Um rig super simples. Rickenbackers ligados a Marshall modificados e tudo mais alto que tudo o resto…
Muito simples: «Não se mexe no som de baixo do Lemmy». A frase é do produtor Tony Platt, que trabalhou, entre outros, com nomes como Iron Maiden, AC/DC, Celtic Frost, The Cult. Numa das sessões em que trabalhou com os Motörhead viu Lemmy fazer explodir um Marshall! Quando o amp veio do arranjo, o técnico referiu a Platt que algumas coisas haviam incendiado e que, nas reparações, notara que os circuitos originais estavam “meio” estranhos e ele os ordenara correctamente. Um sacrilégio!
Ninguém sabe muito bem como se chegou ao som de baixo de Lemmy, apenas aquilo que faz: Magoa! «O amp do Lemmy foi modificado, por vários técnicos ao longo dos anos, para soar como o amp do Lemmy! Não chegas e mudas isso para um Marshall normal». Platt recorda que, ao ligar, o som do amp nem se aproximava do esperado e que a tragédia só foi impedida porque o técnico se lembrava daquilo que mudara e como revertê-lo para as modificações pretendidas.
O Marshall 1992LEM surgiu em 2008.
Claro, as modificações nunca foram, verdadeiramente, explicadas ou expostas publicamente. Afinal, esta coisa dos mitos faz parte do showbiz. Lemmy usava amplificadores Marshall JMP Superbass II, modelos da viragem das décadas 60/70, a sair por colunas Marshall 4×12 e Custom 4×15. O músico também usou, principalmente na década de 90, um poderoso Super Bass Unit de 1992 – este amp de 100 watts, o “Murder One”, daria mesmo origem ao modelo de assinatura de Lemmy que a Marshall lançou em 2008 e chamou 1992LEM. Sem grandes explorações de efeitos e pedais. O rig usual de Lemmy tratava-se do Superbass II, e posteriormente do “Murder One”, ligado à Marshall 4×12 e à 4×15, com um stack de cada lado do baterista.
Lemmy e as “assinaturas” Marshall e Rickenbacker. As colunas são uma MF280L (4×12) e 1979L (4×15).
Um dos maiores impulsionadores da imagem da marca, Lemmy celebrizou os Rickenbacker 4000, usando unidades 4001 e 4003. Em alguns dos modelos, os pickups usados na posição do braço eram Gibson Thunderbird. Aliás, no final da década de 80, Lemmy usou com alguma frequência modelos Thunderbird. Também a Rickenbacker criou uma assinatura do músico: o espectacular 4004LK, com os magníficos entalhes no corpo. O protótipo possui apenas dois pickups, os restantes três.
O 4004LK original de Lemmy tem a escala modificada, com o acréscimo de um fret. O baixo possui 21 trastes, em vez dos habituais 20. Os modelos de edição limitada foram vistos pela primeira vez em 1995, a sua produção apenas iniciou em 2000. O corpo é em walnut, os entalhes artesanais são únicos em cada modelo. O braço é maple, com a escala, de 33 1/4”, em rosewood percorrida pelos inlays estrelados. Dos 60 modelos, todos construídos à mão, só o modelo original de Lemmy possui dois pickups, os restantes possuem três de circuito passivo. Uma modificação que parece vir da época do modelo 4001 celebrizado pela frase «Born to lose, out to lunch». O traste extra é associado à execução de “Metropolis”, já desde os anos 80. Ao mesmo tempo, essa modificação também não deixa ter a certeza absoluta se o modelo é um 4001 ou um 4003, na verdade. O debate existe ainda hoje.
Nos anos 80, os Rickenbacker de Lemmy passaram a ter a escala modificada.
De resto, o truque é «everything louder than everything else». O que nos leva à filosofia simples e cativante do líder dos Motörhead. Afiada e sem papas, a língua de Lemmy era sobretudo a língua de uma estrela de rock sem merdas. Ficam aqui algumas duas suas palavras mais memoráveis.
«A morte é inevitável. Tornas-te mais consciente disso quando se chega à minha idade. Não me preocupo com isso. Estou preparado. Quando morrer, quero ir a fazer aquilo que faço melhor. Se morresse amanhã, não seria capaz de reclamar. [A vida] tem sido boa».
«As pessoas não se tornam melhores quando morrem. Apenas falam delas como se fossem. Mas não é verdade. Continuam a ser uns cabrões. A única diferença é que são uns cabrões que morreram».
«Sabes qual é a coisa mais importante na vida? Sentido de humor. Perdes isso e estás feito. Mais vale dares um tiro nos miolos».

Se te achas demasiado velho para o rock n’ roll, é porque és.
«Se queres ser uma estrela, então sê uma estrela. Ninguém quer ver o vizinho do lado em palco. Querem ver uma criatura de outro planeta».
«Quando desfias as tapeçarias da vida, apercebes-te que grande parte das pessoas que conheceste não servem nem para engraxar os teus sapatos. É triste, mas é verdade. Um verdadeiro amigo é aquele que estaria disposto a esconder-te quando és acusado de homicídio. Quantos desses é que conheces?»
«Não gosto de arrependimentos. Acho-os uma inutilidade. Não tenho tempo para arrependimentos. Já está feito, certo? Já viveste a tua vida. Não adianta querer voltar e mudá-la».
«Se não fizeste nada na vida que te beneficiasse, então tiveste um tédio de vida. O que posso eu fazer? Tudo o que é agradável nesta vida é perigoso».
«As pessoas esquecem-se que fazer sexo é divertido. É a coisa mais divertida que podes fazer sem te rires».
«Born to lose, live to win».
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