A caminho de celebrar duas décadas, o álbum de estreia dos Pelican foi alvo de remasterização. A Thrill Jockey reedita “Australasia” dia 19 de Agosto de 2022, altura para revisitar este tremendo LP.
Originalmente editado pela Hydra Head Industries (de Aaron Turner, dos SUMAC) em Novembro de 2003, o primeiro álbum dos Pelican foi gravado e misturado por Sanford Parker nos Volume Studios, em Chicago, na Primavera desse mesmo ano. A masterização coube a Nick Zampiello nos New Alliance Studios, em Boston. Agora, como já havíamos dado conta, o álbum foi revisitado para reedição que conta com remasterização de Josh Bonati e, no seu formato físico 2xLP, a mistura original estará acompanhada de uma versão de “Angel Tears” remisturada por James Plotkin. Além disso, a reedição traz consigo algumas raridades, pois permite o download de duas gravações ao vivo e até aqui inéditas e ainda várias imagens que documentam esses primeiros dias da banda, com destaque para a fotografia que inspirou o artwork de Aaron Turner.

Nos seus primórdios, os Pelican nem sempre estavam satisfeitos por não encontrarem um cantor adequado para o seu som. Tentaram durante algum tempo. Mas nunca encontraram o que procuravam. E assim a posição do cantor nos Pelican permaneceu sempre aquilo que foi: não preenchida. Bryan Herweg (baixista) explicou uma vez, em entrevista, porque é que isto é assim. Se tivessem optado por um tipo robusto, com poder de vociferação, teriam sido descritos como uma banda de metal. Se tivessem optado por um tipo mais para o magricela, teriam acabado na gaveta do emo. Os músicos não queriam nem uma coisa nem outra. E é por isso que há mais de duas décadas que é tudo puramente instrumental. Como uma banda instrumental, dizem os músicos, não sofrem com limites de género pré-estabelecidos.
E “Australasia” retém ainda intacto o potente aroma de cordas de aço, válvulas sobreaquecidas e suor dos primeiros anos desta banda fundada em Chicago, entretanto mudada para Los Angeles, que atingiu meio mundo com ondas de choque violentas: guitarras em afinações baritonais graves, riffs ultra pesados, com algumas aproximações ao sludge e experimentação nas guitarras, assente numa parede colossal de ritmo.
Normalmente, este tipo de sonoridades surgia com dificuldades de delimitação de frequências entre as guitarras e baixo, devido às afinações com tonalidades tão próximas, que terminavam por soar algo indistintas. Mas neste disco dos Pelican, cada espectro instrumental surge no seu espaço próprio, interligado com o que o rodeia. O som das guitarras, principalmente, ganha uma definição incrível que se alia ao punch da secção rítmica e torna o som monolítico, sem ser saturante. Isto é uma mais-valia considerável se pensarmos que as estruturas de composição do disco, totalmente instrumentais, assentam sobre a repetição de grandes blocos de ritmo, com poucas variações melódicas que surgem apenas a pontuar os temas, para permitir variações de dinâmica aos mesmos.
Um pensamento sobre “Pelican, Australasia”