Josh Freese, Quão Bom Baterista É?

Um dos melhores bateristas da sua geração, com um percurso monstruoso. Josh Freese é o novo baterista dos Foo Fighters. Olhamos alguns dos melhores momentos da sua carreira e os seus principais poderes musicais.

Se dizer que «o gajo é rodado» se aplica a alguém, será certamente a Josh Freese. Dada a sua reputação como um ás do estúdio, Josh Freese ganhou a alcunha “Mr. First Call”. O seu currículo é extenso e inclui alguns dos maiores nomes da indústria, incluindo Devo, Nine Inch Nails, The Offspring, Guns N’ Roses, The Vandals, Sting, Queens Of The Stone Age A Perfect Circle, Billy Gibbons, entre muitos outros. Desde o seu início profissional (algumas fontes apontam aos 12 anos de idade), até aos dias de hoje, Josh Freese tem provado constantemente ser um dos bateristas mais versáteis e talentosos do seu tempo, disco após disco e digressão após digressão.

Esta versatilidade é um resultado directo da sua experiência de tocar com artistas que abrangem um alargado espectro de géneros e da sua devoção a todos. A sua capacidade inata para criar o feeling adequado a uma malha é uma das principais razões pelas quais tem sido constantemente procurado por artistas e engenheiros de estúdio. De facto, o baterista percorreu um longo caminho desde o seu início DIY com os Vandals na Califórnia em 1989. Josh Freese substituiu Matt Sorum nos Guns N’ Roses, em 1997, e é responsável pela composição da música “Chinese Democracy”, o tema-título do infame disco de 2008, com Axl Rose. Quando a sua passagem pelos GNR terminou em 2000, Josh Freese não parou para descansar, juntando-se logo aos A Perfect Circle. E quando o baterista Ron Welty deixou os Offspring em 2003, foi Freese quem pegou nas baquetas e tocou no álbum “Splinter”.

Antes de terminar essa década tocou com Rivers Cuomo e companhia, na digressão de Verão de 2009 dos Weezer com os Blink-182, tomando o lugar de Pat Wilson quando este se tornou guitarrista da banda. E enquanto permanecia também membro dos Vandals e Devo, ainda fez uma perninha com Sting. Enfim, isto é apenas uma parte do percurso até ao final da primeira década deste milénio. Do punk rock ao pop, do heavy metal ao new wave, Josh Freese é um dos mais prolíficos bateristas do mundo e já assinou uns 400 álbuns. Portanto, é um baterista verdadeiramente multidisciplinar, um camaleão estético e um inovador no instrumento.

Talvez se possa dizer que Josh Freese se destaca pela precisão e velocidade de execução, capaz de emprestar dinamismo e energia sem compromissos em qualquer situação. O álbum Thirteenth Step (2003) de A Perfect Circle é um dos seus trabalhos mais completos, criativos e brilhantes. Nele, Josh Freese toca majestosamente uma assombrosa variedade de tempos e grooves. Francesco Vecchio, no seu blog, transcreve os ritmos principais desse tremendo disco (imagem em cima). De seguida, ficam alguns outros registos que são meio obrigatórios apreciar, onde demonstra a sua enorme capacidade e versatilidade musical.

O super clássico de Meredith Brooks inicia-se e baseia-me em torno de um breakbeat samplado do clássico “Impeach The President”, dos Honey Drippers. As baterias acústicas são de Josh Freese. É preciso esperar pelo refrão para o ouvir. A partir daí um som típico de bateria dos anos 90, com um bombo cheio de punch e a tarola abundantemente processada, funde-se perfeitamente com o sample. Um exemplo da sua capacidade para se focar no que a música necessita e em criar um pocket pop irresistível.

Depois de sair dos Soundgarden, mas antes de fundar os Audioslave, Chris Cornell gravou o seu primeiro álbum a solo, “Euphoria Morning” (agora “Euphoria Mourning). Editado em 1999, o disco vê Cornell dividir a composição e produção com Alain Johannes e Natasha Shneider. Victor Indrizzo, Greg Upchurch, Bill Rieflin Matt Cameron gravaram uma malha cada um, mas o grosso das baterias coube a Josh Freese. Destaca-se o single principal do disco que alterna entre o ritmo 6/8 dos versos e o ritmo principal, quase uma valsa, em 3/4. A solidez de Fresse soa natural, cheia de espaço para a magnética voz de Cornell, mas com uns fills, aqui e ali, cheios de bom gosto.

