Laney TI100

O Laney TI100 é o modelo de amplificação definitivo com a assinatura de Tony Iommi para a marca britânica e é uma das marcas do som da última era dos Black Sabbath. Depois de “aquecido” e “domado” é uma besta magnífica.

Com uns 40 anos de fidelidade à Laney, Iommi esteve sempre bastante próximo dos engenheiros da marca a desenvolver este novo modelo, o Laney TI100,que ostenta algo que herdou do primeiro modelo [GH100S] de assinatura do guitarrista com a marca: um abrasivo som de médios. Os que nos vão seguindo, certamente já perceberam que somos acólitos da Igreja de Sabbath, da abundante fonte sonora inaugurada por Iommi em 1969, daquele som pesado de guitarra, com distorção e dos trítonos num desenho melódico de escala com a “negra” 5ta diminuta. Usando os riffs de “The Unveiling”, dos Why Angels Fall, aqui fazemos o TI100 exalar o seu bafo demolidor.

Por detrás do painel frontal com a rede recortada em cruzes acende-se, quando ligado o On, uma lúgubre luz vermelha, como de uma sala de velório. Um toque completamente kitsch, mas que ajuda a dar mais personalidade a este amplificador. Dentro do painel vislumbram-se 8 válvulas ECC83 no pré-amp e 4 válvulas 6L6 na secção Power. Nesse painel frontal, o TI100 surge dividido em dois canais [Rhythm e Lead], cada um com os mesmos parâmetros controláveis independentes: Switch On/Off de Pre-Boost, que por sua vez tem o potenciómetro específico; Drive; o trio clássico de controladores EQ [Bass, Middle e Treble]; Volume; Enhance e Presence. Depois temos ainda os Switch de canal e para StandBy e Power. O painel traseiro dá-nos o comutador de BIAS, para alterar o circuito de válvulas e entradas Line In, para o Power Amp, e Line Out, a partir do pré-amp. A secção de FX Loop, com Return e Send tradicionais, conta com um switch que permite optar entre True ByPass, Insert e Side/Chain. Ao mesmo tempo o potenciómetro de Gain desta secção permite definir, no caso de activado o Insert ou Side/Chain, o input que o TI100 irá acolher da unidade de efeitos – na sessão de teste que fizemos usámos sempre o amplificador sem efeitos exteriores, pois pareceu-nos ser a coisa mais “sabbathiano” a fazer! O footswitch terá que ser específico para o modelo, o FS4-TI. O TI100 mostra uma característica que nos coloca imediatamente um sorriso maníaco no rosto, a possibilidade de duas ou mais cabeças TI100 em simultâneo, através do SYM Link [In/Out]. Nas saídas para coluna há a opção mono e stereo para 16 Ohm e 8 Ohm e também uma saída mono para 4 Ohm.

O TI100 possui uma abundante riqueza de médios e enorme espaço dinâmico no canal Rhythm. Pouco intuitivo, demora a ser dominado e promove algum descontrolo sonoro se os parâmetros de Gain forem demasiado saturados.

O TI100 é um amplificador versátil, ao mesmo tempo que não é versátil. Não há som verdadeiramente clean. Mesmo sem o Pre-Boost ligado, o canal Rhythm dá-nos sempre um som com um cheirinho daquele crunch AC/DC, um timbre hard blues. Contudo é possível, controlando e calibrando o output da guitarra, conseguir um som limpo com uma grande presença e corpo. Mas, repita-se, é um trabalho que tem que ser feito calibrado com os controlos da guitarra. De facto, é no canal Rhythm que surge a maior versatilidade do amplificador. Conseguimos obter um maior espaço dinâmico e uma extraordinária do instrumento usado e respectiva afinação. Tremendo é o recurso ao Pre-Boost, se formos “brutos” na entrada do pré, que praticamente acrescenta outro estágio de ganho e dá uma dimensão colossal ao amp – ouve-se cada palhetada como um martelo, isto mesmo sem ainda cambiarmos o TI100 para o canal Lead. Contudo, se puxarmos o Pre-Boost é necessário alguma contenção com o uso de Drive pois, com ambos na “pastilha”, o TI100 encarna a fúria de um leviatã, levando tudo à frente, pré, power, dinâmica, equalização, guitarra… Poderia pensar-se, à partida, que este canal nos daria aquele som vintage dos Sabbath, o que também é possível obter se, com o Pre-Boost desligado, não abusarem do Drive, mas aqui o TI100 faz prova de que não é apenas um amp de assinatura.

A personalidade sónica de Iommi está mais vincada no canal Lead, onde há pouco mais a fazer em termos de ajuste tímbrico que deixar a locomotiva seguir demolidora. Há algo transversal a ambos os canais e aos desenhos de equalização: a gigantesca resposta de médios deste amplificador bem britânico. Mesmo com os graves mais puxados, temos sempre um som bem vivo e dinâmico, uma distorção rica e nunca estrangulada. Algo que, é ainda mais notório usando o switch BIAS na posição de EL34 – ou seja, um som clássico de heavy metal britânico – enquanto na posição das 6L6 há uma maior predisposição para um som metal mais moderno. No fundo, mais de encontro ao som que ouvimos nos álbuns de Iommi a solo.

Não deixa de ser curioso que a definição providenciada pelo canal Lead seja um convite ao shred, algo que nunca pautou propriamente o estilo de Iommi (ainda que nos anos 80, o lendário guitarrista tenha exibido qualidades nesse espectro). Contudo, o núcleo focado do TI100 torna-o numa máquina desenvolvida por um fanatismo adepto de volume gargantuesco. Com os seus parâmetros “puxados” torna-se num bloco megalítico, mas isso não impede que algum tempo perdido a aprender a domá-lo não o torne capaz de dar resposta a qualquer necessidade sonora dentro do universo rock. Até pela já referida capacidade resposta, cortesia da boa acção do potenciómetro Enhance, que faz sobressair ou disfarça os defeitos e características tímbricas do instrumento usado.

Em resumo, se procurarem um paquiderma de distorção o TI100 é uma boa escolha. Se procurarem versatilidade, então o TI100 só é versátil se o vosso ponto de partida nunca for nada abaixo do hard rock. Embora o controlo cuidado do canal Rhythm com o output de guitarra revelem um calor bem jazzy. O som que se pode ouvir é o do micro da câmara, sem qualquer edição. Nada de pedais, só a guitarra ligada ao poder barbárico do amp.

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