Há mais de uma década atrás, temeu-se que os Iron Maiden pudessem estar no crepúsculo da sua carreira. Todavia, “The Final Frontier” revitalizou as lendas britânicas para mais uma era de considerável vigor criativo.
«I have lived my life to the full / I have no regrets / but I wish I could talk to my family / Tell them one last goodbye». Começa assim o décimo quinto álbum de Iron Maiden, editado a 13 de Agosto de 2010 na Parlophone Records, como que evocando um medo da fronteira final por parte dos veteranos “metaleiros” britânicos.
Poderia parecer um exagero, até porque mais de uma década depois os britânicos continuam bem activos, mas mesmo a incursão leve em temas dos mitos arturianos nos fazem pensar que os Maiden andavam a reflectir no momento em que estavam, enquanto banda e enquanto pessoas. Essa procura por um repouso final, pelo exílio dos heróis, era infundada, todavia. Afinal, “The Final Frontier” não só foi uma clara melhoria em comparação com o anterior “A Matter Of Life And Death”, como transportava o vifor de ser o mais longo álbum dos Maiden à data (sendo posteriormente ultrapassado por “The Book Of Souls” (2015) e “Senjutsu” (2021).
Portanto, com a especulação colocada de parte pelo futuro que se impôs, vamos ao que importa. Musicalmente estamos diante dum álbum clássico da banda, grandes linhas melódicas, bastante acentuadas sempre, tal como o tradicional trabalho bombo/tarola na batida única de Nicko McBrain.
Há também reminiscências de linhas de outros temas e outros álbuns de Iron Maiden, como se mostrassem um caminho feito até esta fronteira final – em “El Dorado”, por exemplo, após o terceiro minuto há uma frase de guitarra baixo que surge extraída dum clássico como “Heaven Can Wait”. Há outros exemplos, como o final da introdução do álbum que nos remete para “Wasted Years” e a própria toada de “Final Frontier” torna a explorar alguns conceitos dentro da ficção científica que também conduz por vezes o álbum “Somewhere In Time”.
Algo que, todavia, não pode ser considerado surpreendente é uma aceitação de estéticas que foram transportadas dos álbuns a solo de Bruce Dickinson, os dois últimos que fez já com a assinatura de Adrian Smith antes de retornarem ambos aos Maiden. Isso ouve-se distintamente em temas como “Mother Of Mercy” ou “The Talisman”, com aqueles ambientes semi-acústicos de grande densidade.
O que falha, a meu ver, neste álbum é a produção. O equilíbrio sonoro. Não foi conseguida uma economia dos inúmeros elementos sonoros que a banda usa actualmente e por isso falta alguma unidade, nuns momentos está um instrumento perdido e noutros está uma linha de estrutura mais escondida. O exemplo maior disto será em “Starblind”, a quantidade informação, com momentos de duas guitarras, voz, guitarra solo, teclados, isto além da secção rítmica, revela claramente um problema de espaço musical, que nem sempre está resolvido.
O elemento que sofre mais com isso será a bateria, com um som pouco poderoso na mistura, um som que respira pouco, à excepção do tema “The Talisman” que tem excelentes dinâmicas, mas muitas vezes durante o álbum os pratos estão muito sumidos. Noutro exemplo, no tema “The Man Who Would Be King”, são as guitarras que no espaço de solos entre os minutos 04:00 e 05.30 ficam engolidas pelo bolo sonoro.
Curiosamente a coesão do álbum advém das composições, que ainda mantendo uma certa diversidade de fontes e exploração, conseguem estar muito acima daquilo que, como referido, tinha sido o registo imediatamente anterior. Não entra no registo dos melhores álbuns de Maiden, mas não deixa de ser um bom álbum dos veteranos. E, sem querer desvalorizar qualquer outra banda, Maiden é sempre Maiden.
Up The Irons!