Entre a rockalhada, vale a pena destacar esta malha com Michael Bublé, extraída do álbum “Crazy Love” que teve o dedo de Bob Rock na produção. A propulsividade dá lugar a fills mais espaçados, num groove descontraído e cheio de acentuações nos pratos, em fusão com os metais e sopros orquestrais. Os backbeats, em torno da enorme espessura da tarola, emprestam um charme blues/soul irresistível à bateria e à canção. Josh Freese toca em mais duas malhas deste disco. Digam que é para oferecer à vossa mãe e vão comprá-lo!

Na transição das décadas 80 e 90, a fusão do funk com o rock reinou brevemente na voraz indústria musical. Mike Muir, vocalista dos Suicidal Tendencies, criou os Infectious Grooves nessa época e esta banda permanece como uma das mais icónicas no género. Agora reparem, houve um perído da banda em que Josh Freese, continua a ser uma das bandas mais adoradas da época, mas talvez não saibas que Josh Freese substituiu Stepehen Perkins (o baterista dos Janes Addiction), juntando-se a Robert Trujillo (uns bons anos antes deste sair para a banda de Ozzy Osbourne e depois para os Metallica) para completar uma secção rítmica absolutamente lendária. Gravaram o álbum “Sarsippius’ Ark” (1993), uma épica colecção de 20 canções que inclui as covers de “Immigrant Song”, dos Led Zeppelin, e “Fame” de David Bowie. Ainda assim, “These Freaks Are Here To Party” é o banger inesquecível, com Freese all over the place!

A meio de uma agenda a roçar a demência, com álbuns dos A Perfect Circle, Puddle of Mudd, 3 Doors Down, Seether, Avril Lavigne, The Offspring, Kelly Clarkson, Good Charlotte e muitos outros a serem lançados com as suas faixas de bateria entre os anos 2000 e 2003, Josh Freese arranjou tempo para gravar um álbum que mudou o nu-metal, “Fallen”, o disco de estreia dos Evanescence. Freese tocou toda a bateria no trabalho, um manual de beats contra riffs, com uma precisão e poder que propulsionou 17 milhões de cópias no mundo inteiro, tornando a banda um fenómeno que extravasou para a pop. Incrivelmente, diz-se que Freese criou todos os ritmos tendo como base pouco mais que uma click track e uma guia de guitarra e voz.

Não se podia criar esta breve lista sem os Nine Inch Nails. Aproveitamos o vídeo carregado pelo próprio Josh Freese, com a actuação de “1.000.000” e “Letting You”. Na primeira, o pocket e o poder das batidas são avassaladores, na segunda malha a velocidade é sobre-humana. Ambas soam quase maquinais e, simultaneamente, orgânicas.

Wolfgang Van Halen partilhou esta foto sua, ladeado por Dave Grohl e Josh Freese, em estúdio durante ensaios para os concertos de homenagem a Taylor Hawkins, decorridos no Outono de 2022.
Foo Fighters

Depois da morte de Taylor Hawkins, o futuro dos Foo Fighters tornou-se incerto. Mas se, aos poucos, a banda liderada por Dave Grohl foi dando sinais que iria prosseguir, ficou sempre aberta a questão de quem ocuparia o lugar de Hawkins atrás do drum kit. No dia 21 de Maio de 2023, chegou a resposta: Josh Freese.

Fica por perceber se o novo álbum dos Foo Fighters – “But Here We Are” é editado dia 2 de Junho de 2023 – já conta com a execução de Freese e se total ou parcial ou se foi o próprio Dave Grohl a gravar as baterias, o que já sucedeu anteriormente, nomeadamente nos álbuns “Foo Fighters” e “The Colour And The Shape”.

Quando saiu o single “Rescued”, as opiniões dividiram-se. Uns consideram que o estilo reflecte a linguagem musical de Grohl, enquanto outros apostam em Freese. Há também a hipótese (embora remota) de o disco conter coisas gravadas por Hawkins antes da sua morte. As respostas estão para breve…

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