o Andrew [Hung] também não, por isso… Foi bom poder tê-lo feito com o nosso próprio ritmo.

Como foi o processo de gravação do álbum?
Power: Temos um estúdio que fica por baixo onde vivemos, chamado Space Mountain, e, basicamente, fizemos tudo lá. Inicialmente gravámos casa, mas depois levámos tudo para o estúdio e trabalhámos nisso durante uns quantos meses. Temos que estar presentes em tudo. Escrevemos a tocar em tempo real, montamos em cima da mesa aquilo que usamos quando tocamos ao vivo. É muito “meter as mãos na massa”. As músicas ficam praticamente no seu estado final, para irem para os discos. A gravação em si é um processo de finalização das músicas, devido à maneira como escrevemos.
Andrew Hung: Se distorceres qualquer coisa, rapidamente crias uma parede de som. Gostamos de distorção, música com som cheio. Por isso, isso transparece quando tocamos o nosso material.

Usamos os nossos dispositivos electrónicos como instrumentos. Somos o tipo de pessoas que não lê o manual de instruções, a ver se consegue fazer alguma coisa.

Benjamin John Power

Em relação ao primeiro álbum (“Street Horrrsing”), “Tarot Sport” é menos pesado. E “Slow Focus”?
Power: Não presumiria isso. Acho que o nosso primeiro álbum foi muito directo, na sua abordagem. A textura deste, não tenho a certeza disso, terão que ouvi-lo, suponho. É bastante sujo. De qualquer forma, usamos os nossos dispositivos electrónicos como instrumentos. Somos o tipo de pessoas que não lê o manual de instruções, a ver se consegue fazer alguma coisa. Na verdade, mexemos com as coisas. Pomos a nossa assinatura nestas peças do nosso conjunto, que foram construídos com um propósito específico. Há muita manipulação a decorrer. Acho que podes ver o material que usamos como uma guitarra, em certo sentido. Isso até pode soar ridículo, mas faz sentido para mim, de qualquer forma.

E possuem alguma peça fetiche?
Hung: Não, de todo. Nós descartamos com alegria, tanto como acumulamos.

Como é o processo de mistura em Fuck Buttons?
Hung: Na verdade, não usamos uma mesa de mistura. A maioria da produção é já feita no processo de composição. Usamos muito hardware para produzir a música e as texturas. Depois é trazido para o computador.
Power: Foi misturado no Ableton e no Logic.

A discussão analógico vs. digital faz sentido?
Power: Não metemos essa pressão nas coisas. Desde que nos soe bem, é o que realmente nos importa.
Hung: Exactamente! Não vais querer começar a pensar nos EQs dos teus instrumentos. Ou na tonalidade deles. Queres concentrar-te naquilo a que soa. É como quando estás numa refeição, não te concentras num grão de arroz, concentras-te se a coisa toda sabe bem, na verdade.
Power: Ele é muito bom com metáforas! [risos]

Os Fuck Buttons conseguem apelar tanto a fãs de electrónica como de metal, por exemplo. Qual é o truque?
Power: Deve ter a ver com os solos do Andrew [Hung], os solos de guitarra [risos]. Acho que tem a ver com não tentarmos compor um estilo específico de música. Creio que isso resulta numa espécie de mistura. Talvez não numa mistura, mas em algo menos fácil de categorizar e que significa que há algo ali para todo o tipo de pessoas, mais do que para um tipo em específico.

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