Em Julho de 2015, Lemmy (sob a sombra da morte) liderou os Motörhead num triunfal último concerto na Península Ibérica e na Europa, no Resurrection Fest. Eis o bootleg oficial da despedida de uma lenda.
Uma das maiores lendas da música e do rock ‘n’ roll. Lemmy Kilmister, baixista e vocalista dos Motörhead, morreu no dia 28 de Dezembro de 2015. Tinha celebrado o seu 70º aniversário no anterior dia 24. O músico vinha a enfrentar vários problemas de saúde que o haviam afastado de digressões até há poucos meses e condicionando as últimas datas ao vivo da banda. A triste notícia foi confirmada pelo radialista Eddie Trunk, amigo íntimo de Lemmy, através de uma nota no Twitter, meio onde Ozzy Osbourne também expressou a sua tristeza pelo sucedido.
No Facebook acabou por ser oficialmente anunciada a morte de Lemmy. Em comunicado, a página oficial de Mötorhead notificava que o músico foi vítima de um cancro galopante (não sendo especificada a tipologia). Segundo o comunicado, Lemmy apenas teve conhecimento da situação no passado dia 26 de Dezembro e acabou por falecer em casa:
«Não há forma fácil de o dizer. O nosso destemido e nobre amigo Lemmy faleceu hoje, depois de uma curta luta contra um cancro agressivo. Soube da doença a 26 de Dezembro e desde então esteve em casa com a sua família, sentado à frente do seu vídeo jogo favorito que, desde o Rainbow, havia descido a rua. Não conseguimos expressar o choque e tristeza que sentimos actualmente. Não há palavras. Daremos mais informações durante os próximos dias. Mas para já pedimos que ouçam Motörhead alto, ouçam Hawkwind alto e ouçam a música do Lemmy ALTO! Bebam uma ou mais bebidas. Partilhem histórias. Celebrem a vida como este amável e fantástico homem celebrou. Era isso que ele quereria».
As Últimas Horas do Rock ‘N’ Roll
No dia 24 de Dezembro de 2015 Lemmy celebrou o seu 70º aniversário. O líder dos Motörhead não fez por menos e, dias antes, a festança foi grande. No Whisky A Go Go, vários pesos pesados do hard rock celebraram a data com o britânico e nomes como Slash, Zakk Wylde, Sebastian Bach, Billy Idol ou Lars Ulrich subiram ao palco da icónica sala para prestar homenagem a Lemmy Kilmister. Quiçá, a grande festa terá sido como o canto do cisne, afinal Lemmy padecia de diversos problemas de saúde e estaria ciente de se encontrar perto do fim.
As testemunhas referem que Lemmy, acabado de regressar da Europa, estava débil. Foram décadas a fumar dois maços de tabaco e a beber, pelo menos, uma garrafa de Jack Daniels por dia. O músico cortou radicalmente nos seus vícios com álcool e tabaco, mas ainda assim não teve melhorias significativas em problemas como diabetes e arritmia cardíaca. Mesmo assim, em Agosto, os Motörhead lançaram um novo álbum, “Bad Magic”, e voltaram à estrada como sempre. O manager dos Motörhead, Todd Singerman, revelou à Rolling Stone o tremendo esforço do músico para subir a palco. «Ele já não fazia soundchecks. Ele já não dava entrevistas. Ele não conseguia fazer nada. Pensar na energia e “par deles” que conseguia ir buscar para continuar a dar os concertos para os fãs, até ao último concerto há duas semanas atrás, e depois cair. Para mim, é como um dos filmes do Rocky. É a coragem no seu zénite. Ele estava a morrer. Ele não sabia, mas o seu corpo sentiria. Não lhe restava mais nada».
Dois dias depois da festa de arromba, Lemmy sentiu dores no peito e deslocou-se a um serviço de urgências, mas os médicos não encontraram qualquer problema cardíaco. Após insistência, o músico foi submetido a mais exames, pois a sua capacidade de discurso estava bastante afectada. Exames raio-X mostraram enormes manchas no cérebro e pescoço. O diagnóstico apontava para 2 a 6 meses de vida. Singerman refere que Lemmy reagiu serenamente às notícias do cancro, comentando apenas: «Oh, apenas dois meses, hein?» Ao que o médico lhe disse que qualquer outro diagnóstico seria estar a dar falsas esperanças.
Foi contratada uma equipa de enfermagem para cuidar de Lemmy no seu domicílio, que foi também equipado para cuidados paliativos. Singerman tratou de informar os familiares e amigos do músico. Antes que a grande maioria pudesse chegar a Los Angeles para o visitar, Lemmy faleceu. «O que me revolta é que ele foi visto por milhares de médicos e em hospitais por todo o mundo e ninguém deu por isto», lamenta Singerman. «Dizerem que há um cancro em estado terminal, com todos os exames que ele fez durante a vida e tudo isso? É muito duro perceber isso. Ele nem sequer teve o raio de uma hipótese. Foi: Não duras mais de seis meses»! O artigo completo, das últimas horas de Lemmy, pode ser lido na Rolling Stone.
Adeus, Lenda!
Ian Fraser “Lemmy” Kilmister nasceu em Staffordshire, Inglaterra, em 1945. Ao longo da sua carreira foi roadie da Jimi Hendrix Experience, baixista dos Hawkwind (nunca tendo antes pegado num baixo), fazendo parte do aclamado “Space Ritual”, e fundando depois os Motörhead. Com a sua banda editou 20 álbuns de estúdio, sempre com um som feroz e eléctrico, dos clássicos Ace of Spades, Orgasmatron ou Rock ‘N’ Roll aos mais recentes, como Aftershock. Os Motörhead tornaram-se verdadeiramente um estilo de vida para várias gerações de rockers, metalheads, punks, motards, rebeldes, marginais e para a contracultura em todo o mundo. Poucas bandas na história moderna podem inflamar instantaneamente a adrenalina dos fãs de música da forma que eles fizeram. Os Motörhead mudaram o curso do hard rock para sempre! Em Agosto de 2015 foi editado “Bad Magic”, aquele que se tornou o último álbum de Lemmy e dos Motörhead.
Em Julho desse ano, Lemmy passou com os Motörhead no Resurrection Fest e foi no festival galego que deu um dos últimos concertos (foi o último na Península Ibérica e o também o derradeiro concerto em território europeu) da sua carreira. Um concerto que o festival “abriu” em streaming gratuito no seu YouTube oficial, com áudio ambiente. Um documento de valor inestimável. A setlist foi: We Are Motörhead; Damage Case; Stay Clean; Metropolis; Over the Top; The Chase Is Better Than the Catch; Rock It; Lost Woman Blues; Doctor Rock; Just ‘Cos You Got the Power; Going to Brazil; Ace of Spades; Overkill.
A foto que abre o artigo é de Andreas Lawen, captada um mês antes do concerto na Galiza, na edição de 2015 do Rock Am Ring.