Ao seu terceiro disco, os TGB aumentam a sua vibrante esquizofrenia sónica através de composições, arranjos e execuções verdadeiramente extraordinárias. A imersão de Sérgio Carolino, Mário Delgado e Alexandre Frazão nas catacumbas do jazz, rock, kraut e psicadelismo dos anos 70, resulta num trabalho de colossal assombro.
No seu terceiro álbum, os TGB já não podem ser simplesmente definidos pela instrumentação pouco usual de uma tuba, uma guitarra e uma bateria. A música idiossincrática que acompanha o trio ouve-se e sente-se «sem fronteiras e inconquistável», como os próprios Sérgio Carolino, Mário Delgado e Alexandre Frazão dizem. Os três misturam jazz, rock, folk, country e muito mais de formas impossíveis de categorizar como “fusão”. Os TGB expandiram essa noção de tal forma, e com resultados tão únicos, que a fizeram implodir, inventando o seu próprio «espaço de intercepção entre a criatividade contemporânea e o pensamento crítico».
Na capa intui-se visualmente os Led Zeppelin, os Pink Floyd e os Beatles, mas em “III” há, principalmente, uma revisitação explícita do universo oculto do rock, jazz, jazz-rock e rock-jazz, do psicadelismo e do kraut dos anos setenta. Sendo isto feito por verdadeiros mestres, as consequências são absolutamente extraordinárias. A tuba multifónica de Carolino é uma maravilha, o shredding de Delgado não deixa de surpreender, o guitarrista parece mesmo questão de alargar as suas competências e potencial infinito, deixando-nos embasbacados, e os movimentos de bateria de Frazão são arrasadores. “Red Manalishi”, logo a abrir o álbum, terá que ser o tema jazz mais pesadão de sempre. A guitarra de Mário Delgado, com slide e reverse delays, evoca a tundra norte-americana, mas quando a bateria de Alexandre Frazão e a tuba de Sérgio Carolino, frenéticas, se lhe juntam, emerge a sombra de John McLaughlin e da Mahavishnu Orchestra nuns épicos oito minutos de fusão.
Originalmente editado no dia 18 de Janeiro de 2019. Gravado por Pedro Vidal nos estúdios de Vale de Lobos (misturado depois nos Auditiv), “III” é propulsivo, shredder e exótico. É surpreendente e divertido ouvir a forma como Carolino desdobra o seu instrumento para cumprir o papel de um baixo ou para conduzir melodicamente os temas e até a forma como soa pesada ou suave, simples ou extravagantemente multifónica. Se nem sempre o álbum é directo para o ouvinte, como sucede nesse tema de abertura, em “Flint”, “Sete Portas Mal Fechadas” ou “Knife To Meet You”, não deixa de ser entusiasmante procurar desvendá-lo.
A banda, nos momentos calmos como “Starless” ou nos explosivos como “Clockwork” (Mãe do Céu, Frazão!) revela um dinamismo e coesão super-humanos. Algo ainda em maior evidencia pela forma como o revestimento sonoro instrumental soa cru. O terceiro álbum do trio, obedece à sua sugestão de matemática mágica e roça a perfeição.
3 pensamentos sobre “TGB III”